Era 22 de dezembro de 2023. Quase Natal. Recebi o convite do Rogério Vilela pra confraternização do Inteligência Ltda. Com alegria fui encontrar amigos e pedir a Deus bênçãos para o novo ano. O amigo Roberto Medeiros, do matilhando, foi comigo. Ali encontrei Daniel Mastral. Eu havia falado num encontro bíblico do Moriah Internacional Center de Jerusalém do qual ele fez parte também. Mas ali a conversa foi muito boa. Com Vilela e Ricardo Ventura entramos em diversos temas. Todos estavam muito descontraídos e animados.
Todavia, num certo momento, falei só com o Mastral. Pude sentir sua intranquilidade e um certo abatimento. Seus pensamentos pareciam por vezes marcados por questionamentos, dor e busca. Aquilo me marcou. Recebi com tristeza a notícia de sua morte.
“Meu Senhor. Como? Por quê?”.
Tenho refletido nestes dias e com temor compartilho minhas ponderações. Não sabemos a dimensão de nossa fragilidade. Não sei exatamente o que aconteceu. Muitos têm sugerido que ele tenha tirado a vida. Não posso opinar. Mas, o fato é que não importa nossa experiência, nossa bagagem cultural, nossa religiosidade, somos e sempre seremos frágeis e dependentes do Pai Celestial. Precisamos de todo cuidado: espiritual, físico, emocional. A sabedoria bíblica nos ensina isso de modo único: os profetas de Deus, Elias e Jonas, pediram a morte no momento de crise maior. Não há um estranhamento no texto. Há um retorno da crise a partir do reencontro com Deus.
A vida de Mastral mostra a seriedade da presença do mal neste mundo. Saído de caminhos maus, encontrou a graça de Deus. Foi abençoado. Lutou como pôde. Partiu em meio à dor.
Cresce meu temor. Não sou melhor nem diferente. Só posso me lembrar de C.S. Lewis quando disse que ninguém pode entender a dimensão do mal até enfrentá-lo em si mesmo. Precisamos de arrependimento, humildade, cuidado, socorro e descanso. É hora de enfrentar o mal e a dor, sob o afago único daquele que suportou a máxima dor e a vida entregou pra que eu tivesse perdão e graça do Senhor.
“Mostra-me, SENHOR, o fim da minha vida e o número dos meus dias, para que eu saiba quão frágil sou… a duração da minha vida é nada diante de ti”.
De fato, o homem não passa de um sopro.
Luiz Sayão é professor em seminários no Brasil e nos Estados Unidos, escritor, linguista e mestre em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaica pela Universidade de São Paulo (USP).
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