Eliane nasceu em Pariquera-Açú e, aos 7 anos, foi morar no sítio em Cajati. Esse foi o lugar onde ela tem as melhores lembranças da infância. O gosto pela culinária nasceu na adolescência. “Meus pais sempre cozinharam. Eu via muito amor naquilo que eles faziam. Parecia que era a melhor comida do mundo, o jeito de eles cozinharem. E eu queria isso para mim. Eles faziam com tanto carinho e amor”
As primeiras receitas, ela fazia escondida dos pais. Ela esperava os dois saírem para trabalhar e tentava fazer preparos no fogão a lenha. A receita preferida era a torta de palmito. Ela lembra que, certa vez, colheu o palmito junto com os irmãos e preparou a torta. No final, esquece do fermento. Mesmo assim, a torta terminou antes mesmo dos pais chegarem em casa.
“Minha mãe com a minha avó, elas faziam muito a torta de palmito. Essa é a que traz as raízes da gente. Quando a gente quer se encontrar, a gente se liga e minha mãe faz a torta para a gente”, conta. “Às vezes, eu procuro sentir o sabor daqueles pratos”
Torta de palmito é tradição da família da chef Eliane Wahl — Foto: Mariane Rossi/g1
Por estar longe das escolas, Eliane só começou a estudar aos 10 anos. A vida na zona rural impediu que ela conseguisse conciliar o trabalho no campo com os estudos. Por isso, ela teve que deixar de frequentar a escola. Aos 36 anos, Eliane voltou aos bancos escolares e ingressou na Educação de Jovens e Adultos.
Formada, ela foi realizar o sonho de ter uma faculdade. Elaine fez parte da primeira turma do curso de Gastronomia do Centro Universitário do Vale do Ribeira (UNIVR).
“Foi que eu vi que era o que eu queria realmente. Comecei a desenvolver os produtos da região. É a minha paixão. Pode me pedir qualquer coisa, mas eu vou dar o meu toque, com produtos da região”.
Chef Eliane e a mãe Irineide, que sempre provou as receitas e torceu pelo sucesso da filha na cozinha — Foto: Mariane Rossi/g1
Ela conta que encontrou resistência de outras pessoas quando começou a criar receitas com alimentos cultivados no Vale do Ribeira. A região é a principal produtora de bananas do Estado de São Paul, com a maior área em extensão com o plantio de bananeiras, cerca de 35,6 mil hectares. Depois, vem o palmito de pupunha com mais de 7 mil hectares cultivados na região.
“Foi difícil, você tentar colocar na cabeça das pessoas que dá para trabalhar e continuar no Vale. Muitas pessoas terminam (a faculdade) e querem ir para fora. Eles não sabem o valor que o nosso Vale tem”, diz Eliane. Ao criar as receitas, ela imagina como fazer os ingredientes que vem da sua terra brilhar no prato das pessoas. “Eu peguei amor pelos produtos, por cada produto”, diz ela.
Palmito cristalizado, criação da chef de cozinha Elaine Whal — Foto: Mariane Rossi/g1
Eliane já criou dezenas de receitas com ingredientes como a banana, o palmito, muçarela de búfala e a cataia, que uma planta nativa da Mata Atlântica, em especial nas regiões montanhosas e costeiras do Vale do Ribeira. Ela também elabora receitas com parte desses alimentos que seriam descartadas, visando a sustentabilidade e a economia criativa.
Uma das receitas mais famosas de Eliane é o palmito cristalizado. Ele é doce, em formato de cubos e muito parecido com as frutas cristalizadas, mas feito com palmito. Ela ainda prepara a torta de palmito e o brigadeiro de palmito. Ao g1, Eliane ensinou a fazer o pudim de palmito, outra receita que desperta o interesse das pessoas (confira a receita abaixo ou no vídeo no início da reportagem).
Brigadeiro de cataia, criado pela chef Eliane Wahl — Foto: Mariane Rossi/g1 =
O brigadeiro de cataia e o licor de cataia também fazem sucesso. Neles, é possível sentir o sabor adocicado com um toque amarguinho da mistura de cachaça com folhas da cataia. “Cada amiga gosta de uma coisa diferente. O carro-chefe é o cristalizado [palmito] e o licor de cataia”.
Hoje, Eliane mora em Registro, mas não vive totalmente da gastronomia. Ela prepara menus completos para eventos e participa de feiras, onde expõe e vende seus produtos. Mas, ela sonha em expandir os negócios e viver apenas da sua paixão, a culinária do Vale do Ribeira.
“Eu gosto de fazer os pratos com os produtos da região, banana, palmito, os chás. Eu gosto de ir direto no produtor, pego diretamente com eles para fazer meus pratos”.
Pudim de palmito, da chef Eliane Wahl — Foto: Mariane Rossi/g1
- 450 gramas de palmito cozido no vapor
- 200 ml de água
- 100 gramas de leite em pó
- 80 gramas de açúcar
- 4 ovos
- 1 xícara de açúcar
- 1/2 de água
Cozinhe o palmito no vapor até ficar bem mole. No liquidificador, coloque os ovos, a água e o palmito cozido. Bata até obter um creme. Em seguida, adicione o açúcar e o leite em pó e misture novamente.
Para fazer a calda, leve o açúcar ao fogo baixo em uma panela até derreter, mexendo com uma espátula, até formar um caramelo dourado. Coloque a água fervente com cuidado. Misture a calda com a espátula até ficar lisa. Transfira a calda para a forma com um furo no meio. Segure e gire a fôrma para caramelizar a lateral.
Despeje a massa do pudim na fôrma e leve em banho-maria por cerca de 40 minutos. O pudim estará pronto quando a superfície estiver firme, mas com o interior ainda cremoso. Retire do forno, deixe esfriar e leve para a geladeira por cerca de 3 horas. Para desinformar, cubra a forma com um com borda e vire de uma só vez. Deixe a calda escorrer sobre o pudim e sirva a seguir.
Chef de cozinha Eliane Whal e o pudim de palmito, criado por ela — Foto: Mariane Rossi/g1
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