A pedagoga brasileira Eliana Monteiro Pereira, que reside há seis anos com a família em Mersin, na Turquia, contou, em relato à GloboNews, que a cidade está passando por uma situação de guerra.
“É muito triste, um cenário desolador. É inverno aqui, e está muito frio. Você vê famílias acendendo fogueiras nas ruas para se aquecer, com medo de voltar para casa.”
Eliana relata que estava dormindo quando, por volta das 4h30 da manhã, os tremores começaram. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), o tremor foi tão forte quanto um registrado na Turquia em 1939 e que vitimou mais de 30 mil pessoas.
“Recebemos uma notificação do governo para evacuarmos o local através de um aplicativo. Eu estava dormindo, senti o tremor, peguei minha filha e fiquei na posição de segurança enquanto esperava meu marido sair do banheiro”, lembrou.
“Foram apenas 10 segundos, mas foram os piores 10 segundos da minha vida. Quando os tremores diminuíram, vesti algumas roupas, peguei uma coberta e saí de casa.”
A pedagoga falou com a GloboNews enquanto estava se deslocando de carro para outra localidade. De acordo com ela, após os primeiros tremores, o governo da Turquia começou a enviar alertas por mensagem de texto orientando os moradores a não retornar para casa.
Turquia fica entre 3 placas tectônicas
Este foi um dos abalos sísmicos mais mortais que ocorreram nas últimas décadas na Turquia, uma das zonas de terremoto mais ativas do mundo. Até a última atualização desta reportagem, milhares de pessoas ainda estavam desaparecidas.
Segundo especialistas e centros de pesquisa de atividades sismológicas, os principais pontos que podem explicar, em parte, o tamanho da destruição provocada são:
- O fato de que a Turquia fica espremida entre três placas tectônicas que se atritam — a da Eurásia, ao norte, a da África-Arábia ao sul, e a Placa da Anatólia;
- Dessa vez, o epicentro do tremor, ou seja, o ponto da superfície onde o terremoto é primeiro sentido, foi perto da cidade de Gaziantep, uma região no centro-sul da Turquia, bem perto da fronteira com a Síria e próxima do encontro dessas placas;
- Segundo o Centro Alemão de Pesquisa em Geociências, esse epicentro foi a 10 quilômetros da superfície, uma profundidade considerada baixa, muito próxima ao solo; o tremor de 1939, por exemplo, aconteceu a uma profundidade equivalente, cerca de 20 quilômetros;
- Outro fator importante foi a força do abalo sísmico. Ao “The New York Times”, Januka Attanayake, sismólogo da Universidade de Melbourne, na Austrália, disse que a energia liberada pelo tremor desta segunda foi equivalente a 32 petajoules, uma quantidade suficiente para abastecer a cidade de Nova York por mais de quatro dias;
- Além de toda essa enorme quantidade de energia liberada inicialmente, de acordo com o USGS, o terremoto desta segunda foi seguido, 11 minutos depois, por um tremor secundário de magnitude 6,7 e, horas mais tarde, por um de magnitude 7,5, que provocaram maiores destruições;
- Fora isso, houve mais de 50 réplicas — tremores menores que sucederam o principal;
- Por causa das mudanças na crosta terrestre, grandes terremotos são frequentemente seguidos por esses tremores secundários. O de 1939, por exemplo, também produziu tremores do tipo. Contudo, com o passar do tempo, e a consequente recuperação das falhas, esses eventos se tornam cada vez mais raros;
- Apesar disso, ainda de acordo com o USGS, terremotos mais rasos como esse da Turquia são muito mais prováveis de serem seguidos por tremores secundários do que terremotos mais profundos, com epicentros maiores que 30 km de profundidade.
Ainda de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos, apenas três terremotos de magnitude 6 ou mais ocorreram nas proximidades do tremor desta segunda-feira desde 1970. Um dos maiores, de magnitude 6,7, ocorreu a nordeste do terremoto desta semana, em 24 de janeiro de 2020.
E todos esses terremotos anteriores ocorreram ao longo ou nas proximidades da falha da Anatólia Oriental.
Terremoto mata mais de mil na Turquia e na Síria — Foto: Arte/g1
O Círculo de Fogo do Pacífico (uma região longe desse tremor de segunda) é a área com mais terremotos no mundo. Mas, historicamente, o sul da Turquia e o norte da Síria sofreram terremotos significativos e prejudiciais no passado.
Aleppo, na Síria, por exemplo, foi devastada várias vezes por grandes terremotos:
- Segundo o USGS, um terremoto de magnitude 7,1 atingiu a cidade em 1138, e um terremoto de magnitude 7,0 ocorreu 1822. As estimativas de fatalidade do terremoto de 1822 chegam a 60 mil.
Já na Turquia, além do terremoto de 1939, outros eventos significativos aconteceram mais recentemente, como:
- Um tremor de magnitude 6,7, em 2020, que atingiu o Mar Egeu e causou grande destruição na cidade costeira de Izmir, deixando 12 pessoas mortas e mais de 600 feridas;
- Um tremor de magnitude 7,2, em 2011, que atingiu a província oriental de Van, localizada próximo ao Iraque, deixando 264 mortos e 1.300 feridos;
- Um tremor de magnitude 6, em 2010, que atingiu o leste da Turquia, deixando 51 pessoas mortas;
- Um tremor de magnitude 7,4, em 1999, que atingiu Istambul e o noroeste da Turquia, deixando mais de 17 mil mortos e 30 mil feridos.
Equipes de resgate tentam alcançar sobreviventes presos dentro de um prédio que desabou em Adana, Turquia — Foto: IHA via AP
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