O mercado de apostas cresce no mundo todo. Em 2024 deve chegar a R$ 200 bilhões. No Brasil, terceiro maior mercado do mundo, estima-se que a movimentação anual seja de mais de R$ 20 bilhões.
Os recursos da população mais pobre estão sendo “arrastados” para esse poço sem fundo onde só a “banca” sai vencedora de verdade. Estudo recente do Banco Central aponta que as apostas consumiram mais de R$ 3 bilhões de beneficiários do Bolsa Família em um único mês. Dados de agosto de 2024 revelam que em média R$ 147 saem de cada família mais pobre do Brasil e vai para os sites de apostas conhecidos como bets.
O desequilíbrio econômico decorrente das bets é um dano, hoje, imensurável para o país. De forma didática podemos explicar o efeito econômico imaginando a entrada de um novo nicho de mercado, uma opção nova para você gastar, subtraindo o dinheiro das opções que você já utilizava para consumir, por exemplo, supermercado, padaria, farmácia, lazer e demais.
Como esse efeito ocorre na prática? Reduzindo R$ 3 bilhões da renda das famílias mais pobres, beneficiárias do Bolsa Família, evidente que deixam de gastar na economia real para jogar. Por exemplo: é o pai de família que compra arroz e feijão para sua casa, mas agora não leva mais o biscoito recheado para as crianças, como fazia antes; é a mãe de família que agora compra salsicha em vez de comprar frango na sua cesta de alimentação mensal; é o jovem que deixa de ir ao cinema ver o novo filme da Marvel e agora fica na tela do telefone vidrado no resultado da sua aposta. Todas essas exemplificações são verdadeiras, e ocorrem no mundo real, infelizmente.
Claro que estamos falando apenas do mal causado na esfera econômica, seja de forma coletiva com a supressão de recursos da economia, ou do mal causado de forma individual com o endividamento crescente das famílias em decorrência do vício em jogos de azar. Mas temos outros males decorrentes dos jogos, problemas de saúde pública, decorrentes do vício em jogo, conhecido com ludopatia.
Estudo recente do Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) estima que entre 2 e 3 milhões de brasileiros sofram dessa doença que está potencializada com a liberação dos jogos de azar online no país.
Do outro lado do balcão, temos um governo Lula que só pensa em inchar a máquina pública e com isso buscar novas fontes de financiamento desta política fiscal irresponsável e ineficiente. Quando falam em regular as bets não estão pensando em proteger os mais humildes do vício, querem sim quantificar quanto e como podem fazer para tributar o “dono da banca”. Eu fico imaginando os burocratas do Haddad balbuciando na frente de uma calculadora HP12C, “pagando bem que mal tem”.
Com suas ações, até o momento, o governo Lula diz aos proprietários de bets: “Ganhem bilhões de reais no Brasil, não importa o custo econômico, social e de saúde pública dos meus indivíduos, desde que dividam esse lucro pagando altos tributos. Fiquem tranquilos, para este nosso acordo tácito vou dar um nome bacana, regulamentação das bets”.
O Brasil carece de uma política pública que proteja os brasileiros, o povo padece e a bet agradece.
Fábio Guimarães é economista, formado pela UFRRJ com MBA em Gestão de Negócios pelo IBMEC-RJ. Palestrante, consultor e debatedor, atua há mais de 20 anos como gestor nos poderes Executivo e Legislativo, com ênfase nas áreas de trabalho, renda e desenvolvimento econômico.
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