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Mulher busca indenização 46 anos após marido sumir no ‘Triângulo das Bermudas’: ‘espero ele até hoje’

today13 de julho de 2022 18

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Há 46 anos, o marinheiro brasileiro Edivaldo de Freitas desapareceu no Triângulo das Bermudas, uma área localizada no Oceano Atlântico e que é cercada de mistérios. Ele estava no navio de carga Sylvia L. Ossa, que saiu do Porto de Santos, no litoral de São Paulo, sumiu e nunca mais foi encontrado. A viúva de Edivaldo ainda vive com a incerteza sobre o paradeiro do marido e luta por uma indenização.

Joana Alves Damasceno conheceu o marido em uma festa em Recife, sua cidade natal. Os dois começaram a namorar, mas Edivaldo precisou embarcar para Santos, no litoral paulista, para trabalhar. “Ele começou a trabalhar no cais, já que era marítimo. Eu vim atrás dele, alugamos um cantinho e fomos viver”, conta ela.

Edivaldo já havia trabalhado embarcado em outros navios. Em 1976, ele embarcou no navio Sylvia L. Ossa, de propriedade da empresa panamenha Ominum Leader. A embarcação saiu do Brasil levando minérios de ferro em direção a Filadélfia. A embarcação levava uma tripulação de 37 pessoas, com nove brasileiros.

Durante o trajeto, o comandante informou pelo rádio que enfrentava problemas na região do Triângulo das Bermudas. Depois disso, o navio Sylvia L. Ossa desapareceu para sempre, sobrando apenas um barco salva-vidas.

Única foto que a viúva Joana tem do marido Edivaldo de Freitas, que sumiu no Triângulo das Bermudas — Foto: Arquivo Pessoal



O Triângulo das Bermudas fica no Oceano Atlântico e forma uma espécie de triângulo imaginário. Em suas pontas estariam a ilha de Bermudas, a cidade de San Juan (Porto Rico) e a cidade de Miami (Estados Unidos). O trecho sempre foi conhecido por conta de casos de desaparecimento de aviões, barcos cargueiros e navios.

“Eu estava vendo televisão e de repente apareceu na tela que o navio tinha afundado no Triângulo das Bermudas. Eu fiquei muito nervosa. Corri para onde ficava a sede deles, no Centro de Santos. Cheguei lá, eles (empresa) conversaram comigo e me deram o valor, na época, equivalente a R$ 1.000. Fiquei naquela agonia toda, esperando aparecer, não apareceu ninguém”, lembra Joana, sobre os primeiros dias do desaparecimento do marido.

Na época, Joana conta que conheceu outras seis viúvas, esposas dos marinheiros da embarcação. Ela viviam a esperança de ver os maridos novamente. Mas, nenhum dos homens foi encontrado, segundo ela. “Esperei, esperei, estou esperando ele até hoje. Ele falava que quando ele voltasse, a gente ia casar. Ele mandava dinheiro para mim para as minhas despesas. Às vezes, vinha até no meio das cartas”, conta.

Triângulo das Bermudas fica no Oceano Atlântico — Foto: Reprodução/Globo News

Após o desaparecimento de Edivaldo, Joana foi procurada por um advogado americano que iniciou uma ação nos Estados Unidos, a qual foi negada em 2001 pela Suprema Corte Americana diante da dificuldade em obter informações sobre o caso.

Em 2019, a advogada Monica Alice Branco Pérez foi até Nova York, nos Estados Unidos, para ver o processo. Depois de entender que ela havia perdido o processo por lá, a Furno Petraglia e Pérez Advocacia ingressou com uma ação na Justiça do Trabalho.

O advogado Leandro Furno Petraglia e a viúva Joana Alves Damasceno — Foto: Divulgação

“Edivaldo era um trabalhador, estava prestando serviço a bordo do navio e, então, seria uma ação trabalhista em que a viúva pede uma indenização pela morte do marido”, explica o advogado Leandro Furno Petraglia.

Na ação, os advogados alegam que a empresa Omnium Leader, dona do navio, e a Frota Oceânica, que é a operadora marítima, deveriam indenizar a viúva pelo desaparecimento. Em junho deste ano, houve uma audiência de instrução. Joana e representantes das empresas envolvidas foram ouvidos.

“Já era uma região de conhecimento de risco. A gente mostra que houve, de certa forma, uma negligência. As empresas cortavam o caminho pelo triângulo das bermudas, embora fosse arriscado, em vez de tomar uma rota mais cautelosa” , diz o advogado.

A viúva pede uma indenização no valor de R$ 120 mil. “E tem alguns pedidos futuros. A gente pede uma pensão que pode ampliar esse valor e chegar a R$ 300 a R$ 400 mil”.

Viúva de marinheiro brasileiro que desapareceu há 46 anos no Triângulo das Bermudas luta por indenização — Foto: Divulgação

Após o desaparecimento do marido, para sobreviver, Joana virou costureira. Ela tinha um filho, que lhe ajudava, mas que também faleceu. Atualmente, a viúva tem 82 anos e mora no bairro Jardim Rio Branco, em São Vicente. Ela recebe uma aposentadoria, no valor de um salário-mínimo, e a ajuda da irmã.

“A vida corre. Ainda tenho muita força. Tenho muita dor no corpo, nas pernas, ando com bengala. O dinheiro não dá para comprar remédio”. Se conseguir alguma indenização, Joana planeja comprar uma pequena casa para viver, já que hoje paga aluguel. “É uma pessoa supersimples, não tem casa própria, nunca teve um suporte, tem uma condição financeira muito sofrida”, diz o advogado.

Ele e a viúva esperam por uma sentença do caso que deve sair neste mês de julho. Após mais de quatro décadas, Joana tem apenas uma foto de Edivaldo, em que ele aparece junto com outros marinheiros do navio (veja no início da reportagem). Fora isso, as lembranças do marido ficaram apenas na memória dela.

“Eu poderia estar melhor que agora. Penso nele. A gente amou, viveu muito tempo, muitos anos e, de repente, ele foi embora assim. Sabemos que desapareceu, mas não se sabe como”, lamenta.

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Por: G1

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