“Foi o momento em que eu, como agente de segurança, reagi à injusta agressão mediante uso proporcional [da força]. Não teve excesso, não bati mais do que o necessário. Foi somente para conter. Não tinha intenção nenhuma em agredir o rapaz”, disse o agente, de 28 anos, que não quis se identificar.
As primeiras imagens, divulgadas pelo advogado do homem que leva o soco, mostram a agressão do guarda. O profissional usou o braço contra o pescoço do rapaz , que foi pressionado na parede e falou para o agente tirar as mãos dele antes de levar o soco.
A nova gravação obtida pelo g1 mostra o momento que antecedeu o soco, quando o homem mesmo algemado dá uma joelhada no agente, a quem tenta acertar uma cabeçada.
‘Situação fora do controle’
Vídeo mostra momentos antes de guarda civil municipal socar homem em hospital de Bertioga (SP) — Foto: Reprodução
O guarda contou que estava em horário de refeição quando foi chamado para prestar apoio à ocorrência em frente à casa da mãe do rapaz, na noite de 10 de julho. A Guarda Civil Municipal (GCM) já estava no local.
Ele alegou que, logo de início, o homem afrontou os guardas e chegou a dar tapas nas mãos dos agentes para afastá-los.
“Quando eu cheguei no local, já estava uma situação fora do controle. Era o rapaz gritando, xingando, ameaçando, ia para cima do guarda”, disse ele.
Ainda segundo o agente que desferiu o soco, o homem se recusou a ir para a delegacia quando recebeu voz de prisão. Como ele já havia sido informado de que seria detido, e não obedecia as autoridades, “foi necessário ser feito o uso proporcional da força” para que fosse algemado.
O agente informou que, naquele momento, o rapaz começou a entrar em luta corporal com as autoridades.
Homem ficou com hematomas pelo corpo e rosto em função das agressões em Bertioga (SP) — Foto: Arquivo pessoal
Enquanto o advogado do rapaz alegou que os agentes algemaram o cliente de maneira fora do padrão, com as mãos para frente, o guarda apresentou outra versão.
Segundo contou ao g1, o homem foi algemado com as mãos para trás. Ele apareceu com as mãos para frente no vídeo porque, chegando no Hospital de Bertioga, ainda preso pelas algemas, teria passado as mãos por baixo das pernas.
O agente ressaltou que conduziu o rapaz ao hospital porque a viatura em que estava era a única com o compartimento destinado a presos. Ele disse que temeu uma tentativa de fuga por parte dele, por esse motivo o manteve detido contra a parede.
“Eu ia ter que apresentar ele na triagem. Foi a maneira que eu achei para ele não correr, fugir”, explicou.
Parte das agressões ocorreu dentro de hospital em Bertioga (SP) — Foto: Reprodução
Em nota enviada ao g1, o advogado Ronaldo do Patrocínio disse que não vislumbrou, no vídeo original, qualquer motivo que justificasse a “agressão gratuita e covarde” realizada pelo agente de segurança.
Ele ressaltou que o delegado responsável avaliou que a reação do cliente dele pode ser considerada uma forma de legítima defesa. Isso porque o homem estava suspenso na parede, na ponta dos pés, sob tensão.
“Há de se considerar ainda que, os fatos apresentados pela GCM de Bertioga, não guardam relação fiel com os fatos como se deram na prática”, disse o advogado.
O Ronaldo acrescentou que, apesar de qualquer ação por parte do homem agredido, a reação do agente foi desproporcional. Assim, deve ser investigada e punida nos termos da lei, caso a responsabilidade dele seja comprovada.
De acordo com a Prefeitura de Bertioga, o caso aconteceu em 10 de julho, por volta das 22h50. O advogado Ronaldo do Patrocínio disse ao g1 que o cliente, de 33 anos, estava na casa da mãe, no bairro Vista Linda, com o filho de três anos. Segundo o advogado, a mãe da criança apareceu querendo pegá-la e, como o pai se recusou a entregar, os dois discutiram – sem violência física por parte dele.
O advogado disse que o cliente chamou a PM para manter a mulher distante dele. O homem saiu à rua com o filho e foi seguido por ela. Ronaldo apontou que, enquanto o rapaz aguardava os policiais. A mãe da criança foi quem acionou a Guarda Municipal após a discussão, segundo a prefeitura.
Ela teria dito às autoridades que foi agredida. “Eles nem quiseram saber o que estava acontecendo […]. Eles já começaram a agredir. Por quê? Porque a mãe puxou o filho, os caras pegaram e se valeram disso para imobilizá-lo”, disse o advogado.
Quando foi detido, o rapaz foi levado para o Hospital de Bertioga para receber atendimento médico antes de seguir para a delegacia. Durante todo o tempo, ele foi acompanhado por familiares que gravaram a abordagem.
Prefeitura abriu sindicância
Ao g1, a Secretaria de Segurança e Mobilidade de Bertioga informou que abriu uma sindicância interna para analisar a ocorrência.
O homem foi conduzido à unidade de saúde. Depois dos procedimentos no hospital terminarem, as partes foram encaminhadas à delegacia. Ninguém foi preso e o caso foi registrado como lesão corporal e resistência.
Em nota sobre o novo vídeo, a prefeitura disse que, segundo a Secretaria de Segurança e Mobilidade, todas as circunstâncias do incidente são consideradas durante o processo disciplinar, onde é assegurada a ampla defesa e o contraditório. “Tudo é apurado com imparcialidade, prezando pela verdade e legalidade”, disse.
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