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Paciente que teve instrumento esquecido entre pescoço e coração diz que médico tentou ‘cavá-lo’ a sangue frio

today20 de julho de 2024 3

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De acordo com parecer médico, juntado no processo, o paciente correu risco de morte. Os advogados de Vanes conseguiram uma liminar na Justiça e o estado de São Paulo foi condenado a pagar R$ 50 mil por não ter feito a cirurgia de remoção com urgência.

Vanes iniciou a hemodiálise, um tratamento que serve como um rim ‘artificial’ e precisa da inserção de um cateter na região do peito, com auxílio de um fio-guia, em 2022. Ao g1, ele explicou que o médico que esqueceu o instrumento foi o mesmo que retirou o cateter, em 2023.

Aproximadamente oito meses após o início da hemodiálise no Instituto Segumed, em São Vicente (SP), pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Vanes contou que começou a sentir dores no peito e foi fazer um exame de raios X no Centro de Especialidades Médicas de Itanhaém (Cemi).



“Senti que tinha alguma coisa estranha dentro de mim”, lembrou Vanes.

De acordo com o autônomo, o médico da Cemi viu as imagens do exame e achou que o paciente tinha feito o exame com uma corrente de prata, mas era o fio-guia do cateter que estava alojado da jugular até o átrio direito (veja acima).

À esquerda, parte do fio-guia esquecido no corpo do paciente. À direita, exame de raios-x de Vanes — Foto: Arquivo pessoal e Reprodução

Também por conta das diabetes que causaram a insuficiência renal, Vanes não enxerga com o olho direito e vê apenas vultos com o esquerdo.

Com o exame de raios X em mãos, ele contou que foi confrontar o médico que havia esquecido o fio-guia dentro dele. “Ele pediu licença para a minha esposa e, como eu não enxergo, me levou para uma sala. Pediu para eu deitar e eu falei: ‘Você não vai fazer nada não, né?'”, disse Vanes.

O paciente afirmou que o médico respondeu que iria apenas dar uma injeção de anestesia para olhar o pescoço dele.

“Ele estava tentando tirar o fio-guia de dentro de mim e começou a cavar com uma espátula. Só que a anestesia acabou, eu fiquei na carne viva e comecei a gritar de dor”, lembrou ele.

Paciente que teve instrumento esquecido entre pescoço e coração ficou com cicatriz no pescoço — Foto: Arquivo pessoal

Vanes contou que o médico só parou de ‘cavar’ com a intervenção de um enfermeiro. Em seguida, ainda de acordo com o autônomo, o profissional foi até a esposa dele, que aguardava na recepção, e explicou que tinha tentando retirar o fio-guia, mas não conseguiu.

O autônomo afirmou que ficou traumatizado e teme pela própria vida durante a hemodiálise, já que não enxerga. “Eu não gosto nem de lembrar disso. É muito difícil o que eu estou passando. […] dependendo da minha família que cuida muito bem de mim “, lamentou o homem.

O g1 entrou em contato com o Instituto Segumed, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

Vanes tem diabetes [alto nível de açúcar no sangue] e, por este motivo, desenvolveu uma insuficiência renal grave em julho de 2022. Naquela época, ele iniciou a hemodiálise, um tratamento que serve como um rim ‘artificial’ e precisa da inserção de um cateter na região do peito, com auxílio de um fio-guia, que acabou sendo esquecido dentro dele.

A filha de Vanes, Jullyana Dionísio, de 24 anos, explicou ao g1 que o pai é morador de Itanhaém, no litoral de São Paulo, mas o procedimento foi realizado no Instituto Segumed, em São Vicente (SP), pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Em abril de 2023, ele colocou uma fístula arteriovenosa no braço no Hospital do Vicentino. Este dispositivo tem a mesma função do cateter que, por este motivo, foi retirado em junho daquele ano. “Mesmo o médico retirando o cateter, não se ligou que o fio-guia estava esquecido”, disse a filha.

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A Prefeitura de São Vicente informou ao g1 que mantém contrato de prestação de serviço com a Segumed e não foi notificada sobre este caso. A pasta, no entanto, afirmou apurar o ocorrido com a empresa, que atende pacientes da Baixada Santista por meio do Departamento Regional de Saúde (DRS).

Aproximadamente oito meses após o começo da hemodiálise, Vanes começou a sentir dores no peito. Em julho de 2023, o paciente fez um exame de raios-X no Cemi de Itanhaém e foi constatado que o fio-guia do cateter estava alojado da jugular até o átrio direito.

Ele foi encaminhado para agendar a cirurgia de retirada do instrumento pelo SUS, mas, em dezembro do ano passado, ainda não tinha recebido um retorno. Por conta disso, entrou com uma ação contra a Prefeitura de Itanhaém e a Fazenda do Estado de São Paulo e conseguiu uma tutela de urgência.

A filha do autônomo ressaltou, assim como consta no parecer médico, juntado no processo, que a remoção rápida era necessária porque o fio-guia estava em uma área que podia causar a morte de Vanes.

O átrio direito é uma câmera do coração que recebe sangue de diversas partes do corpo, enquanto a jugular é a principal veia que drena o sangue da cabeça e pescoço.

Hemodiálise (imagem ilustrativa) — Foto: Julio Cavalheiro/Arquivo/SECOM

A Fazenda do Estado foi intimada em 2 de janeiro de 2024 e tinha 15 dias para conceder a cirurgia. Em nota, o Departamento Regional de Saúde (DRS) da Baixada Santista disse que a operação foi realizada em 20 de março deste ano. Ou seja, mais de dois meses depois do prazo estipulado pela Justiça.

Ainda de acordo com a pasta, o procedimento de retirada não é realizado em hospitais da região, devido ao nível de complexidade da operação. Por este motivo, Vanes fez a cirurgia no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo.

Por conta da demora, a Fazenda do Estado de São Paulo foi condenada a pagar uma multa de R$ 1 mil por dia de atraso, limitada ao valor de R$ 50 mil. Além disso, o órgão também foi obrigado a arcar com os honorários advocatícios, custas e despesas processuais.

Máquina de hemodiálise (imagem ilustrativa) — Foto: Reprodução/EPTV

A filha de Vanes disse que foi informada pelos médicos do Instituto Dante Pazzanese de que não foi possível fazer a retirada total do corpo estranho. De acordo com ela, a ponta ficou presa a uma fibrose [formação de tecido de cicatrização] que se criou após o médico responsável pelo erro tentar retirar o fio-guia a sangue frio.

“Isso aconteceu porque o médico responsável pelo erro tentou tirar a sangue frio, na época que soube. O que acabou só machucando mais”, afirmou Jullyana. Ela acrescentou que o pai continua fazendo hemodiálise no mesmo local porque não conseguiu transferência da unidade de saúde.

A família, porém, está pagando médicos particulares para ter uma avaliação exata dos riscos do pedaço que ficou após a cirurgia. De acordo com a filha, ainda teriam aproximadamente dez centímetros de fio-guia no corpo de Vanes.

Em nota, os advogados Alexandre Celso Hess Massarelli e Diego Renoldi Quaresma de Oliveira afirmaram que, diante de todo o sofrimento de Vanes, vão ingressar com uma nova ação na Justiça para que ele seja indenizado por danos morais.

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Todos os créditos desta notícia pertecem a G1 Santos.

Por: G1

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