O veleiro inglês Kestrel, encalhado na orla da praia de Santos (SP) há mais de 100 anos, terá os destroços preservados no local, tornando-se um espaço cultural para estudo e visitação. A decisão foi tomada entre a prefeitura, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Advocacia Geral da União (AGU), em acordo com o Ministério Público Federal (MPF).
Os destroços no bairro Embaré foram encontrados em 2017 por funcionários da limpeza urbana. Em seguida, houve uma ‘disputa’, partindo do pedido do MPF para que a AGU removesse a ‘carcaça’ do navio, solicitando que o Iphan e a prefeitura realizassem os devidos estudos no material. No entanto, o órgão foi convencido de que o pedido ameaçava a integridade dos restos da embarcação.
Maré baixa na praia de Santos (SP) revela os destroços do veleiro inglês Kestrel no canal 5, em julho de 2023 — Foto: Vanessa Rodrigues/Jornal A Tribuna
O advogado do governo federal, Marco Antonio Perez de Oliveira, explicou o entendimento do MPF sobre o caso.
“Os tratados internacionais sobre naufrágios recomendam a preservação de bens arqueológicos navais no próprio local em que encontrados para que a população possa tomar contato com o patrimônio histórico de maneira contextualizada com o seu ambiente, estabelecendo assim uma ponte entre o presente e o passado”, afirmou o profissional, em nota divulgada pela AGU.
Quadro pintado em Londres revela o veleiro Kestrel, que encalhou em Santos — Foto: Reprodução
Conforme divulgado pela AGU, o procurador federal Eduardo Ferrari apontou que as partes acordaram em isolar a área para evitar o contato direto de pessoas com a carcaça da embarcação e, dessa forma, preservar a segurança dos banhistas.
Depois que o Iphan conduzir a pesquisa arqueológica, os resultados serão entregues à prefeitura, que deverá estudar a viabilidade de criar no local uma espécie de “museu a céu aberto”.
Procurada, a administração municipal disse que cabe a ela sinalizar o local e garantir a segurança da população. Devido à última ressaca no mar, os cabos de aço e as boias de proteção usados para isolamento da área foram danificados, mas mesmo com a avaria o local permanece sinalizado.
“O serviço de reparo dos itens de isolamento será concluído até o fim deste mês, conforme cronograma de serviços da Prefeitura Regional da Zona da Orla e Intermediária (ZOI)”, afirmou a prefeitura.
Ainda segundo nota, a prefeitura já propôs ao Iphan datas para vistoria no local, mas o instituto ainda não agendou a visita à cidade.
Embarcação encalhada na praia de Santos em julho de 2023 — Foto: Vanessa Rodrigues/Jornal A Tribuna
Na época em que os escombros foram descobertos, o então prático em atividade mais antigo do Brasil, Fabio Mello Fontes, explicou ao g1 se tratar de uma embarcação construída antes de 1930.
De acordo com o arqueólogo Manoel Gonzalez, o veleiro Kestrel, com três mastros, encalhado em 1895, foi apontado como a “hipótese mais provável”.
“Ferro e madeira não foram mais usados depois desse período, por isso, deve ter mais de 100 anos. Certamente é uma embarcação muito antiga, que ainda requer investigação minuciosa”, disse ele, na ocasião.
Veleiro encalhado há mais de 100 anos em Santos pode ser visto em realidade aumentada — Foto: Francisco Arrais
A atração foi inaugurada dentro das comemorações pelo aniversário de 477 anos de Santos. No local, a pessoa deve escanear o QR Code que está na placa e apontar para a direção dos destroços. É possível ver o navio em 3D, sobre a água. O ‘Kestrel’ é uma espécie de atração turística da cidade.
Além do código de acesso à imagem, a placa conta com instruções para viver a experiência, resume a história do navio em português e inglês e mostra a pintura de Benedito Calixto, na qual a imagem do veleiro foi inspirada.
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