Foi em abril de 2016. Com meu companheiro de ministério e amigo Jônatas Hübner, tive o privilégio de visitar a Biblioteca da Universidade de Coimbra, referência do mundo lusófono. Além da alegria de contemplar séculos de obras extraordinárias, tive a honra de entrar na área restrita da biblioteca, com o auxílio do amigo dr. Fernando Loja.
Ali tivemos a indescritível satisfação de ver de perto e tocar a raríssima e famosa Bíblia Hebraica de Abravanel. Uma verdadeira obra de arte, publicada em 1460, pertenceu a Dom Issac Abravanel (1437-1508), um nobre antepassado de Senor Abravanel, nosso Silvio Santos. Que experiência inesquecível para um hebraísta feliz como eu!
Em tempos de vergonhoso antissemitismo, é importante lembrar que a família sefaradita Abravanel teve de fugir da inquisição e se espalhou pela Itália, Holanda, Grécia e Turquia. Alguns foram recebidos no Império Turco Otomano. Seu pai veio de Tessalônica, a pequena Jerusalém. Atravessaram séculos falando hebraico, ladino, grego e turco. Sob a luz da sabedoria e fé judaica, Silvio foi de camelô à posição de maior comunicador da TV brasileira.
Capaz de se relacionar com todo mundo com simpatia e alegria, o judeu Silvio Santos se tornou um dos maiores brasileiros da história. Homem de fé, religioso, muito amigo do povo evangélico, Silvio Santos viveu 93 anos de uma vida única.
Quando me lembro da Bíblia de Abravanel, dos séculos de história judaica e da fé e alegria do Sílvio Santos, só posso me lembrar da canção judaica de ano novo: ‘od tirê, ‘od tirê, kama tov yehiê bashaná, bashaná haba’á. Você ainda vai ver, vai ver, quanta coisa boa irá acontecer no ano que vai nascer. Mais um povo eterno deixa sua marca na história. Todah rabah, Abravanel. ‘Am Israel Chay.
Luiz Sayão é professor em seminários no Brasil e nos Estados Unidos, escritor, linguista e mestre em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaica pela Universidade de São Paulo (USP).
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