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O líder brasileiro e sua comitiva estarão na China a partir de quarta-feira (12). Essa é a segunda data da viagem: Lula iria no fim de março, mas teve que mudar por causa de uma pneumonia. Originalmente, ele iria participar da posse de Dilma Rousseff como presidente do Banco dos Brics, mas a viagem tem como principal meta uma tentativa de restaurar uma boa relação do Brasil com a China —especialmente em nível presidencial.
A China é o país que mais consome produtos brasileiros, o que já é motivo suficiente para uma aproximação, mas, segundo especialistas, além disso, a atual política externa brasileira busca por uma equidistância das grandes potências, Estados Unidos e China (veja mais abaixo).
Abaixo veja as principais características da relação entre os dois países atualmente e como ela pode evoluir nos próximos anos, segundo analistas ouvidos pelo g1:
Lula na China: entenda como é relação dos países e o que pode mudar com visita
Quando o ex-presidente Jair Bolsonaro esteve no poder, havia um discurso antichinês na gestão do Ministério da Relações Exteriores. O próprio Bolsonaro afirmou, durante a pandemia, que o Brasil não iria comprar vacina da China. A principal pessoa ligada ao ex-presidente que antagonizou com os chineses foi um de seus filhos, Eduardo.
Eduardo Bolsonaro atacou a China pelo menos duas vezes:
China termina exercícios militares em torno da ilha de Taiwan
O professor André Reis da Silva, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma que a retórica antichinesa do governo Bolsonaro foi diminuindo ao longo do tempo. “Havia uma certa desconfiança (por parte dos chineses) e uma desaceleração de projetos (os dois países tem um conjunto amplo de acordos, tem projetos em diversas áreas), mas os chineses são sutis, eles não são intempestivos”, afirma Silva.
O professor Yi Shin Tang, do Instituto de Relações Internacionais da USP, afirma que a visita tem um significado importante: o próprio presidente vai, e não apenas o ministro de Relações Exteriores, por exemplo.
“A visita de agora, para além do diálogo e da intenção de estabelecer boas relações, é uma oportunidade de o Brasil sinalizar que há interesse por novos acordos específicos de cooperação técnica e econômica, e tentativa de posicionar o Brasil na comunidade internacional. O Brasil quer ganhar espaço no grupo dos Brics, hoje monopolizado pela China, ter voz mais ouvida na Organização Mundial do Comércio e ter um alinhamento com os chineses na agenda verde, por exemplo”, diz Tang.
Brasil e China devem assinar 20 novos acordos entre os países —inclusive em áreas como esportes e cultura (para incentivar coproduções).
“A gente sabe que há 20 acordos de cooperação, mas não sabemos quais são as prioridades estratégicas”, afirma o professor Tang, da USP.
Um dos acordos é o prosseguimento da cooperação do programa de satélites (o nome oficial do programa é Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, mas também é conhecido pela sigla em inglês, CBERS).
O acordo existe desde 1988 e vários satélites já foram lançados por meio dele. “É um programa que funciona. No Brasil, serve principalmente para monitoramento de desmatamento da Amazônia, tem uma boa qualidade de imagem”, diz o professor Silva, da UFRGS.
Há planos para lançar um novo satélite. O último é de 2019.
Veja abaixo um vídeo sobre o lançamento do último satélite do programa CBERS, em 2019.
Satélite Cbers-4A é lançado na madrugada desta sexta-feira (20), na China
A relação entre os dois países, hoje, é muito assimétrica, segundo Tang. “A China representa muito para o Brasil, mas o Brasil representa pouco para a China. Os chineses têm o poder de pautar a relação. A China já está diminuindo a dependência de produtos brasileiros, ela já produz soja, recursos minerais estratégicos, desenvolve biotecnologia para competir com produtos agropecuários brasileiros de alta qualidade”, diz o professor da USP.
A estratégia do Brasil durante este terceiro governo Lula, diz Silva, deve ser um retorno à prática da política externa brasileira, que é buscar uma posição de equilíbrio de distância dos polos —neste momento, Estados Unidos e China. “Estamos passando para uma transição de uma hegemonia dos EUA para algo multipolar ainda não claro, mas certamente com uma presença chinesa muito forte”, diz ele.
Lula e Biden no Salão Oval da Casa Branca, durante reunião nesta sexta-feira (10), em Washington. — Foto: Jonathan Ernst/Reuters
Assim, o Brasil tem algum poder de barganha para tentar negociar acordos e investimentos com os chineses —por exemplo, há relatos recentes sobre uma sinalização dos EUA de que eles gostariam que o Brasil desenvolvesse uma indústria de semicondutores, porque os americanos gostariam de distribuir a produção desses bens.
“O Brasil pode usar isso como moeda de troca para transferência de tecnologia ou investimento nesses setores”, diz Tang.
Instalação murada em Xinjiang, na China, onde o governo chinês é acusado de deter muçulmanos da etnia uigur pela religião — Foto: Aysha Khan/RNS via AP
A China tem uma política de não intervir em assuntos domésticos de outros países. O Brasil deve seguir o mesmo protocolo —por exemplo, se houver alguma questão da imprensa a respeito dos uigures, uma minoria étnica e religiosa que a China é acusada de perseguir, a tendência é que os representantes do governo brasileiro digam que se trata de um tema doméstico da China.
Por: G1
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