Albino Ongaratto saiu de Bento Gonçalves em 1960 para se aventurar em Jacupiranga, no Vale do Ribeira. Ele iniciou a sociedade em um restaurante, localizado no km 477 da rodovia Régis Bittencourt, e trouxe toda a família para morar na cidade.
Junto com ele, Albino levou o típico churrasco gaúcho. A casa trabalhava com sistema de servir conhecido como espeto parado, com cinco variedades. As carnes eram assadas no espeto, que ia diretamente para a mesa. Ali, o espeto ficava parado e o cliente podia se servir. Cada suporte tinha espaço para três espetos, que serviam até quatro pessoas.
Albino Ongaratto, que inventou o sistema de rodízio de carnes no Brasil — Foto: Arquivo Pessoal/Vinicius Ongaratto
Em agosto de 1964, um acontecimento mudou rotina do restaurante. Todos os anos, a Festa Bom Jesus de Iguape reunia milhares de romeiros. Eles partiam de vários cantos do país para Iguape, pagar promessas e celebrar o dia do santo. Durante o trajeto, muitos aproveitavam para fazer uma parada na churrascaria 477, em Jacupiranga, seja para abastecer o veículo ou para almoçar.
“Na época, o restaurante era menor, deu muito movimento naquele dia. O garçom começou a perder os pedidos. Ele não sabia mais quem tinha pedido o quê. Não existe buffet como hoje. Cada porção era levada em uma mesa. Cada espeto era de uma pessoa”, conta Vinicius Ongaratto, atual proprietário do local. Albino era irmão do bisavô de Vinicius, por isso, o chama de tio Albino.
Quem pediu linguiça, recebeu galeto. Quem pediu galeto, recebeu carne. O garçom começou a trocar os pedidos e a criar uma confusão no restaurante. Nervoso, ele pediu ajuda à Albino. Com muita sabedoria, o dono teve uma grande ideia. Ele mandou o garçom colocar todas as carnes, frangos e lombos em uma grande travessa e passar em todas as mesas.
Foto antiga da Churrascaria 477, em Jacupiranga — Foto: Arquivo Pessoal/Vinicius Ongaratto
“Ele [garçom] chegava na mesa, desesperado, e ele colocava um pedaço de carne. Pela ira do povo, ele acabou colocando um pouco de cada coisa. E, assim, ele foi atendendo. Quem foi entrando, foi recebido nesse sistema, que era a única forma de atender todo mundo”, conta Vincius.
Se antes o preço do churrasco era cobrado por espeto, agora, com a novidade, os clientes não sabiam quanto teriam que pagar. O dono resolveu, então, fixar um único valor para o cliente comer à vontade. E, assim, nasceu o rodízio de carnes.
“Era mais rápido, mais prático. O pessoal comia um pedacinho de cada carne. Ele viu que aquilo ali era muito mais simples de trabalhar. Naquela época tinha muito movimento. O restaurante estava sempre lotado. Era uma forma de atender mais rápido com mais qualidade”.
Após a invenção do novo sistema, os cortes, as técnicas e os acompanhamentos foram sendo aprimorados. Albino e o irmão trouxeram vários gaúchos para trabalhar na churrascaria e aprender a nova forma de trabalhar com as carnes. Eles criaram seus próprios restaurantes e difundiram a cultura do rodízio.
Rodízio de carnes foi criado na Churrascaria 477, em Jacupiranga — Foto: Mariane Rossi/g1
Em 1966, Albino foi morar em Curitiba (PR), onde abriu a primeira churrascaria da capital chamada Blumenauense, levando o sistema para o Paraná. Depois disso, a família Ongaratto abriu churrascarias como a Paiol, Pertutti, Devons, Jardins Grill, entre outras.
O novo sistema de atendimento foi se espalhando e chegou ao seu ápice de expansão na década de 90, quando conquistou todo o Brasil e se tornou conhecido e apreciado até nos Estados Unidos.
“Em 90, tivemos uma década muito boa, uma glamourização das churrascarias, com a Fogo de Chão chegando nos Estados Unidos. Era uma coisa glamurosa em São Paulo. Estava tendo aquele clima, corte novos aparecendo. Era algo que estava em pleno vapor”.
Museu do Rodízio foi criado para manter a história da família e da invenção do sistema em Jacupiranga, SP — Foto: Mariane Rossi/g1
O título para a Churrascaria 477 também veio nessa época. “Quando foi feito o levantamento de como o sistema foi criado, toda a vez que chegavam em uma churrascaria, o pessoal falava que tinha aprendido com o seu Albino. Eles foram encontrar o tio Albino em Curitiba. Ele já tinha várias churrascarias e ele contou a história de como aconteceu”, diz Vinicius.
Os avós e pais de Vinicius mantiveram a tradição por todos esses anos. O rodízio na churrascaria só parou durante a pandemia. Durante a semana, o restaurante funciona com o sistema de buffet. Já aos domingos, é o tradicional dia do rodízio.
Vinicius, que herdou o gosto da família pelo churrasco, hoje está no comando do estabelecimento. Para eternizar a invenção, ele criou um Museu do Rodízio dentro da churrascaria., em Jacupiranga. No local, há fotos e objetos antigos que contam o surgimento desse sistema famoso no país todo.
Com admiração e brilho nos olhos, ele fala da luta e das conquistas da família Ongaratto. Ele trabalha para que essa história, regada a alegira, união e comida boa, seja sempre lembrada e perpetuada.
“É uma responsabilidade muito grande, mas um orgulho maior ainda de estar dando continuidade ao trabalho tão bonito que foi o trabalho deles”.
Vincius Ongaratto herdou a história e a tradição da família no ramo das churrascarias — Foto: Mariane Rossi/g1
Uma das receitas mais tradicionais da casa é a polenta caseira da família Ongaratto. O preparo leva mais de um dia. O g1 conversou com a Janeide Sampaio, cozinheira e gerente da churrascaria, que sabe preparar a receita há anos. Segundo ela, a polenta não pode falar na hora do churrasco do restaurante (veja os detalhes da receita abaixo ou no vídeo no início da reportagem).
- 500 gramas de fubá médio
- 500 gramas de fubá fino
- 3 dentes de alho
- 1 colher de sopa de sal
- 1 litro de água para hidratar
- 1 litro de água para o cozimento
- Óleo para fritar
Modo de preparo: Misture os dois fubás com 1 litro de água até ficar totalmente líquido. Deixe descansar. Leve uma panela grande ao fogo, coloque o óleo e o alho. Frite até dourar. Adicione a água para o cozimento e adicione o sal. Em seguida, coloque a mistura com o fubá. Mexa até ferver. Abaixe o fogo e tampe a panela. Deixe cozinhar por 1 hora. A cada 15 minutos misture um pouco.
Após 1 hora de cozimento, vire a polenta em uma assadeira untada com óleo. Deixe esfriar e coloque na geladeira por 24 horas. Após esse tempo, a massa deve ficar firme. Corte em cubos e leve para fritar no óleo. Sirva em seguida.
Polenta da família Ongaratto é muito pedida para acompanhar as carnes na Churrascaria 477, em Jacupiranga — Foto: Mariane Rossi/g1
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