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Atleta relata dificuldades para se reerguer após morte da mãe: ‘uma conversa pode mudar tudo’

today30 de setembro de 2022 11

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“Eu era uma criança e não sabia o que ela estava sofrendo, sequer tinha noção do que era isso”, disse o nadador Lucas Sauro, que perdeu a mãe aos 10 anos. Clara Barbosa, então com 37 anos, cometeu suicídio em 7 de novembro de 2007 e, desde então, o atleta de Santos, no litoral de São Paulo, trabalha o psicológico com profissionais para se reestruturar.

Ao g1, ele ressaltou a importância do setembro amarelo, momento em que o tema vira pauta de debates. Naquela ocasião, Lucas disse que a mãe passava por um momento de depressão e, se as pessoas do entorno soubessem como agir, o rumo da história poderia ter sido outro.

“Não é uma brincadeira, não é uma frescura. Essa doença que pode tirar vidas, chegou até a minha mãe. Tirou minha família, que era tudo para mim”, disse Sauro

Foi neste mês, inclusive, que usou as redes sociais para contar esse triste capítulo de sua história. “Eu acordei pela manhã e parecia que minha mãe não tinha dormido direito. Ela pediu para eu buscar pão e escolher algum jogo de vídeo game na feira”.

O atleta, hoje com 24 anos, contou que demorou pouco mais de 20 minutos pra voltar para casa. Assim que se aproximou da residência, amigos e familiares já o esperavam para acolhê-lo. A mãe, Clara, havia sido levada ao hospital, mas não resistiu.



De acordo com Sauro, a mãe vivia um longo período de depressão, que começou após a retirada do útero, quando sofreu um aborto espontâneo aos 34 anos. “Ela nunca mais foi a mesma pessoa. Chorava muito, brigava com meu pai também”.

O atleta contou que a mãe também passou a exagerar na bebida alcoólica. “Para mim era só uma tristeza [que a mãe vivia]. Tentava abraçá-la e ela dizia que ficaria tudo bem. A gente não sabe o que fazer, mas também não estava ao meu alcance”, lamentou.

Após a morte da mãe, o pai de Lucas também entrou em depressão em uma espécie de ‘efeito dominó’. “Teria sido diferente se ela tivesse tido com quem conversar. Isso faz toda a diferença”.

“A minha vida foi muito dura e difícil, já não tinha mais a minha base e não conseguia sentir mais nada”. O jovem morou com o pai até os 16, porém, o homem lidava com o alcoolismo e a depressão pela perda da esposa. Sauro, então, passou a receber ajuda de vizinhos para se alimentar, e começou a trabalhar. Porém, o jovem passou por um processo de anos imerso na tristeza e do isolamento.

O atleta diz que o sentimento mudou quando passou a contar com o apoio de amigos e, sempre que precisava, conversava sobre o assunto. “Eu não deixava essa dor ficar dentro de mim”.

Sauro lamenta não ter abraçado ou tentado ajudar mais a mãe na época e afirma que uma conversa poderia ter mudado tudo. “Não é uma brincadeira, não é uma frescura. Essa doença que pode tirar vidas, chegou até a minha mãe. Tirou minha família, que era tudo para mim”, lamenta.

Ex-vendedor de balas que não tinha o que comer realiza sonho de ser um nadador profissional — Foto: Arquivo pessoal

Suicídio, um tabu a ser desmistificado

O psicoterapeuta, Anderson Martiniano, aponta que diversos comportamentos antecedem o suicídio, que pode atingir pessoas com perfis variados. Ele ressalta, porém, que tem ocorrido um aumento no número de casos na população com idade entre 15 e 44 anos. “Às vezes o suicídio é um ato impulsivo, outras ele pode ser planejado”.

Segundo Martiniano, um dos maiores fatores de risco é a tentativa de suicídio pregressa, logo em seguida há o histórico de transtorno mental. O contexto familiar também pode ter influência nessa decisão, como casos de violência, desamparo ou relações mais frias dentro de casa. “A questão do bullying também é muito forte, a humilhação e depreciação do indivíduo”.

O psicólogo explica que não necessariamente um suicida tem um transtorno psiquiátrico. Segundo ele, às vezes uma questão da perda de algum ente querido pode servir de gatilho.

O profissional explica que o primeiro sinal de alerta é a menção da ideia de morte e uma falta de esperança. Depois disso, a pessoa pode apresentar uma mudança de comportamento contínua. “Temos que partir do ponto de que eles sentem uma dor psicológica intolerável, onde a pessoa se sente incompetente, desesperançosa e com aflição e angústia tremendas”.

“A grande maioria comete suicídio quando não é ouvida. Devemos sempre ficar atentos”, diz o psicoterapeuta.

Para o especialista, a diferença pode ser feita através da ajuda e do amparo de uma rede de apoio, seja com psicólogos, terapeutas ocupacionais e profissionais do Centros de Valorização à Vida (CCVs).

Segundo Lucas Sauro, o processo de luto pela mãe foi um dos mais desafiadores que já viveu. — Foto: Reprodução/Facebook

Apesar da mãe dele ter lidado muito tempo com a depressão, Sauro contou que a maior parte da infância ao lado dela foi feliz, com uma relação baseada na sinceridade e companheirismo. “Meu pai trabalhava fora e a gente passava muito tempo junto”, lembrou.

O atleta afirma que a mãe era uma pessoa guerreira, alegre e que amava dançar. “Para mim ela nunca deixou de ser um exemplo, porque me deu conforto, mesmo estando muito mal. Ela apenas precisava de ajuda”.

Se hoje Lucas Sauro é um nadador de águas abertas muito se deve ao incentivo da mãe, que era formada em Educação Física. “Sofri muito, mas o esporte é minha válvula de escape, onde eu consigo transferir tudo o que eu tenho em mim para o esporte”, ressalta.

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Por: G1

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