“Em uma das nossas últimas conversas, ela tinha dito que talvez esse seria o último Carnaval dela como madrinha de bateria. Ela tinha planos de parar e também gostaria de fazer uma festa, porque esse seria o décimo ano desfilando à frente da bateria. A data real foi durante a pandemia, mas como não teve desfile, iria comemorar esse ano”, revelou o amigo.
O Carnaval de 2023 será o primeiro de Sergio sem Michelle. Por este motivo, o noivo disse que não consegue chegar perto de uma escola de samba ou ir em lugares que mencionem a musa.
“Quando chegava ao final da avenida eu sabia que ia encontrar ela, mas agora não tenho mais isso. É muito bom chegar ao final da avenida e ter alguém esperando. Resumidamente: É como você ir para o Carnaval e não escutar a bateria tocando. Para mim, está sem sentido”, afirmou Sergio Vieira.
Ele confirmou também a informação do amigo Renato, de que ela estaria parando com os desfiles. “Estava desacelerando. Já estava se preparando para dar uma parada. Falou: Agora eu quero cuidar do trabalho para a gente viajar. Ela pensava muito nisso e estava se preparando para parar. Infelizmente, parou de outra forma, que ninguém esperava”.
Carnaval de 2023 será o primeiro sem um dos grandes nomes do Carnaval paulista, Michelle Mibow — Foto: Arquivo Pessoal
Segundo Sergio, mesmo sendo o responsável por buscar as fantasias de Michelle, a musa gostava de surpreender. Então, só quando ela estava pronta para entrar na passarela do samba é que ele descobria a roupa escolhida.
“As fantasias dela eram sempre uma surpresa, sempre tinha algo mais, uma menção à escola, o enredo, uma referência, mas eu só iria ver na avenida, quando ela saía de lá [onde se arrumava]. Eu sempre respeitei isso porque ela queria esse segredo […]. Quando ela entrava na avenida, até as outras agremiações esperavam ela entrar, porque ela sempre era uma surpresa“, lembrou Sergio.
Não era só o noivo que não podia ver a fantasia, o amigo e Rei de Bateria da União Imperial, onde Michelle começou a sua trajetória como Rainha, Aurélio Alves, conhecido como Lélinho Alves, de 41 anos, contou que apenas o costureiro da musa sabia a roupa que seria desfilada na avenida.
“Ela nunca foi de ficar falando nada para ninguém. Aprendi isso com ela. Ela me ensinou a deixar para falar quando as coisas já estiverem prontas, feitas, não mostrar nada para ninguém, sempre deixar na surpresa”, contou Lélinho.
Michelle Mibow, destaque do carnaval paulista, não deixava ninguém ver a sua fantasia antes de entrar na avenida — Foto: Arquivo Pessoal
Carnaval sem a musa do ‘Caldeirão’
Para mim, Michelle é uma das melhores sambistas da atualidade. Vai fazer muita falta passar o Carnaval sem ela. Foi uma honra ter sido padrinho dessa sambista e mulher preta de tantas qualidades. Deus me deu esse presente
— Carlos Alberto Duarte da Cruz, Presidente do Conselho do Samba
Fará muita falta no Carnaval e no mundo do samba, mas ela deixou um legado e ensinou muita gente. O Carnaval perdeu bastante com a partida da Michelle. Ela era aquela sambista que muitas meninas se espelhavam e seguiam os passos. Ela ainda tinha muito para ensinar
— Márcio Leonidio Mota Alexandre, Cabo do Samba
Perdemos uma sambista, rainha e madrinha que sempre nos representou muito bem. Mas, preferimos sentir saudade de forma alegre e jamais com tristeza. Aposto que ela não gostaria de ver nossa escola triste. É isso que vamos transmitir na avenida, alegria e, como sempre, a bateria vai trazer surpresas na avenida, pois ela gostava disso
— Daniel Corrêa de Araújo, Mestre de Bateria da Unidos dos Morros
Michele é o Carnaval vivo, porque se tinha uma coisa que ela amava fazer era estar desfilando e ajudando as meninas a serem rainhas. Ela quis passar tudo o que sabia para as pessoas. É a maior representante do Carnaval. Não tem como você olhar o Carnaval e não lembrar da Michelle
— Lélinho Alves, Rei de Bateria da União Imperial
Não tenho o que comemorar e, sinceramente, hoje, eu não sei se volto a desfilar. Daqui a um ano eu posso mudar de ideia perante alguma homenagem. Eu estava pensando: às vezes vejo vídeos, me vejo ali, mas, sem ela, não tem graça
— Sergio Vieira, noivo da Michelle Mibow
Tem hora que penso em não ir para avenida, mas, ao mesmo tempo, conhecendo bem como ela era, não era isso que gostaria de mim. Eu vou com o coração apertado porque no último Carnaval desfilamos juntos. Vou pelo Carnaval que eu amo, por mim e, principalmente, por ela
— Renato Júnior, amigo
Musa do ‘Caldeirão’ e passista do carnaval de SP morreu após AVC em novembro de 2022 — Foto: Arquivo Pessoal
Michelle era bailarina e coreógrafa. Durante a carreira no Carnaval santista, foi rainha da bateria da Escola de Samba União Imperial e da Unidos dos Morros. Atualmente, era a madrinha da bateria Chapa Quente. A passista ainda foi coroada como Rainha do carnaval santista 2007 e Rainha do carnaval de São Vicente, em 2017.
Na capital paulista, Michelle também foi destaque do samba. Ela recebeu o título de Princesa da Escola de Samba Vila Maria e foi Musa da Águia de Ouro, duas das mais tradicionais agremiações do carnaval de São Paulo.
Um dos pontos altos da carreira da passista foi em 2013, quando ela chegou a ser finalista do Musa do Caldeirão do Huck, da Globo. Em 2019, ela recebeu o prêmio ‘Estandarte Santista’, com cerca de 252.592 votos. O prêmio tem o apoio da Tv Tribuna, afiliada da Globo e do g1 Santos e tem a finalidade de valorizar ainda mais os destaques do carnaval de Santos.
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