A decisão é da juíza Barbara Donadio Antunes Chinen, da 3ª Vara do Foro de Registro, no interior de São Paulo. De acordo com a sentença, Roberto Boni é acusado de ofender a jornalista publicamente, em um vídeo publicado no canal dele no YouTube, o Canal Universo, em outubro de 2018.
Boni chegou a ser condenado à dois anos e seis meses de detenção, mas a pena acabou convertida na restrição de direitos. Desta forma, ele terá de pagar, além da indenização, cinco salários mínimos, que têm valor de aproximadamente R$ 6.500, em prestações pecuniárias [à vítima], taxa judiciária – não especificada – e prestar serviços à comunidade
“Ela faz jus ao nome dela, né? Leitão“, disse Roberto Boni, segundo descrito no documento. “[…] No caso dela, uma terrorista aí, presa, assaltante do Banespa lá no Iguatemi, em São Paulo. Estava com um [calibre] 38, assaltando o banco”. Pouco depois, ele teria dito, ainda, que a jornalista “incorpora o leitão, o corpo suíno“.
Ao g1, Roberto Boni afirmou ser “vítima de notícias equivocadas”, em relação ao próprio discurso, quando falou sobre o suposto envolvimento de Miriam no crime. “O assalto ocorreu, mas a jornalista não fazia parte, conforme apurado, e vim a saber depois. Vejo tudo de forma lamentável”, complementou. (Confira o posicionamento completo dele no fim desta reportagem).
Segundo a sentença, Miriam afirmou, durante uma audiência, que “nunca praticou nem praticaria um roubo, que nunca segurou uma arma de fogo e que foi absolvida pela Justiça Militar, já que, na época de tal crime, ela tinha 14 ou 15 anos, morava no interior de Minas Gerais e sequer estivera em São Paulo”. O g1 entrou em contato com a defesa dela, mas não obteve um retorno até a última atualização desta matéria.
Roberto Boni foi condenado a pagar indenização por ofensas à jornalista Miriam Leitão — Foto: Reprodução
Miriam Leitão nunca assaltou banco
O tema comentado por Roberto Boni sobre o suposto envolvimento da jornalista no crime em São Paulo, inclusive, foi apontado como falso pelo ‘Fato ou Fake’, serviço da Rede Globo que checa a veracidade de conteúdos suspeitos.
Em 2018, a foto da ficha criminal de Miriam Leitão circulou nas redes sociais com a mensagem falsa (veja abaixo), indicando a ‘participação’ dela no assalto, a mesma replicada pelo cover de Roberto Carlos em vídeo.
Post #FAKE que circula em redes sociais sobre Miriam Leitão — Foto: Reprodução/ Redes sociais
Conforme apurado pelo ‘Fato ou Fake’, Miriam Leitão nunca foi presa ou processada por roubo a mão armada, nem participou do assalto mencionado pelo cover de Roberto Carlos. O crime na capital aconteceu em outubro de 1968, na agência do Banespa na Rua Iguatemi, em São Paulo.
A jornalista só foi presa quatro anos depois, em 1972, no 38º Batalhão de Infantaria em Vila Velha, no Espírito Santo, por razões políticas. Jamais foi acusada de ação armada. Nesta época, ela já estava com 19 anos e tinha se mudado para Vitória.
A foto em questão, inclusive, foi publicada no livro “Em nome dos pais”, escrito pelo filho da jornalista Matheus Leitão. Segundo o ‘Fato ou Fake’, Miriam foi processada por militar no PCdoB, partido clandestino na época, adepto da guerrilha no campo, mas que não realizou assaltos a bancos nas cidades. Ela foi absolvida.
Quem é Roberto Boni e o que ele diz
José Luiz Bonito, também conhecido como Roberto Boni, é cover do cantor Roberto Carlos. No ano passado, ele disputou a eleição para deputado estadual de São Paulo pelo Partido da Mulher Brasileira (PMB), mas não foi eleito.
Ao g1, Roberto Boni afirmou que é “vítima de notícias equivocadas, assim como a jornalista Miriam Leitão, a qual citei apenas uma única vez, em seis anos como noticiarista no Canal Universo”.
José Luiz Bonito, o Roberto Boni, é cover do cantor Roberto Carlos — Foto: Reprodução
Ele disse também que a “informação equivocada [sobre a suposta participação dela no crime] foi encontrada nas redes sociais. Notícias equivocadas são encontradas na mídia tradicional, e também nas redes”. Segundo Boni, por conta disso, ele deixou de noticiar sobre política desde 13 de dezembro de 2022, “justamente por não haver atualmente no Brasil uma fonte que não se equivoque”.
“O equívoco está no motivo da prisão da jornalista. A prisão, segundo consta, foi em 1972, por ser acusada de participar de um partido clandestino comunista, e não por ter participado de um assalto ao Banco Banespa em São Paulo. O assalto ocorreu, mas a jornalista não fazia parte, conforme apurado, e vim a saber depois. Vejo tudo de forma lamentável”, concluiu.
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