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Rompimento de duas barragens agravou situação na Líbia; MAPA mostra percurso da água

today14 de setembro de 2023 8

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No mapa abaixo, é possível ver onde ficavam as duas barragens em relação à Derna.

As informações divulgadas pelo governo e órgãos líbios podem não ser precisas porque, desde 2011, o país está politicamente dividido entre leste e oeste. Por conta disso, os serviços públicos entraram em colapso. O governo internacionalmente reconhecido em Trípoli não controla as áreas orientais, o que dificulta a obtenção de dados na região. (Leia mais abaixo.)

Em 9 pontos, entenda a cronologia do evento climático:



  1. O fenômeno vem sendo citado com o nome de “tempestade Daniel” porque se desenvolveu inicialmente na Grécia e recebeu esse nome do Serviço Meteorológico Nacional Helênico.
  2. Na Grécia, a primeira morte por causa da chuva extrema foi no dia 5.
  3. Já naquela data autoridades afirmaram que a tempestade era o “maior fenômeno extremo em termos de quantidade de chuva em 24 horas” desde que a Grécia iniciou os registros.
  4. Na Grécia, após cinco dias de tormentas, 15 mortes foram causadas pelas enchentes. A Grécia chegou a ter pontos com 750 milímetros de chuva em 24 horas.
  5. O sistema de tempestades também afetou a Turquia e Bulgária.
  6. A OMM diz que tempestade que atingiu a Europa ganhou características de medicane à medida que se deslocava em direção à Líbia.
  7. Na Líbia, a tempestade atingiu o pico no nordeste no dia 10, com ventos fortes de 70 a 80 km/h.
  8. Ainda na Líbia, chuvas torrenciais de até 240 mm causaram inundações em várias cidades, incluindo Al-Bayda, que registrou 414,1 mm em 24 horas (das 8h do dia 10 até 8h do dia 11), número recorde segundo o Centro Meteorológico Nacional.
  9. Bairros inteiros da cidade de Derna desapareceram depois que duas barragens antigas colapsaram, segundo o serviço meteorológico líbio.

Imagens de satélite mostram antes e depois da tempestade na Líbia

Imagens de satélite mostram antes e depois da tempestade na Líbia

Características do medicane

De acordo com a OMM, o medicane é um fenômeno meteorológico híbrido que exibe algumas características de um ciclone tropical e outras de uma tempestade de latitudes médias.

“Historicamente, a atividade desse tipo de tempestade atinge o pico entre setembro e janeiro”, afirma a OMM.

Com atuação similar à de um ciclone extratropical, ele leva esse nome porque ocorre sobre o Mediterrâneo e, visto a partir dos satélites, exibe uma formação de nuvens que se parecem com as de um “olho” de furacão.

O termo foi criado na década de 1980, quando satélites captaram imagens de padrões de nuvens que lembravam um furacão, com o formato de uma espiral, com um centro sem nuvens (o olho do furacão), ao redor do qual havia nuvens e chuva.

Por ocorrer sobre o Mar Mediterrâneo, o nome surgiu da mistura entre as palavras “Mediterrâneo e “furacão” em inglês (hurricane).

Imagem Planet Labs PBC via AP Imagem Planet Labs PBC via AP

No canto esquerdo inferior é possível ver a barragem que foi rompida — Foto 1: Planet Labs PBC via AP — Foto 2: Planet Labs PBC via AP

Ao contrário do que parece, o principal perigo desse tipo de ciclone não são os ventos, mas sim as chuvas torrenciais que ele provoca, o que explica as inundações.

Segundo Marcelo Martins, meteorologista do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Epagri/Ciram), o Medicane atua como se fosse um ciclone.

“O que aconteceu na Líbia é um fenômeno que acontece muito naquela região porque o mar ali é muito quente. E chove muito, é como se tivesse tido um furacão, as características são praticamente as mesmas”, explica Martins.

