Filha de um vendedor de livros e uma professora de escola pública, Flávia afirmou que sempre almejou mais do que poderia ter financeiramente, mas contou com ajuda dos pais para absorver conhecimento. Na infância, chegou a cursar inglês, francês e ballet de forma gratuita.
“Minha mãe entrava nas escolas e pedia para falar com o gerente. Ela pedia uma bolsa para mim e comprovava a renda da família. Minha vontade era de ir além. Eu queria estudar”, disse.
Flávia contou que sempre foi determinada e sonhou alto. O desejo de morar nos EUA, inclusive, surgiu em meio aos corredores do Centro Cultural Brasil Estados Unidos, em Santos, onde cursava inglês. “Eu era rata de biblioteca. Sabia que o estudo me tiraria daquela vida precária“.
A advogada cursou letras na Universidade de São Paulo (USP) e se inscreveu para uma bolsa de estudos nos EUA com 20 anos. Ela sequer tinha passaporte quando recebeu a notícia da aprovação para estudar inglês durante um ano na Golden West College, na Califórnia, mas partiu atrás do sonho.
Depois de concluir a bolsa, o objetivo dela era continuar nos EUA. O primeiro passo foi ampliar o visto de estudante com um curso técnico em Jornalismo, com duração de dois anos.
Passado esse período, e para ganhar mais dois anos no país, tentou transferir o técnico em Jornalismo para uma graduação em universidade, mas não tinha o dinheiro para as taxas e se viu sem saída. A volta para o Brasil passou a ser dada como certa.
Flávia e o pai, que trabalhava como vendedor de livros quando ela era criança — Foto: Arquivo Pessoal
Flávia se via cada vez mais distante da terra do Tio Sam, mas, após um pedido do namorado norte-americano, resolveu permanecer no país de forma ilegal. Nesse meio-tempo, enquanto se articulava para regularizar a situação, descobriu que estava grávida.
“Eu não tinha feito a transição do visto de estudante para o visto de casamento, muita gente falava para eu falsificar documento para conseguir a legalização de status, mas eu não tinha coragem“.
Flávia e o namorado casaram, mas, ainda no começo da gravidez, ele a deu duas opções: ter o bebê ou continuar casada. Ela seguiu com a gestação de Lucas e contou com apoio de amigos e conhecidos.
“Morei na casa da coordenadora de estudantes internacionais, de amigas de classe e amigos da igreja. Eu pulava de casa em casa”, lembrou ela, que evitava comentar sobre as dificuldades com a família no Brasil.
“Meus pais pediam para eu voltar para o Brasil que eles dariam o apoio que eu precisava, mas sou muito orgulhosa. Não queria voltar com o rabo entre as pernas e grávida. Todo esforço, as bolsas de estudos, nada valeria a pena se eu voltasse”, disse.
Lucas nasceu na Califórnia e Flávia estava morando de favor na casa de um amigo. Com o filho recém-nascido, ela buscou apoio em um abrigo, onde ficou por duas noites até ser resgatada por uma colega.
Flávia escreveu um capítulo sobre o visto K-1 em um livro lançado recentemente nos Estados Unidos — Foto: Arquivo Pessoal
“O banheiro era nojento. Ela [amiga] ficou com pena de mim quando soube que estávamos no abrigo”, disse a advogada. Para se manter, ela começou a trabalhar como faxineira e baby-sitter, ganhando 200 dólares para cuidar de duas crianças e do próprio filho.
“A agência que me contratou tomou vantagem da minha situação vulnerável, mas eu não tinha como escolher um outro trabalho. Precisava me manter e levar meu filho para a jornada. Eu sabia que podia muito mais, mas naquele momento não”, relembrou.
A situação de Flávia melhorou quando ela conseguiu os documentos para permanecer nos EUA – só após o nascimento do filho. Com a ajuda da ex-sogra, ela deixou um currículo em uma agência de empregos e foi atraída por uma vaga de assistente jurídico.
A brasileira conseguiu a oportunidade, mas não tinha a mínima experiência na área. Nos 12 anos em que esteve na empresa, Flávia foi recepcionista, serviu café, tirava cópias, foi promovida a supervisora, gerente e, finalmente, advogada.
“Toda vez que eu era promovida eu sabia que era hora de estudar de novo”.
Apaixonada pela profissão, Flávia se tornou uma das principais advogadas de imigração nos EUA. Os principais clientes são os brasileiros, seguido de franceses. “É possível fazer todo e qualquer processo de imigração de forma remota, estou acostumada”.
Ela é advogada da influencer Virgínia Fonseca, do cantor Zé Felipe, do Neguinho da Beija-Flor, Mumuzinho, Carlinhos Maia, Rafinha Bastos, Jetlag, CatDealers e Alan Nuguette. Além deles, já atendeu a Ivete Sangalo, Gian e Giovani e a atriz Suzana Pires.
“Atendo muitos artistas e pessoas envolvidas com entretenimento, então, não raro, chegam convites incríveis e irrecusáveis para mim”.
Apesar de atender famosos, Flávia enfatizou que os artistas dão visibilidade ao trabalho dela, mas que ela também atende empresários, médicos, autônomos, artistas e atletas que não são conhecidos do público. “São histórias fantásticas, que me orgulho muito de fazer parte”.
A advogada conseguiu se estabelecer profissionalmente e, hoje, tem quatro escritórios ativos no EUA, um em Orlando, na Flórida, e os outros três na Califórnia, em Beverly Hills, San Diego e em Newport Beach.
Flávia desde nova sempre teve interesse pelos estudos, pois sonhava em conhecer e viver em um mundo diferente — Foto: Arquivo Pessoal
Publicar comentários (0)