Pouco antes do fim do cessar-fogo, à meia-noite desta quinta-feira no horário local (19h de Brasília), o exército anunciou a sua “prorrogação por mais 72 horas” em resposta a “uma iniciativa da Arábia Saudita e dos Estados Unidos”.
Até agora, as milícias das Forças de Apoio Rápido (FAR) não se pronunciaram sobre o assunto.
Alerta dos Médicos Sem Fronteiras
Os Médicos Sem Fronteira (MSF) divulgaram um vídeo sobre a situação de um hospital associado à organização em El Fasher.
Mohamed Gibreel Adam, o coordenador do projeto de atendimento, afirmou que a situação “é muito difícil, o acesso a tratamentos de saúde foi interrompido”.
Desde o começo da violência no Sudão, em 15 de abril, o MSF recebeu 410 pacientes feridos no hospital de El Fasher.
“Não há água, não há eletricidade. A falta de combustível atrapalha todos os serviços de salvamento de vidas. Por questões de segurança, o referenciamento de casos mais graves e o acesso a tratamento à noite não é possível por falta de segurança e impossibilidade de movimentação”, diz Adam.
Mulheres em pré-natal não conseguem ver médicos porque eles estão atendendo os casos mais graves, fazendo triagem e registro. Paciente recebem tratamento no chão e há outros no corredor, por falta de espaço.
As equipes aumentaram o número de leitos de 36 para 108, mas ainda não é suficiente.
Negociações para extensão da trégua
O exército havia indicado na noite de quarta-feira que havia concordado em enviar um representante a Juba, capital do Sudão do Sul, para discutir com os paramilitares uma possível extensão da trégua.
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, disse na quinta-feira que trabalha “ativamente” para prorrogar o cessar-fogo.
O cessar-fogo permitiu a evacuação de milhares de estrangeiros e sudaneses, apesar de não ter interrompido os combates, iniciados em 15 de abril.
O conflito envolve as tropas do general Abdel Fatah al Burhan – que preside o país – e os paramilitares liderados pelo general Mohamed Hamdan Daglo.
Os dois generais que protagonizam o atual conflito acabaram com as expectativas de uma transição para a democracia quando se aliaram, em 2021, para tirar os civis do poder.
Porém, Burhan e Daglo entraram eles próprios em conflito por suas divergências sobre a integração dos paramilitares ao exército oficial.
De acordo com o Ministério da Saúde do Sudão, ao menos 512 pessoas morreram e 4.193 ficaram feridas em treze dias, mas o balanço real provavelmente é mais elevado.
Além da capital, a violência arrasa outras regiões do país, em particular na zona oeste de Darfur.
A Organização das Nações Unidas, que interrompeu suas operações após a morte de cinco trabalhadores humanitários, advertiu que não pode mais prestar auxílio em uma área onde “50 mil crianças sofrem de desnutrição grave”.
Os combates provocaram uma fuga em massa e agravaram a crise em uma das nações mais pobres do mundo, que tem mais 45 milhões de habitantes.
Mais de 14 mil sudaneses e 2.000 cidadãos de outros países chegaram ao Egito desde o início dos combates, informou o Ministério das Relações Exteriores egípcio.
Nos últimos dias, governos estrangeiros organizaram operações terrestres, aéreas e marítimas para evacuar milhares de seus cidadãos.
As pessoas que permanecem no país enfrentam escassez de alimentos, falta d’água e de energia elétrica, além de cortes nas linhas de telefonia e de internet.
De acordo com o sindicato dos médicos, 14 hospitais foram bombardeados e outros 19 foram esvaziados por falta de material e funcionários ou porque os combatentes assumiram o controle de áreas próximas.
Em meio ao cenário de caos, centenas de detentos fugiram de três prisões, incluindo o presídio de segurança máxima de Kober, onde estavam presos ex-funcionários de alto escalão do regime deposto de Omar al Bashir.
Entre os foragidos está um integrante do antigo governo que é procurado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), acusado de crimes contra a humanidade.
Ex-ditador transferido para hospital militar
Al Bashir, 79 anos, também estava na prisão, mas o exército anunciou na quarta-feira que ele foi transferido para um hospital militar antes do início dos combates “devido à sua condição de saúde”. A data da transferência não foi divulgada.
Al Bashir foi deposto pelo exército em abril de 2019, após grande pressão popular.
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