Toda criança precisa de uma rotina; mas, não uma qualquer; e sim uma que dê a ela qualidade de vida e desenvolvimento, pois rotina por rotina, qualquer coisa pode virar uma rotina.
O que escrevo aqui é o básico sobre desenvolvimento infantil. Como no mundo atual há uma grande dificuldade por parte dos pais em compreender e impor limites aos filhos, quero explicar em três pontos, e de forma objetiva, a importância da rotina na vida das crianças.
A rotina do sono
Crianças que desde os primeiros anos de vida possuem horário para dormir e acordar, bem como cochilar, tendem a ter melhor desenvolvimento físico, motor e cognitivo; são mais ativas e menos suscetíveis a desenvolver problemas como a insônia.
Por outro lado, crianças cujos pais não estabelecem um ciclo de sono regulado, deixando-as dormir ou acordar aleatoriamente, tendem a ser menos produtivas fisicamente (aspecto de criança enfadada e preguiçosa por mais tempo que o comum), e a ter maior dificuldade de aprendizagem.
Isso acontece, porque, como o cérebro da criança não reconhece um ciclo de funcionamento, o seu corpo passa a ter dificuldades para se ajustar de acordo com a oscilação da rotina, de modo que a criança pode ter picos de sono ou atividade em horários diversos do dia.
Rotina de atividades
Crianças que possuem uma rotina diária de atividades se sentem mais felizes e seguras em relação a outras. Elas possuem maior senso de responsabilidade individual, de colaboração e interação de grupo.
Elas desenvolvem, desde cedo, noções básicas de autonomia e compromisso, o que dá a elas maior autoestima e resiliência diante dos problemas.
Por outro lado, crianças que não possuem rotina de atividades e, em vez disso, vivem perambulando pela casa, ou em outro ambiente, se sentem menos “norteadas”. Por isso, são mais inseguras, com maior dificuldade de interação e desenvolvimento de habilidades sociais.
Rotina de outros na casa
Crianças precisam e devem estar inseridas dentro de uma rotina que envolve outros da casa ou o ambiente. Se a sua casa possui uma rotina, de modo que seus filhos estão adaptados a ela, qualquer interferência externa que venha a “bagunçar” essa rotina será prejudicial para a criança.
Numa casa com muitas pessoas, por exemplo, a rotina da “família-núcleo” (principais responsáveis da casa) deve existir e ser preservada/respeitada, pois é essa rotina que a criança terá como sua referência de formação.
Isto é, assim como não deve haver interferência externa na autoridade dos pais sobre os filhos, também não pode haver interferência na rotina imposta pelos pais sobre os filhos, mesmo em um ambiente comum, no qual há mais pessoas além dos pais no mesmo espaço.
Nesse caso, todos da casa devem colaborar para que a criança não tenha a sua rotina perturbada, a fim de que rotinas paralelas não sejam capazes de prejudicar a rotina da criança pertencente à “família-núcleo”.
Quando essa distinção não existe, a criança tende a se desenvolver com as suas referências de autoridade e disciplina fragmentadas e/ou confusas, o que se repercutirá, no futuro, sobre a saúde emocional da criança já mais amadurecida, especialmente na adolescência.
Conclusão
Como é possível notar, a partir dessa rápida exposição, a rotina de sono, atividades e de pessoas na vida de uma criança vai muito além da mera existência de uma ocupação de tempo.
O sono deve ser direcionado, a fim de que o corpo da criança estabeleça o seu relógio biológico natural, o qual a beneficiará para o resto da vida. Isso não significa ignorar as diferenças individuais, nem os diferentes contextos, em que cada indivíduo pode exigir um tipo de adaptação.
O mesmo podemos dizer das atividades. Deixar a criança na frente de um celular, por exemplo, não é atividade sadia, nem livre. É atividade nociva que condiciona o cérebro a um tipo de vício semelhante ao uso de drogas.
No mais, tudo, e todos no ambiente familiar, deve estar voltado para o melhor desenvolvimento da criança. Obviamente erros fazem parte, bem como as exceções, mas é para isso que buscamos aperfeiçoamento e bom senso. Pense nisso!
Marisa Lobo possui graduação em Psicologia, é pós-graduada em Filosofia de Direitos Humanos e em Saúde Mental e tem habilitação para Magistério Superior.
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