Os restos fósseis foram achados na primeira expedição ao Abismo Iguatemi em 1999 e estavam guardados no Laboratório de Paleontologia Sistemática do Instituto de Geociências (IGc), que os emprestou para estudo no Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos (LEEH), também da USP.
O úmero completo [braço], um rádio [parte do antebraço] e uma falange [osso do dedo] foram estudados pelos pesquisadores: Mercedes Okumura, coordenadora do LEEH; Artur Chahud pesquisador colaborador e Gabriella Pereira, estudante de Ciências Biológicas.
Chahud afirmou ao g1 que os fósseis dessa preguiça são os mais recentes encontrados no Vale do Ribeira que, para ele, tem um potencial grande para pesquisa. “Pelo lado paleontológico, a gente mal arranhou o Vale do Ribeira, principalmente em algumas cavernas que mal são conhecidas”.
A coordenadora do LEEH reforçou o potencial que a região. Para ela, um fator que auxilia a preservação das cavernas é o pouco desenvolvimento e exploração dos municípios. A combinação, de acordo com Mercedes, torna a área superimportante para estudos paleontológicos e arqueológicos.
“No caso dessa preguiça, embora não esteja completa, as partes estão muito bem preservadas. […] 12 mil anos é ontem. É muito recente, mas também não sofreu muitos processos de remanejamentos, ou seja, os ossos não foram muito movimentados”, disse.
Gabriella afirmou que o encontro da espécie na região mostra a mudança no ambiente em como era no passado e como está agora. “A gente vê que um animal desse tamanho não tinha como viver em uma floresta tão densa assim”.
Artur Chahud e Gabriella Pereira estudaram fósseis de animal da megafauna extinta achados no Abismo Iguatemi, em Apiaí (SP) — Foto: Marcos Santos/USP Imagens
O pesquisador colaborador complementou que essas preguiças não poderiam viver em Apiaí naquela época. Segundo ele, uma hipótese para isso ter ocorrido é que o bioma estaria em fase transicional de floresta com o Cerrado, o que favoreceu a entrada da espécie.
As preguiças-gigantes deixaram vestígios na América do Sul, nordeste, sudeste, centro-oeste e sul do Brasil e Uruguai. Para os pesquisadores, a espécie Catonyx cuvieri teria convivido com seres humanos e, provavelmente, viviam em ambientes típicos de Cerrado em transição com florestas densas.
Os fósseis achados no Abismo Iguatemi estavam em perfeito estado de conservação, mas nem sempre é dessa forma, o que dificulta o trabalho dos pesquisadores na identificação e estudo da espécie. Com a qualidade dos ossos, os pesquisadores aprofundaram as medições.
“Nem sempre a gente vai ter um animal bem preservado. Para falar a verdade, a gente não tem. A maior parte das preguiças que a gente viu, principalmente no Vale do Ribeira, não estão bem preservadas quanto a do Abismo Iguatemi”, disse Chahud.
As medidas do úmero, rádio e falange, segundo Gabriella, foram realizadas com um paquímetro [equipamento de medição de ossos], trena e fita métrica. “No caso da falange era fácil, mas os ossos grandes a gente sofreu um pouco”.
As medições servem para comparação com outras espécies. Segundo Mercedes, muitos pesquisadores têm obsessão em viagens a campo em busca de novos materiais, mas que os museus guardam verdadeiros tesouros do ponto de vista científico e da geração de conhecimento.
Após a análise dos fósseis, os pesquisadores concluíram que tratava-se de um jovem adulto, sem doenças evidentes, sendo um dos representantes da megafauna brasileira.
Úmero da preguiça-gigante achado no Abismo Iguatemi, em Apiaí, e catalogado por pesquisadores da USP — Foto: Marcos Santos/USP Imagens
VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos
Publicar comentários (0)