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Família de homem morto pela Rota no litoral de SP diz que ele sofreu tortura e teve tatuagens arrancadas do corpo

today14 de fevereiro de 2024 3

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A versão da família é outra. A irmã Mayara dos Santos garantiu que José não tinha arma e saiu de casa para comprar gasolina. De acordo com ela, testemunhas contaram ter visto a abordagem policial e escutado as respostas aos agentes e os disparos.

Segundo Mayara, não houve confronto e o homem foi baleado após responder que tinha passagem criminal. Além disso, a família acredita que ele sofreu mais do que disparos, pois o corpo de José Marcelo tinha muitas marcas.

“Meu irmão estava todo machucado, espancado e esfaqueado. Arrancaram tatuagem dele do braço e da perna”, afirmou a jovem, com base no relato da cunhada, que fez o reconhecimento do corpo no Instituto Médico Legal (IML).



“Sei que uma das tatuagens que arrancadas era o desenho de um palhaço. Para eles (policiais), tatuagem de palhaço é matador de policial, mas meu irmão nunca matou ninguém”, disse.

De acordo com ela, os familiares vão procurar a Ouvidoria da Polícia Militar para reivindicar por investigação, pois basta ver os ferimentos no corpo de José para comprovar que não batem com os depoimentos prestados pelos policiais da Rota, que foram registrados em BO.

“Houve muito mais. [Teve] tortura. O tiro na boca do meu irmão foi super perto. Não tem como um tiro de longe [em tiroteio] fazer tanto estrago como fez”, contou.

No boletim de ocorrência do caso, a vítima é tratada como não identificada. Ao g1, Mayara contou que a família não foi informada sobre a morte de José Marcelo e estava procurando o homem como desaparecido, pois ele não tinha voltado desde que saiu para comprar gasolina com o RG no bolso.

Na segunda-feira (12) pela manhã, a esposa dele começou as buscas pelo marido junto com a família. “A gente saiu para procurar e viu a Rota passando pela casa do pessoal. Minha cunhada foi até a Rota, perguntou, mostrou a foto dele e falou que estava desaparecido. Eles falaram que não sabiam de nada, que não tinha nenhuma informação”, disse a irmã.

Ao perguntar para a população, a família descobriu que um homem com características parecidas tinha sido baleado. “A gente começou a procurar em hospital e não achamos nada”, relembrou a irmã.

O corpo de José Marcelo foi localizado já no Instituto Médico Legal (IML) e reconhecido pela esposa dele, que viu as marcas de agressão e as tatuagens arrancadas.

De acordo com a irmã, José Marcelo já trabalhou como pintor, ajudante geral e mecânico, mas atualmente tinha um comércio de coxinha com a esposa na Vila dos Criadores, onde a família mora. Ele deixa três filhos, de 8, 10 e 11 anos.

Mayara contou que o irmão já foi usuário de droga e, inclusive, teria sido preso ao ser confundido, segundo ela, com um traficante, enquanto comprava entorpecentes em Guarujá. No entanto, ele ficou um ano detido e, desde que foi liberado, não usou mais drogas.

O velório de José Marcelo precisou ser feito com caixão fechado e ele foi sepultado no cemitério da Areia Branca, em Santos, na terça-feira (13).

Procuradas pelo g1, a Polícia Militar (PM) e a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) não se manifestaram sobre a denúncia até a publicação desta matéria. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) também não respondeu sobre a passagem criminal de José Marcelo.

De acordo com o boletim de ocorrência obtido pela equipe de reportagem, uma equipe da Rota fazia ronda pelo bairro Alemoa na noite de domingo (11), quando um homem – sem identificação – passou andando de bicicleta pela Avenida Bandeirantes e demonstrou nervosismo.

Segundo a polícia, o suspeito recebeu ordem de parada, mas não obedeceu. Consta no BO que ele teria deixado a bicicleta, sacado a arma e efetuado dois disparos contra os policiais. Um dos tiros, inclusive, teria acertado a viatura policial. Os PMs da Rota revidaram com dois tiros.

O homem foi baleado e caiu no chão. Os policiais o desarmaram e levaram o suspeito até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Zona Noroeste, onde ele foi atendido pela equipe médica, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.

Com o suspeito, de acordo com o BO, os PMs da Rota encontraram drogas, que foram apreendidas e apresentadas na Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Santos. As armas dos policiais e do suspeito foram entregues para a Polícia Científica para serem periciadas.

