O fenômeno físico ‘Kelvin-Helmholtz’, que é o encontro de massas de ar em diferentes velocidades, transformou as nuvens do céu de Santos (SP) em “ondas”. Ao g1, Giovani Heinzen Vicentin, doutorando em astronomia pela Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e pela Universidade de São Paulo (USP), explicou que o processo é comum em planetas como Saturno e Júpiter.
O padrão das nuvens chamou a atenção do especialista em climatologia e astronomia, Rodolfo Bonfim, que passeava pela cidade. Ele explicou que o fenômeno no céu também pode indicar a chegada de uma frente fria.
Segundo Giovani, na prática, uma massa de ar frio que veio do Sul do Brasil se encontrou com uma massa de ar quente ‘estacionada’ nas partes mais altas da atmosfera sobre Santos (SP). Como as duas tinham diferentes velocidades, a instabilidade aconteceu.
O doutorando definiu o fenômeno Kelvin-Helmholtz como uma “instabilidade que acontece quando há dois meios, [ou seja], dois fluidos que se movem um em relação ao outro”.
🔭 O fluido é jogado do local de maior para o de menor pressão, levando ao aumento da amplitude das ondas e à perturbação, que gera a instabilidade mencionada por Giovani.
Na Terra e até no ‘vácuo’
— Foto 1: Rodolfo Bonafim — Foto 2: Sonda Juno – NASA
O estudante de doutorado acrescentou que nem sempre é necessário ter atmosfera para que o fenômeno aconteça. O processo pode ocorrer, por exemplo, entre uma massa ejetada nas proximidades de um buraco negro e o ambiente externo, que segundo ele é basicamente “vácuo”.
Giovani explicou que apesar de Netuno e Urano serem planetas gasosos, frios e distantes do Sol, eles apresentam a superfície mais homogênea. Sendo assim, a instabilidade é mais marcante em Júpiter e Saturno, que segundo ele recebem mais “atenção de sondas enviadas ao espaço”.
Em Júpiter, dono da maior atmosfera planetária do Sistema Solar, há velocidades diferentes que variam conforme a latitude, ainda segundo Giovani. Essas camadas de diferentes densidades interagem e formam a instabilidade como a que ocorreu em Santos (SP).
Já Rodolfo, o especialista em climatologia e astronomia, explicou que Júpiter “gira muito rápido” e, portanto, as massas de ar seguem em sentido oposto à rotação, o que reforça o cenário descrito por Giovani.
Rodolfo acrescentou que, em Júpiter, os ventos chegam a até 600 km/h. “Ém planeta muito frio, mas lá no centro deve ter alguma fonte de calor que gera [mais] turbulência”, pontuou.
‘Close’ do céu com nuvens cirrus fluctus em Santos (SP) — Foto: Rodolfo Bonafim
Rodolfo explicou que esse tipo de instabilidade pode acontecer no mundo todo, normalmente em estações de transição, como no fim do outono ou começo do inverno, por exemplo. Segundo o especialista, ela é mais rara no verão, principalmente levando em conta as transformações climáticas recentes.
“Em regiões como a Baixada Santista, que é uma região de transição, a gente tem o encontro de várias massas de ar de características diferentes. É uma região mais propícia do que outros lugares”, complementou Rodolfo Bonafim.
Giovani afirmou, por fim, que a instabilidade costuma durar somente algumas horas. De acordo com ele, a turbulência vai ‘desmanchando’ as ondas aos poucos, levando as nuvens a se desfazerem ou até transformando-as em nuvens “comuns”.
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