Três dias antes, o centro meteorológico emitiu alertas sobre o evento climático extremo que se aproximava, notificando todas as autoridades governamentais para que tomassem medidas preventivas. As regiões que viriam a ser atingidas entraram em estado de emergência com base neste aviso.

Veja o momento em que enxurrada atingiu a cidade de Derna, na Líbia

Veja o momento em que enxurrada atingiu a cidade de Derna, na Líbia

Derna, no leste da Líbia, está entre as cidades mais atingidas pela tempestade. Além do grande acumulado de chuva, a região também enfrentou o rompimento de duas barragens.

  • Derna é cortada por um rio que desemboca no mar. Por este motivo, a região conta com barragens que foram construídas para proteger o núcleo urbano.
  • Durante a tempestade, moradores relataram que ouviram explosões, provocadas pelos rompimentos das barragens.
  • Os rompimentos aconteceram por volta da meia-noite, quando muitos moradores já estavam dormindo.
  • Segundo as autoridades, a força da água arrastou imóveis e centenas de pessoas em direção ao mar.
  • Cerca de 25% da cidade desapareceu, de acordo com o ministro da Aviação Civil, Hichem Abu Chkiouat.
  • A parede de água “apagou tudo em seu caminho”, disse o morador Ahmed Abdalla.
  • Até a última atualização, 5,3 mil mortes haviam sido confirmadas.

Derna enfrentou um cenário de guerra após o rompimento das barragens do rio Wadi Derna. Edifícios inteiros desmoronaram, e carros amanheceram empilhados.

Imagem Planet Labs PBC via AP Imagem Planet Labs PBC via AP

Cidade de Derna, uma das mais atingidas pelas enchentes na Líbia — Foto 1: Planet Labs PBC via AP — Foto 2: Planet Labs PBC via AP

  • Na segunda-feira (11), a cidade amanheceu inundada. Imagens divulgadas pela televisão local mostraram a água barrenta entre edifícios e casas de Derna.
  • Com a água baixando aos poucos, as ruas da cidade ficaram cobertas de lama e destroços.
  • Os corpos das vítimas também começaram a aparecer em diversos locais, como nas ruas, em vales e em cima de prédios.
  • Hospitais ficaram lotados. Além dos mortos e dos feridos, famílias procuraram por socorro para tentar localizar parentes que tinham desaparecido.
  • “Nunca me senti tão assustado como agora… Perdi contato com toda a minha família, amigos e vizinhos”, disse Karim al-Obaidi que viajou de Trípoli para o leste do país em busca de informações.
  • A estimativa é de que 10 mil pessoas estejam desaparecidas.

Em 2011, a Líbia foi dividida entre governos rivais após a queda de Muammar Kadhafi. A administração reconhecida pela ONU está baseada em Trípoli. No entanto, essa gestão não tem controle sobre o leste do país, que foi mais afetado pela tempestade.

  • Atualmente, a Líbia tem dois primeiros-ministros: Abdul Hamid Dbeibah fica em Trípoli e comanda a faixa oeste; já Ossama Hamad governa o lado leste da cidade de Benghazi.
  • Ambos os governos possuem apoios de países diferentes. Enquanto Trípoli tem o apoio da Turquia, Catar e Itália, o governo de Benghazi é respaldado por Egito, Rússia e Emirados Árabes.
  • Mesmo diante da pressão internacional, o país enfrenta dificuldades em ser unificado. Em 2021, uma eleição chegou a ser marcada, mas acabou adiada.
  • Diante da disputa, conflitos violentos entre grupos rivais já mataram dezenas de pessoas. Em agosto, por exemplo, um confronto entre grupos armados deixou 45 mortos em Trípoli.
  • A Líbia também possui grandes reservas de petróleo. No entanto, a riqueza reflete muito pouco no dia a dia da população.
  • A divisão do país e a tempestade provocou o colapso de serviços públicos.

Veja imagens da enchente que atingiu a cidade de Derna




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Por: G1

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