A decisão tomada pelos militares em Niamey acontece após um mês de manifestações, decisões e declarações hostis à política francesa.
O Ministério dos Assuntos Estrangeiros do Níger anunciou que “em face à recusa do embaixador francês em Niamey em responder ao convite para uma entrevista na sexta-feira (25)” e “outras ações do governo francês contrárias aos interesses do Níger”, as autoridades “decidiram retirar sua aprovação a Sylvain Itté e pedir e ele que abandone o território nigeriano no prazo de 48 horas”.
Em resposta, o Ministério dos Assuntos Estrangeiros francês afirmou que os golpistas não têm autoridade para fazer este pedido. “A aprovação do embaixador emana apenas das legítimas autoridades nigerinas eleitas”, referindo-se ao presidente Mohamed Bazoum, deposto em 26 de julho.
A posição é partilhada por Hassoumi Massoudou, chefe da diplomacia de Bazoum, que postou em uma rede social uma mensagem onde pede que se “relembre que o embaixador está acreditado junto do presidente eleito”.
A decisão de expulsar o embaixador surge na sequência de uma série de declarações, decisões e manifestações hostis à França desde o golpe contra o Bazoum, ainda detido na residência presidencial com parte da sua família.
O regime militar acusa a França de querer intervir militarmente no Níger para restabelecer Bazoum ao seu posto e alega que a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) seria uma organização impulsionada pela França, antiga potência colonial na região.
A Cedeao impôs pesadas sanções econômicas e financeiras ao Níger após o golpe, e ameaçou o regime militar de usar a força armada para restaurar a ordem constitucional.
A França mantém no Níger a presença de 1,5 mil militares comprometidos com o regime do presidente Bazoum para lutar contra os grupos jihadistas que há anos ameaçam este país e uma grande parte do Sahel.
Na quarta-feira (23), o presidente francês Emmanuel Macron apelou mais uma vez ao que chamou de “restauração da ordem constitucional no Níger”, pedindo também a libertação do presidente Bazoum.
“Este golpe é um golpe contra a democracia no Níger, contra o povo do Níger e contra a luta contra o terrorismo”, declarou.
Quatro dias depois do golpe, centenas de apoiadores dos militares que tomaram o poder se manifestaram em frente à embaixada francesa em Niamey, causando danos às instalações. Eles foram dispersados com gás lacrimogêneo, e o regime acusou os franceses do uso de armas – o governo francês negou categoricamente.
No início de agosto, as novas autoridades de Niamey renunciaram a uma série de acordos militares com a França. Os representantes europeus, no entanto, ignoraram a decisão e reconheceram apenas Mohamed Bazoum como governante legítimo do Níger.
Organizações hostis à presença militar francesa indicaram esta semana que pretendiam manifestar-se a partir de 3 de setembro em frente à base militar francesa em Niamey para exigir a saída dos soldados.
A junta militar também acusou a França de ter violado repetidamente seu espaço aéreo fechado por decisão do regime e de ter libertado terroristas, o que, para eles constitui “um verdadeiro plano para desestabilizar seu país”. As acusações foram novamente negadas pelos franceses.
Diversas manifestações de apoio à junta militar que tomaram o poder foram sempre pontuadas por slogans hostis à França e à Cedeao, sendo a Rússia – que se beneficia da hostilidade contra Paris no Sahel – elogiada e aplaudida.
O Níger militar segue os passos de países como Mali e Burkina Faso, que já não possuem um embaixador francês. Estes dois países, também liderados desde 2020 e 2022 por militares que tomaram o poder pela força e confrontados com a violência jihadista, mostraram solidariedade com os generais de Niamey, afirmando que estão prontos para lutar ao lado do seu exército em caso de emergência.
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