A assessoria de Macron informou que ele pretende reiterar, na conversa com o cacique brasileiro, seu compromisso com o respeito aos povos indígenas, e sua determinação a trabalhar pela conservação dos meios naturais e principalmente das florestas tropicais, que constituem reservas vitais de carbono e de tesouros de biodiversidade.
Nesse contexto, a derrota sofrida pelo governo brasileiro com a aprovação na Câmara dos Deputados, na terça-feira (31), do projeto de lei que estabelece a validade da tese do marco temporal, segundo a qual os indígenas só têm direito aos territórios que ocupavam na época da promulgação da Constituição de 1988, causou preocupação na Europa. A medida foi criticada por associações indígenas, especialistas e autoridades europeias.
Macron também discutirá com Raoni os objetivos “da cúpula que visa criar um novo pacto financeiro mundial, que trabalhará para aumentar a solidariedade internacional na luta contra a pobreza, para a proteção da natureza e ação pelo clima, além da cúpula da Amazônia, que ocorrerá neste ano em Belém”. Macron já havia recebido Raoni em maio de 2019.
Cacique Raoni entrega cocar indígena a Lula durante evento — Foto: Reprodução
Além do presidente Lula, vários participantes já confirmaram presença nos dois dias de debates em Paris: Ajay Banga, presidente do Banco Mundial, Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, Olaf Scholz, chanceler da Alemanha, Mia Mottley, primeira-ministra de Barbados, e Filipe Nyusi, presidente de Moçambique. A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, também estará presente, segundo uma fonte diplomática.
“A luta contra o aquecimento global, a preservação da biodiversidade e contribuir para a resolução de crises internacionais estarão na agenda do encontro bilateral” que Lula terá com Macron à margem da cúpula, destaca a nota do Eliseu.
Lula e Macron já se encontraram na cúpula do G7, em Hiroshima, em 20 de maio, quando conversaram sobre a cooperação bilateral em defesa e a ampliação de intercâmbios “no campo cultural”, além da guerra da Rússia na Ucrânia, segundo a presidência do Brasil.
Em conversa telefônica em janeiro, Lula convidou Macron para visitar o país e conhecer, no Rio de Janeiro, o estaleiro onde é construído um submarino a propulsão nuclear, fruto da cooperação entre os dois países. Mas, até agora, a presidência francesa não anunciou nenhuma data de viagem ao Brasil.
O retorno de Lula ao poder, em janeiro, reatou os laços entre o Brasil e a França. Macron e o ex-presidente Jair Bolsonaro não tiveram boas relações, especialmente pela gestão criticada de Bolsonaro da proteção da Amazônia, considerada um recurso-chave na corrida para conter a mudança climática.
A França também é um país central nas negociações para a assinatura do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, que estão sendo retomadas. O ministro francês encarregado do Comércio Exterior, Olivier Becht, viajará ao Brasil na segunda, terça e quarta-feira e “não irá ao país para negociar”, já que as discussões são conduzidas em nível europeu. “Mas o assunto voltará à tona” durante as discussões bilaterais, admitiu um membro do ministério francês. A União Europeia considera o reforço das condições ambientais essenciais ao sucesso das negociações.
Um dia antes das atividades de Lula em Paris, o presidente brasileiro se encontrará com o papa Francisco no Vaticano, confirmou o Itamaraty. Francisco e Lula conversaram na quarta-feira por telefone sobre a defesa da paz na Ucrânia e o combate à pobreza, em um diálogo no qual o líder brasileiro convidou o pontífice a visitar o Brasil.
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