Com a ocorrência de José, subiu para 20 o número de suspeitos mortos durante confrontos com a polícia durante a Operação Verão.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afirmou que todos os casos são rigorosamente investigados pela 3ª Delegacia de Homicídios da Deic de Santos, com o acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário.

Relembre outras mortes em confrontos policias no litoral de SP:

O primeiro suspeito, que não foi identificado, morreu na madrugada. O caso aconteceu na Avenida Francisco da Costa Pires, no bairro São Jorge, em Santos. Segundo a SSP-SP, policiais da Rota estavam em operação no local quando foram recebidos a tiros pelo homem e revidaram. O suspeito chegou a ser socorrido ao Hospital Vicentino, mas não resistiu.

José Marcos Nunes da Silva, de 45 anos, foi morto dentro do próprio barraco na comunidade do Sambaiatuba — Foto: Arquivo Pessoal e g1 Santos

Por volta das 11h do mesmo dia, outro suspeito – também não identificado – morreu na Rua Joaquim Teixeira de Carvalho, no bairro do Bom Retiro, em Santos. Ele foi atingido após atirar contra policiais do 3º BPChq.

Durante aquela noite, outras três mortes foram registradas na Vila dos Criadores, também em Santos. De acordo com a SSP-SP, suspeitos atiraram contra policiais que faziam uma incursão na região e, depois, fugiram. No entanto, houve troca de tiros e o trio acabou atingido.

Rodnei da Silva Sousa, de 28 anos, morreu após ser baleado por tiros de fuzis de dois PMs da Rota no Morro São Bento, em Santos. Ele estava em um carro de aplicativo que foi abordado pelos agentes.

Segundo o boletim de ocorrência, o motorista de aplicativo atendeu a ordem dos policiais e desceu. Porém, o passageiro, que estava no banco da frente, teria apontado uma arma contra os agentes. Dois PMs reagiram e dispararam.

Rodnei veio de Peruíbe e vivia no Morro do São Bento, em Santos (SP); ele deixou filho de 4 anos — Foto: Arquivo pessoal

  • Quarta-feira (7) – seis mortos

Gabriel da Silva Batista de Sena, de 14 anos, morreu após ser baleado por uma equipe da Polícia Rodoviária na Rodovia dos Imigrantes, durante a madrugada, na altura de Cubatão. Segundo boletim de ocorrência, obtido pelo g1, policiais viram três homens em atitude suspeita andando na beira da rodovia. Eles desembarcaram da viatura e foram surpreendidos por disparos de arma de fogo.

Durante a noite, por volta das 21h50, outros dois homens morreram em Itanhaém. Segundo a PM, uma equipe da Força Tática estava em patrulhamento na Rua Manoel Francisco Lisboa, no bairro Belas Artes, quando avistou suspeitos. Eles efetuaram diversos disparos de arma de fogo contra a equipe, que se defendeu. Dois homens foram baleados e morreram no local, enquanto os demais fugiram.

Mais tarde naquela noite, por volta das 22h45, um homem identificado como Jonathan Correa de Oliveira, morreu baleado por policiais militares do 6º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP) na comunidade da Vila dos Pescadores, em Cubatão (SP). Ao notar a aproximação da equipe, o suspeito teria sacado uma pistola e atirado diversas vezes contra os policiais militares, que revidaram.

Suspeito que morreu em São Vicente foi levado ao PS Central, mas chegou sem vida — Foto: Alexsander Ferraz/A Tribuna Jornal

  • Quinta-feira (8) – dois mortos

Dois homens, que ainda não foram identificados, morreram em confronto com policiais militares da Rota em frente a um terreno baldio de Santos.

De acordo com o boletim de ocorrência, agentes averiguavam uma denúncia sobre a localização do acusado de matar o policial Samuel Wesley Cosmo, quando viram homens que dispararam contra os PMs enquanto fugiam. Uma outra equipe se deparou com os indivíduos e durante confronto, dois suspeitos foram baleados.

  • Sexta-feira (9) – quatro mortos

Por volta das 10h30, um adolescente de 16 anos morreu após entrar em confronto com policiais militares no bairro Vila Voturuá Independência, em São Vicente. A equipe policial apurava uma denúncia de tráfico de drogas.

Com o adolescente, foi apreendida uma mochila com 66 pinos com cocaína, 96 pedras de crack, 48 porções de haxixe e 44 cigarros de maconha, além de porções de K9, um caderno com anotações, um celular, a quantia de R$ 389,00 e revólver calibre 22 municiado.

