Marisa Lobo
– 12/04/2022 13h25
Chegou ao meu conhecimento um novo tipo de droga; dessa vez, em formato “virtual”, conhecida como I-Doser. Se trata de um produto criado em formato de ondas sonoras que, teoricamente, quando em contato com o ouvinte, possui o poder de provocar reações no cérebro semelhantes às drogas convencionais, como a cocaína ou a maconha.
Não vou entrar em detalhes sobre como a droga funciona, até porque ela está sendo mais bem conhecida. E ainda não se sabe ao certo quais são os seus impactos em médio e longo prazo, por exemplo, bem como o seu nível de dependência.
A importância aqui, no entanto, deve recair em dois pontos, que são a fácil disponibilidade do produto, bem como o motivo que faz os jovens se interessarem por ele. Portanto, estamos falando de algo mais amplo e complexo do que a mera existência de mais uma droga no mercado.
FALTA DE FILTROS NA INTERNET
O primeiro alerta que faço aos pais é quanto à necessidade de filtros na internet. Ou seja, da capacidade dos pais selecionarem o que os filhos podem ou não ter acesso online. É algo extremamente difícil, mas não impossível. Não tem a ver com proibições cruas, mas sobretudo com a conscientização acerca dos perigos do mundo virtual.
Proibir por proibir não é algo eficaz, pois os filhos normalmente encontram meios de burlar as regras. Isso vale para o acesso a sites e canais que oferecem a droga I-Doser, como para outros tipos de conteúdo nocivos à saúde mental e até física dos nossos filhos.
A conscientização passa pela intimidade dos pais com os filhos. É um nível de relação que existe com base na confiança do jovem em relação à sabedoria e autoridade dos pais. Isso é algo que deve ser construído ao longo da vida, e não imposto da noite para o dia.
Explicar a seus filhos que na internet nem tudo é bom, e que drogas como a I-Doser são reflexos de um mundo adoecido, carente de Deus e confuso, é o primeiro passo para prevenir que os menores caiam nessas armadilhas. A partir disso, você deve se adequar ao contexto de maturidade, curiosidade e necessidades de cada filho.
CARÊNCIA POR SENTIDO
O outro aspecto que quero destacar, junto aos pais, é que o surgimento de modismos como esse da droga virtual I-Doser, pode ser o reflexo de uma geração de crianças e adolescentes cada vez mais carentes de sentido de vida, utopias e referenciais positivos.
Durante as décadas de 60 e 70, tivemos no mundo uma explosão de consumo de drogas como a heroína e a maconha. Isso, porque, naquele contexto, o planeta havia acabado de sair da 2ª Grande Guerra Mundial, mas ainda estava na iminência de um novo conflito de proporções inimagináveis, período conhecido como Guerra Fria.
Os jovens daquela geração mergulharam em uma onda de pessimismo em relação ao futuro, pois viram que, apesar da evolução tecnológica e cultural, a humanidade foi capaz de provocar o genocídio de milhões de pessoas em nome do poder e de outros interesses. A anarquia, muito dela por meio do consumo de drogas e do liberalismo sexual, surgiu como um reflexo desse contexto de frustrações.
E atualmente? Ora, estamos em um contexto de completo caos pós-pandêmico! Famílias inteiras foram enclausuradas em suas casas por causa de medidas restritivas absurdas. Crianças e adolescentes deixaram de frequentar escolas e de ter contato com os seus amigos.
Pais e mães perderam empregos; empresas foram à falência; o mercado global se desestabilizou; uma guerra na Europa teve início e a ameaça nuclear voltou a assombrar a humanidade. Tudo isso tem servido – na cabeça de jovens que já vivenciam suas crises pessoais – para acentuar a desesperança nesta geração.
Consequentemente, a busca por meios de se “desligar” do mundo real por meio das drogas, tende a piorar. Nos Estados Unidos, por exemplo, o número de mortes por overdose teve um aumento assustador durante a pandemia. A I-Doser, portanto, é só mais um reflexo desse adoecimento social coletivo.
CONCLUSÃO
A minha recomendação aos pais é que foquem na qualidade de vida dos seus filhos. Na prática, isso significa dar um sentido saudável ao uso da internet, de modo que o mundo virtual não sirva como um substituto do físico, mas apenas um agregador.
Sobretudo, investir no bom relacionamento pessoal, no qual há espaço para o diálogo de confiança com os filhos, também é algo fundamental. Tudo isso deve ser feito em conjunto e constantemente. Pode não ser fácil, mas sem dúvida é o melhor caminho.
|
Marisa Lobo possui graduação em Psicologia, é pós-graduada em Filosofia de Direitos Humanos e em Saúde Mental e tem habilitação para Magistério Superior.
|
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
Leia também1 Alerta aos pais: “Droga virtual” I-Doser vira mania entre jovens
2 Jovens fazem TikTok cheirando pó de corretivo líquido. Entenda!
3 Matéria de O Globo retrata a “masturbação infantil” como normal entre crianças
4 Estupro de vulnerável? Pense bem, antes de exaltar o tal “morador de rua”
5 Crianças no funk: A proteção dos filhos começa em casa, pelo exemplo dos pais
Siga-nos nas nossas redes!
O autor da mensagem, e não o Pleno.News, é o responsável pelo comentário.
Publicar comentários (0)