Mirian explicou que começou no fisiculturismo aos 26 anos, em 1987. Em 2013, ela terminou a carreira, passando a se dedicar à luta de braço e ao powerlifting — esporte de força em que o atleta tem que levantar o maior peso possível nos movimentos de agachamento, supino e peso morto.
“Eu vou morrer e não vou operar. Não quero andar de cadeira de rodas, então não sei o que vou fazer […]. Uma pessoa que fazia crucifixo [exercício de academia para a região do peito] com 24 a 26 quilos, vai fazer com dois para fortalecimento? Eu sinto que é uma falta de consideração”, lamentou ela.
A artrose começou a se manifestar em 2014. Na ocasião, ela conseguiu o encaminhamento para a cirurgia e colocou a prótese no ombro esquerdo em menos de 10 dias, também na Santa Casa de Santos. Depois da recuperação, Mirian explicou que voltou às competições dos esportes de força.
Tudo mudou em 2021, quando as dores começaram no ombro direito. A ex-atleta contou que costumava ir frequentemente a diferentes hospitais e o encaminhamento era sempre para sessões de fisioterapia. O diagnóstico de artrose e o encaminhamento a colocação da prótese veio em 2022.
Ex-campeã de fisiculturismo teve cirurgia adiada quatro vezes em Santos (SP) — Foto: Arquivo pessoal
Mirian teve a cirurgia marcada para os dias: 20 de abril e 11 de maio de 2023, além de 8 de fevereiro e 22 de abril de 2024. Nas quatro vezes, a ex-fisiculturista contou ter feito todos os exames pré-operatórios. Mas, dias antes, recebeu mensagens dizendo que o procedimento havia sido cancelado.
A Santa Casa de Santos não respondeu ao g1 sobre as três primeiras tentativas. Sobre a última, a unidade de saúde explicou que a paciente foi informada que a cirurgia precisou ser cancelada porque ela teve pneumonia. A ex-atleta foi orientada a retornar para uma nova consulta em 30 de julho.
A ex-fisiculturista negou que o problema tenha sido a pneumonia porque, de acordo com ela, já estava curada dias antes da data da operação. “O médico falava que eles não compraram a prótese. Toda vez a mesma desculpa”, afirmou Mirian.
No ano passado, em meio a espera da cirurgia do ombro direito, as dores começaram nos dois joelhos de Mirian. Ela contou que a Santa Casa marca consulta a cada seis meses, mas ainda não deu uma data para operação.
A unidade de saúde não respondeu sobre a cirurgia de colocação das próteses nos joelhos à equipe de reportagem. Segundo a ex-atleta, em conversas com funcionários do local, estes teriam dito que haviam 320 pacientes antes dela para marcar operações.
Com mais de 20 títulos na carreira (veja a lista abaixo), Mirian contou que começou a trabalhar como personal trainer, mas também teve que parar por conta da artrose.
“Personal tem que colocar peso e tudo [para os alunos], como eu vou fazer isso? […] Eu treinava o agachamento com 170 quilos. Hoje, eu não treino mais e nem pego [peso], não consigo fazer nada com a perna. Não consigo nem agachar. Eu estou me sentindo uma inútil, sinceramente”, disse ela.
Ex-campeã de fisiculturismo não consegue mais ir na academia após diagnóstico de artrose em Santos (SP) — Foto: Arquivo pessoal
Mirian começou a carreira esportiva aos 9 anos de idade como atleta de tênis de mesa. Aos 26, começou a musculação e o dono da academia viu que ela tinha potencial. Em menos de três meses, estava começando a ganhar competições de fisiculturismo, powerlifting e luta de braço.
Ela contou que na primeira competição em São Vicente (SP) fez um agachamento com 50 quilos, sendo que pesava 46. “Fui campeã e fui gostando do esporte de força”, lembrou.
Veja as premiações de Mirian:
- 9 vezes Campeã Brasileira de Luta de braço
- 5 vezes Campeã Brasileira de Powerlifting
- 4 vezes Campeã Paulista de Powerlifting
- 4 vezes Campeã Brasileira de Fisiculturismo
- 4 vezes Campeã Paulista de Fisiculturismo
O médico reumatologista Eduardo Yabuta explicou ao g1 que artrose, osteoartrite ou osteoartrose são sinônimos. De acordo com ele, a doença é caracterizada pelo desgaste da cartilagem responsável pela proteção contra atritos articulares e por alterações ósseas.
Embora possa ser encontrada em outras articulações, Yabuta afirmou que os joelhos, quadris, mãos e coluna vertebral são as áreas mais comuns. Além disso, por ser degenerativa, geralmente os sintomas começam a partir da quarta década de vida do paciente.
“Após os 75 anos, aproximadamente 85% dos seres humanos terão evidências clínicas e radiológicas da doença […]. A artrose é responsável por 7,5% dos afastamentos do trabalho, determinando também a importância social de sua abordagem clínica e tratamento prematuro”, afirmou o especialista.
Yabuta explicou que o procedimento cirúrgico é indicado em casos avançados e em que todas as tentativas clínicas não acabou com as dores e devolveu a qualidade de vida do paciente. Mas, em qualquer suspeita, ele indica a consulta em um reumatologista para avaliação.
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