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A tentativa de golpe, segundo o governo, foi arquitetada pelo general Juan José Zuñiga, que foi afastado do cargo de comandante do Exército após fazer ameaças ao ex-presidente Evo Morales — ele afirmou que prenderia Morales caso o ex-presidente volte ao poder. (Leia mais abaixo)
“A Bolívia tem 193 golpes ou tentativas de golpe de Estado em sua história. Hoje foi a de número 194 e pelo que estamos vendo ela deu errado. Que bom que deu errado, a democracia boliviana mostrou que tem esses anticorpos para se defender”, disse Santoro, que é cientista político e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil.
Segundo Maurício Santoro, é “muito preocupante” que a tentativa de golpe de hoje tenha acontecido, porque não foi um caso isolado no contexto da América Latina. Ainda neste ano na Guatemala houve uma tentativa de impedir a posse de um presidente eleito Bernardo Arévalo. No ano passado, houve uma tentativa de golpe de Estado no Brasil com as invasões de 8 de janeiro ao Palácio do Planalto.
“Então é um momento delicado para a democracia na América Latina. Até agora a democracia tem conseguido a responder a isso, mas existem problemas estruturais que vão permanecer como risco. No caso específico da Bolívia, tem toda a tensão envolvendo o ex-presidente Evo Morales. Se ele voltar a se candidatar no ano que vem, como a sociedade boliviana vai lidar com isso? Para muitas pessoas na Bolívia, ele representa ameaças de medidas autoritárias. É um país que ficou muito polarizado”, afirmou Santoro.
Presidente da Bolívia denuncia golpe do Exército
Arce, que no momento da invasão estava na sede atual do governo, em um prédio ao lado do palácio presidencial, chegou a confrontar pessoalmente Zuñiga durante a invasão ao palácio (leia mais abaixo). Na discussão, o presidente ordenou que o ex-comandante do Exército desmobilizasse as tropas. Mais tarde, em pronunciamento, Arce trocou toda a equipe do Exército boliviano e reforçou a ordem de retirada das tropas.
O presidente também destitui os outros dois comandantes das Forças Armadas.
O novo comandante, segundo a agência de notícias Reuters, desmobilizou as tropas, e os tanques começaram a se retirar do palácio presidencial e da praça Murillo, em frente ao palácio.
Zuñiga, que foi à praça Murillo disse a TVs locais que o movimento era uma “tentativa de restaurar a democracia” na Bolívia e de libertar prisioneiros políticos.
Presidente da Bolívia discute com comandante do Exército acusado de tentar golpe
A Suprema Corte da Bolívia também condenou a tentativa de golpe e pediu à comunidade internacional que se mantenha “vigilante e apoio a democracia na Bolívia”.
Presidente da Bolívia diz que país sofre tentativa de golpe de estado
Veja o que se sabe até agora sobre o episódio:
O ex-presidente da Bolívia Evo Morales, que rompeu com Arce no ano passado, mas faz parte do mesmo movimento do atual presidente, afirmou tratar-se de um golpe de Estado. Segundo Morales, um regimento do Exército colocou francoatiradores em uma praça de La Paz. O ex-presidente o general Juan José Zuñiga de estar por trás da mobilização.
“Convocamos uma mobilização nacional para defender a democracia diante do golpe de Estado que o general Zuñiga está gestando”, disse Morales. “Não permitiremos que as Forças Armadas violentem a democracia e amedrontem o povo”.
Em comunicado, Zuñiga falou que “as coisas vão mudar”, embora não tenha confirmado o golpe de Estado.
“Os três chefes das Forças Armadas vieram expressar a nossa consternação. Haverá um novo gabinete de ministros, certamente as coisas vão mudar, mas o nosso país não pode continuar assim”, disse o general Juan José Zuniga a uma estação de televisão local.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou apoio a Luis Arce e disse condenar a tentativa de golpe.
“A posição do Brasil é clara. Sou um amante da democracia e quero que ela prevaleça em toda a América Latina. Condenamos qualquer forma de golpe de Estado na Bolívia e reafirmamos nosso compromisso com o povo e a democracia no país irmão”, declarou Lula.
O presidente de Honduras, atualmente na presidencia da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), também falou em golpe de estado e pediu uma reunião de emergência dos Estados-membros — o Brasil é um deles.
Soldados bolivianos protegem palácio presidencial na Praça Murillo em La Paz, na Bolívia, em 26 de junho de 2024. — Foto: AP Photo/Juan Karita
A Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou a movimentação e pediu respeito à democracia.
A ex-presidente da Bolívia, Jeanine Añez — de oposição a Arce — também condenou a movimentação dos militares.
“Repúdio total à mobilização de militares na praça Murillo (em frente ao palácio presidencial) pretendendo destruir a ordem constitucional”, disse. “Nós boliviamos defendemos a democracia”.
Em um comunicado em suas redes sociais, Arce também pediu que a democracia seja respeitada.
Nos últimos cinco anos, a Bolívia viveu diversos momentos de turbulência política.
Em 2019, o terceiro mandato de Evo Morales foi interrompido por um golpe de estado que se seguiu a um movimento de protesto e greves reunindo setores populares, de classe média e empresariais. Evo havia acabado de ser eleito no primeiro turno das eleições presidenciais, em outubro, para um quarto mandato –que não tinha cobertura institucional. Ele renunciou à presidência e deixou a Bolívia.
Após Morales deixar o cargo, Jeanine Áñez Chávez se autoproclamou presidente interina da Bolívia. Ela os apoiadores do golpe foram presos em 2021, junto com o excomandante do Exército boliviano Jorge Pastor Mendieta Ferrufino, que liderou o golpe em 2019, segundo a Agência Boliviana de Informação.
Em 2008 também houve tentativa de golpe, mas que fracassou. O governo da Bolívia denunciou o início de um “golpe civil” realizado pela oposição conservadora do Departamento de Santa Cruz, mas descartou a possibilidade de decretar um estado de sítio para diminuir a tensão política.
Arce e Evo Morales, que eram aliados, agora são adversários por causa das eleições presidenciais de 2025. Morales será o candidato do MAS.
A legenda governista que Morales lidera afastou Arce por ele se recusar a participar do congresso do (MAS), realizado entre terça e quinta-feira em Cochabamba.
Por: G1
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