Confronto aconteceu no Morro São Bento, em Santos (SP) — Foto: Reprodução

De acordo com a corporação, a dupla passou a atirar na direção dos policiais, que revidaram com tiros de fuzis. Ao todo, foram dez disparos: sete realizados por um dos agentes e três por outro. Os homens, identificados como Jefferson Ramos Miranda e Leonel Andrade Santos, foram levados até o hospital, mas não resistiram.

Assassinato do PM Wesley Cosmo

PM da Rota Samuel Wesley Cosmo (à esq.) morreu após ser baleado por Kaique Coutinho do Nascimento, o ‘Chip’ (à dir.) — Foto: Reprodução e Divulgação/Polícia Civil

Samuel Wesley Cosmo foi baleado no rosto por um suspeito durante patrulhamento na Praça José Lamacchia, em Santos (SP), no dia 2 de fevereiro. O agente chegou a ser socorrido para a Santa Casa de Santos (SP), mas morreu no local.

A morte do PM da Rota, assim como o assassinato de outros policiais na Baixada Santista (veja abaixo), motivou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) a instaurar a 3ª fase da Operação Verão na região.

O Programa de Recompensa, instituído pelo decreto 46.505, de 21 de janeiro de 2022, existe para estimular a população a contribuir com a polícia, compartilhando informações úteis que possam ajudar a localizar criminosos.

Qualquer pessoa com informações sobre a identidade ou localização de algum procurado, pode fazer a denúncia de forma anônima por telefone pelo número 181. Dessa forma, o denunciante será atendido por um telefonista e poderá passar as informações sem se identificar.

Outra opção de denúncia é pelo site WebDenuncia por meio deste link. Nele, basta clicar em denunciar e seguir passo a passo. Ao final, o denunciante recebe um número de protocolo par acompanhar o andamento da denúncia. As informações serão verificadas por uma equipe e, caso seja comprovada, a pessoa que as forneceu é comunicada.

Para receber a recompensa, a tela do WebDenuncia mostrará um número de cartão bancário virtual, que permitirá saques do valor em qualquer caixa eletrônico do Banco do Brasil, sem que haja a necessidade de identificação. A retirada pode ser feita de uma vez ou aos poucos, como um cartão bancário comum.

Policiais militares Marcelo Augusto da Silva, Samuel Wesley Cosmo e José Silveira dos Santos, mortos na Baixada Santista (SP) — Foto: Reprodução/Redes Sociais e g1 Santos

No dia 26 de janeiro, o policial militar Marcelo Augusto da Silva foi morto na rodovia dos Imigrantes, na altura de Cubatão. Ele foi baleado enquanto voltava para casa de moto. Uma grande quantidade de munições estava espalhada na rodovia. O armamento de Marcelo, no entanto, não foi encontrado.

Segundo a Polícia Civil, Marcelo foi atingido por um disparo na cabeça e dois no abdômen. Ele integrava o 38º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) de São Paulo, mas fazia parte do reforço da Operação Verão em Praia Grande (SP).

No dia 2 de fevereiro, o policial das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Samuel Wesley Cosmo morreu durante patrulhamento de rotina na Praça José Lamacchia. O agente chegou a ser socorrido para a Santa Casa de Santos (SP), mas morreu na unidade.

Uma gravação de câmera corporal obtida pelo g1 mostra o momento em que o soldado da Rota foi baleado no rosto durante um patrulhamento no bairro Bom Retiro (assista abaixo).

Vídeo mostra o PM da Rota sendo baleado no rosto em viela no litoral de SP

Vídeo mostra o PM da Rota sendo baleado no rosto em viela no litoral de SP

Gabinete na Baixada Santista

Secretário de Segurança Publica do estado de São Paulo, Guilherme Derrite, divulgou a identidade do suspeito de matar o PM da Rota Wesley Cosmo — Foto: Reprodução

Após a morte do cabo da PM José Silveira dos Santos, na quarta-feira (7), a Secretaria de Segurança de São Paulo (SSP-SP) montou um gabinete em Santos para coordenar a operação policial da região.

Ele ainda se posicionou sobre o nome da operação policial em vigor. Derrite corrigiu uma informação errada da pasta que, após a morte do PM da Rota Samuel Cosmo, disse ter deflagrado uma nova Operação Escudo na região.

O secretário apontou que o aumento do efetivo no litoral paulista após o assassinato do policial se deve a um reforço na Operação Verão e que a instalação do gabinete da SSP-SP no CPI-6, na quinta-feira (8), representa a 3ª fase da ação.

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Todos os créditos desta notícia pertecem a G1 Santos.

Por: G1

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