Uma moradora de Praia Grande, no litoral de São Paulo, criou uma empresa para ajudar mulheres a perderem o medo de dirigir. A ideia surgiu após Pamella Costa, de 40 anos, ter uma crise de pânico ao ter o carro roubado enquanto saía da garagem de casa. Segundo a autônoma, em dois anos, mais de 670 mulheres já passaram pelo treinamento na Baixada Santista.
Ao g1, Pamella contou que, na ocasião, o criminoso apontou a arma para o rosto dela, a jogou no chão e fugiu com o carro. Após recuperar o veículo, a autônoma sofreu uma nova tentativa de assalto e, assim que fugiu, ficou imóvel, não conseguiu mais dirigir por um tempo.
“Eu tive que procurar tratamento psicológico e psiquiátrico. Tomava remédio para me controlar, porque eu não entrava mais no carro. Quando eu entrava, era com muito medo, minhas mãos suavam e eu tinha a sensação de morte”, explicou.
Pamella disse que só conseguiu resgatar a independência de ir e vir após entender que era normal e que outras pessoas também passavam pela mesma situação. Com isso, estipulou uma meta que deu início ao projeto “Mulheres no volante 013”: “se eu voltar a dirigir vou ajudar outras pessoas”.
Dito e feito, após voltar a dirigir, Pamella saiu do seu cargo como administradora de cozinha e criou um treinamento voltado a mulheres que já possuem a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), mas, por algum motivo, como traumas ou falta de prática, não conseguem dirigir.
“Eu sou grata por esse trauma. Sem ele, eu nunca poderia imaginar que existiam pessoas como eu. Hoje, eu conheço vidas, pessoas e histórias. Todos os dias sentam sete a oito mulheres no meu carro e cada uma com a sua história e vencendo o seu medo. Eu sou muito feliz em fazer o que eu faço”, afirmou.
O primeiro passo é fazer uma avaliação, onde Pamella se dirige até a cliente e, em um passeio de carro, entende os medos, avalia se há necessidade de acompanhamento psicológico e estipula a quantidade de aulas necessárias.
Ainda nesse primeiro momento, a autônoma coloca as mulheres para dirigir. O carro também possuí embreagem e freio do lado do passageiro, com o intuito de deixar a pessoa que está no volante mais segura para enfrentar o medo.
Pamella diz atender mulheres que ficaram muitos anos sem dirigir e querem recomeçar. São pessoas com traumas de acidente ou que não se sentem confiantes.
A instrutora acrescentou que a pandemia também influenciou as mulheres a conquistarem independência no volante, principalmente após perder os maridos para Covid-19.
“Eu tenho alunas com filhos autistas, que fazem aula para poder levá-los para tratamentos. Alunas, nas aulas, que viram para mim e falam: ‘você não sabe’, e me dão aquele depoimento. Eu tenho vários depoimentos e é o meu melhor salário“.
Pamella criou um treinamento voltado a mulheres que já possuem a CNH, mas, por algum motivo, não conseguem dirigir — Foto: Arquivo Pessoal
Pamella disse que muitas pessoas duvidaram que a empresa daria certo, então, precisou provar que era capaz. No trânsito, a instrutora e alunas são alvo de piadas constantemente, principalmente pelo nome “Mulheres no volante”. “‘Tinha que ser mulher’, ‘mulher no volante, perigo constante’. Eu falo: Não, mulher no volante, segurança constante”.
“Não teria outra coisa para eu fazer nessa vida. Eu sou muito grata por ter essa empresa, onde vejo diariamente mulheres indo e vindo, se tornando independentes. Não tem preço que pague ajudar outra mulher a ser o que ela tanto sonhou. Eu não tenho alunas, eu tenho amigas para uma vida. Mulheres que me perguntam diariamente como estou e mandam notícias sobre sua nova vida”.
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