“Ele viveu a vida inteira com a gente e ele não existe. A pessoa que existe, infelizmente, é uma pessoa fria, calculista”, afirma Minervina Lanzane, irmã de Márcia.
“Por que você tirou a vida da tua mãe? Por que você tirou? Mas ele não respondeu nada”, conta Mariusa Lanzane, irmã de Márcia.
Na última segunda-feira (8), elas ficaram bem diante do jovem que viram crescer. Minervina e Mariusa procuravam pelo sobrinho Bruno Eustáquio Vieira, 26 anos, desde dezembro de 2020. Para a polícia, ele é o responsável pelo crime — e imagens provam o envolvimento. Veja no vídeo acima.
Em 21 de dezembro de 2020, Bruno estava com a mãe, Márcia Lanzani, na casa onde eles moravam, no Guarujá, litoral de São Paulo. Ele vai para cima de Márcia, no quarto, e aperta o pescoço dela. Depois, ele volta para a sala, senta no sofá e abre uma cerveja. Passa a noite toda com o corpo da mãe em casa.
No dia seguinte, sai cedo e vai para a academia. Retorna uma hora depois, passa pelo quarto da mãe, simula desespero e liga para polícia e para os parentes para dizer que tinha encontrado a mãe morta.
Bruno chegou a se formar em Direito, mas não trabalhava e, segundo as tias, queria um padrão de vida que a mãe não podia dar. As tias comentam o momento em que começaram a desconfiar que ele estava envolvido na morte da mãe.
“Foi na hora que eu estava no IML, que liberaram o corpo, que [soubemos que a causa da morte] tinha sido asfixia mecânica. A gente tentou entrar na casa para ver as câmeras e o Bruno não deixou, de jeito nenhum”, destaca Mariusa.
Bruno tinha escondido o equipamento que armazenava as imagens no fogão da casa, dentro do forno. A polícia teve dificuldades para desbloquear o material e ter acesso ao conteúdo. Quando conseguiu ver as imagens e pedir a prisão, em maio de 2021, Bruno já não estava mais no Guarujá. Tinha fugido com o carro da mãe. As tias queriam saber para onde, e tiveram uma ideia para começar a procurar por ele.
“A gente montou a página de justiça e começamos a pedir para o pessoal que compartilhasse para que mais pessoas vissem a imagem dele e denunciassem ele”, pontua Mariusa.
A polícia passou a rastrear Bruno. Viu que ele passou por Cubatão, São Paulo, Guarulhos, até que o carro parou de aparecer no radar. Quando as tias pegaram as correspondências da casa da irmã, descobriram a primeira pista.
“As multas estavam vindo tudo atrasado. Dali em diante começou a chegar uma atrás da outra, no mesmo endereço”, relata Minervina.
A vaga de estacionamento onde Bruno levou as multas ficava em frente a uma república de estudantes. Ele começou a ser monitorado pela polícia. A pista era quente: Bruno realmente estava morando na república — e já tinha também uma namorada.
As tias contam que tentaram contato com ela, mas ela não respondeu.
“Depois, a gente soube que a polícia foi lá e ele fugiu.”
As tias encontraram um perfil suspeito nas redes, com poucos seguidores, com o nome de um personagem que elas sabiam que Bruno gostava bastante. Elas foram checar o endereço desse perfil e viram que dava em Goiânia, perto, de novo, de um local com repúblicas de estudantes.
“Fomos para lá. A gente chegou a falar com a dona de uma das repúblicas, só que não tinha só uma. Mas depois a gente ficou sabendo que realmente ele estava por lá e que ele também fugiu.”
Só que elas não pensavam em parar. Dividiam o tempo entre trabalho (as duas são faxineiras) e depois partiam para a investigação.
Rosto de Bruno no Linha Direita e nova pista
Em maio deste ano, o rosto de Bruno — em suas várias versões de fugitivo — foi parar no Linha Direta, da Globo. Na semana passada, chegou para as tias um sinal de onde o sobrinho poderia estar: Belo Horizonte.
É que a namorada do Bruno, que é de Curitiba, estava em Minas. As tias começaram a fuçar perfis que eram visitados por ela e, em um desses perfis, encontraram um vídeo.
“Era um áudio: ele brincando com o gato e a voz do Bruno, só que adulterada. Não tinha como negar que era do Bruno. Mesmo com a mudança na voz”, conta Mariusa.
Uma amiga entrou na jogada e emprestou o carro. As duas partiram do Guarujá rumo a Belo Horizonte — quase 700 quilômetros de distância. Elas chegaram de madrugada e dormiram no carro.
Ao amanhecer, procuram uma loja de pet em Belo Horizonte que comentou no vídeo do sobrinho com os gatinhos.
Com o mandado de prisão em uma mão e a foto do sobrinho na outra, foram conversar com a responsável pela primeira loja visitada.
“Mostrei a foto e ela disse: ‘Conheço! É ele mesmo!’. Falamos que éramos tias dele, que estávamos à caça dele há três anos e meio, mas não tinha o endereço. E ela falou: ‘Eu tenho’.”
A polícia foi avisada e o trabalho no local dos fatos se deu através de campana.
“Tinha duas saídas. A gente ficou de olho na saída de baixo e os policiais na saída de cima. Cinco minutos depois, ele saiu. Aí acelerei o carro, fiquei buzinando”, afirma Mariusa.
“A gente conseguiu se aproximar dele e efetuar abordagem. Quando ele reconheceu que as tias estavam próximas e que possivelmente ele seria preso, ele tentou se desvencilhar dos militares e evadir”, conta um porta-voz da Polícia Militar-MG.
Ele foi, então, contido pelos policiais.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo disse que, na época em que a prisão de Bruno foi decretada, chegou a fazer buscas e que as investigações continuaram para realizar sua prisão.
Mas foi a obstinação das tias que levou Bruno à cadeia. Ele vai a júri popular. “É muito triste de ver. Era algo que a gente não queria”, conclui Mariusa.
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