A mulher afixou papéis na própria porta com mensagens criminosas direcionadas a vizinhos negros. Nos textos ela se referia a eles como pessoas de “espírito imundo” e “escória da sociedade. Dias antes de colar os textos, a nutricionista já havia sido presa. Ela tinha sido acusada de ameaçar outras vizinhas e praticar injúrias raciais, mas foi solta em audiência de custódia.
Os papéis (veja no vídeo acima) foram colados na porta do apartamento da nutricionista em 8 de maio de 2021, mas, segundo o zelador do prédio, não foi a primeira vez que a mulher se referiu aos vizinhos negros de forma racista.
Segundo o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), a audiência começou às 13h30 no Fórum do município e foram ouvidas três vítimas, duas testemunhas de acusação e quatro de defesa.
O advogado de uma das vítimas, David Costa, disse ao g1 que ainda não teve a sentença. “Teve a instrução de todos os fatos, coleta de informações das vítimas e de algumas testemunhas. Foi adiado o julgamento tendo em vista que uma testemunha ainda deverá ser ouvida e, para tanto, foi remarcada a oitiva dessa testemunha.
“A ré não foi ouvida ainda porque dentro da cronologia processual ela é a última a ser ouvida. Então, o juiz não poderia inverter, embora ela estivesse na audiência”, acrescentou.
Segundo Costa, um dos motivos do adiamento da audiência para 10 de abril de 2023 é porque a defesa da ré tenta colocá-la como inimputável [como incapaz de discernir seus atos], mas o laudo da perícia foi contraditório.
“O próprio juiz entende que foi contraditória essa conclusão. Em razão disso, imagino que a data da audiência vem em razão da alta demanda da 5ª Vara Criminal e para dar tempo de ser feito um novo laudo […] “Esse laudo que vai dizer se no momento dos fatos a ré era semi-imputável, inimputável ou era imputável”, disse Costa.
O advogado ressaltou que ele e a promotoria acreditam que a ré era capaz discernir seus atos. “As testemunhas e vítimas atestaram de forma contundente que, durante os atos que a ré perpetrou [ameaças, ofensas e tentativas de agressões], a vida da ré continuava a mesma”.
Costa acrescenta que, segundo as testemunhas relataram, a nutricionista “continuava trabalhando, pegando ônibus, se alimentando, fazendo tudo normal. A defesa [dela] tenta enfiar goela abaixo que naquele momento ela não era capaz, o que não é verdade”.
Último papel colado por nutricionista se refere a negros como pessoas de “espíritos imundos” em Santos — Foto: Arquivo Pessoal
Na madrugada de 5 de maio de 2021, moradoras do condomínio chamaram a polícia e registraram também boletim de ocorrência por injúria racial, dano e ameaça contra a suspeita, no 7º DP de Santos. Na ocasião, ela foi presa em flagrante e, posteriormente, foi solta na audiência de custódia.
Na data, uma das vizinhas relatou que a nutricionista havia colado em sua porta e na de outro condômino papéis com dizeres como: “negra vaga*****”, “porca”, e ainda que “negro quando não faz na entrada faz na saída”.
As ofensas, além de coladas nas portas das vítimas, conforme relataram à polícia, também estavam espalhados na área comum do condomínio.
Segundo relataram as moradoras no registro da ocorrência, ela ainda teria ameaçado matar duas vizinhas com uma barra de ferro. Segundo as vítimas, a mulher costuma atirar garrafas nos corredores e já havia as jurado de morte.
Em entrevista ao g1, o zelador afirmou que sofre ataques com frequência por parte da nutricionista no condomínio, localizado no bairro José Menino. Ele registrou boletim de ocorrência contra ela no fim de 2020, devido a uma agressão que sofreu por parte da investigada, e por ouvir em outras ocasiões xingamentos como “negro”, “marginal” e “preto encardido”.
Segundo relata zelador, vidro de portaria foi quebrado por nutricionista em março do ano passado — Foto: Arquivo pessoal
Ofensas, ameaças e agressões
Ele também relatou que em março de 2021, quando tirava o lixo do condomínio, foi ofendido mais uma vez com palavras de cunho racista.
“Naquele dia, após me ofender, ela subiu até o apartamento, pegou uma garrafa e voltou para ver onde eu estava. Como a moça da portaria disse que não sabia onde eu estava, ela [nutricionista] a xingou e jogou a garrafa no vidro de onde fica a portaria. Foi registrado outro boletim contra ela na ocasião, por injúria e lesão corporal”, disse.
Zelador é um dos principais alvos de ataques racistas de moradora de condomínio — Foto: Arquivo pessoal
VÍDEOS: Mais assistidos do g1 nos últimos 7 dias
Publicar comentários (0)