G1 Santos

Duas visões sobre a jurisdição do STF

today11 de novembro de 2024 12

Fundo
share close

Ives Gandra – 11/11/2024 09h32

Fachada do STF Foto: Divulgação

No XII Congresso de Direito Constitucional da Faculdade de Direito de Santo André (FADISA) realizado em 18 de outubro deste ano, palestramos, os desembargadores Valdir Florindo do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (2ª), Reis Friede do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, onde foi presidente, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF, e eu.

A temática do evento foi Ética e Liberdade, Liberdade com Ética. O ministro Luís Roberto Barroso e eu fomos os últimos a falar.

Embora o ministro tenha abordado aspectos das oportunidades e riscos da evolução da inteligência artificial na Justiça e no mundo e eu, de meu lado, os fundamentos permanentes da ética, moral e liberdade, mais voltados ao direito natural, com sua evolução na História a partir da Filosofia, ambos apresentamos nossa interpretação da temática que, embora convergente em sua percepção é divergente em sua aplicação na realidade brasileira.

O eminente presidente da Suprema Corte entende que, apesar da aplicação do Direito por todo magistrado exigir permanente reflexão, como nem todas as situações judicializadas tem legislação pertinente regulatória, o juiz deve lastrear-se em princípios fundamentais albergados na Lei Suprema para dar solução adequada, o que, a seu ver, não é invadir as funções do Poder Legislativo, mas implementar, para a hipótese, o que está na Constituição. Assim, se o STF entender que, mesmo havendo legislação, aquela produção normativa do Congresso a respeito do princípio constitucional não é a mais adequada, pode atuar para oferecer a melhor exegese, por ser a instância máxima da interpretação jurídica.



Expus posição diversa. Por entender que, na Lei Suprema, há expressa disposição para que o Congresso zele por sua competência normativa (artigo 49, inciso XI) e que nem mesmo em ações diretas de inconstitucionalidade por omissão do Parlamento julgadas procedentes, pode o Pretório Excelso legislar (artigo 103, §2º), em nenhuma hipótese caberia ao STF dar uma solução legislativa à luz de princípios gerais.

É que os princípios gerais quando mais genéricos, permitem múltiplas interpretações, até mesmo conflitantes; por exemplo, o da “dignidade humana”, no qual tanto os defensores do aborto como os do direito do nascituro de ter a vida preservada desde a concepção, lastreiam-se, gerando, assim, a defesa de teses absolutamente opostas.

A Constituição portuguesa, para tais princípios de múltiplas acepções, expressamente admite que apenas prevalece a interpretação em lei dos representantes do povo. Entendendo eu que tal princípio é implícito na Constituição brasileira, muitas vezes o silêncio parlamentar representando a vontade popular de que aquela matéria não seja naquele momento legislada.

À evidência, em palestra de quase uma hora de cada um de nós dois, diversos argumentos foram utilizados em hospedagem de nossas posições, sempre pelo prisma da ética e da liberdade.

Ao final, os dois fomos aplaudidos em pé pela plateia, elogiando os organizadores como podíamos na divergência de manter elevado nível, segundo eles, de elegância e respeito, ao que disseram ser um verdadeiro confronto democrático de ideias.

Tenho pelo ministro Luís Roberto Barroso particular admiração, desde que trabalhamos juntos na “Comissão de Notáveis” criada pelo presidente do Senado, José Sarney, para repensar o pacto federativo. Ofereci-lhe, ao final, meu livro Uma Breve Teoria do Poder, colocando a seguinte dedicatória: “Ao querido amigo e mestre ministro Luís Roberto Barroso com afeto e admiração ofereço”. Ele, por sua vez, dedicou-me seu livro Inteligência Artificial, Plataformas digitais e democracia, com as seguintes palavras: “Para o estimado professor Ives Gandra com a admiração de sempre e o renovador apreço”.

Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP e ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).

* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.

Leia também1 Alexandre Garcia acusa esquerda de espalhar fake news sobre juros

2 Tribunal paga R$ 27 milhões em penduricalhos a magistrados

3 Supremo condena mais 14 réus pelos atos de 8 de janeiro de 2023

4 STF deve barrar Bolsonaro na posse de Trump, diz CNN

5 Moraes: Judiciário tem de fazer mea-culpa no combate ao crime

Siga-nos nas nossas redes!

O autor da mensagem, e não o Pleno.News, é o responsável pelo comentário.




Todos os créditos desta notícia pertecem a G1 Santos.

Por: Ives Gandra

Esta notícia é de propriedade do autor (citado na fonte), publicada em caráter informativo. O artigo 46, inciso I, visando a propagação da informação, faculta a reprodução na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos.

Avalie

Post anterior

cristaos-cantam-“jerusalem-de-ouro”-em-amsterda-em-apoio-a-judeus-agredidos

Destaques

Cristãos cantam “Jerusalém de Ouro” em Amsterdã em apoio a judeus agredidos

Centenas de pessoas se reuniram nas ruas de Amsterdã nesta sexta-feira (8) para cantar músicas israelenses em solidariedade ao povo judeu, em resposta aos ataques sofridos por torcedores israelenses na noite anterior. Entre as canções entoadas estava Jerusalem of Gold (Jerusalém de Ouro), um símbolo de esperança e resiliência. Hananya Naftali, cristão de ascendência judaica, compartilhou imagens da manifestação. “Cristãos na Holanda cantam Jerusalem of Gold nas ruas de Amsterdã”, […]

today11 de novembro de 2024 1

Publicar comentários (0)

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado. Os campos obrigatórios estão marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.


0%