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Um dia após o plano ser anunciado, a petrolífera Shell aumentou os preços dos combustíveis em cerca de 37%, e a estatal argentina YPF aplicou um aumento, em uma média, de 25%, gerando uma corrida a postos de gasolina diante de um temor de mais subidas.
Nesta tarde, o litro da gasolina comum em Buenos Aires havia subido de 446 pesos (cerca de R$ 5,95) para 612 pesos (cerca de R$ 8,22).
“Sabíamos que mais cedo ou mais tarde a coisa ia estourar. Estamos pagando as consequências”, disse à agência de notícias Reuters o argentino Franco Hit, de 43 anos, enquanto abastecia o tanque de seu carro em um posto de gasolina em Buenos Aires. “Vai ser um ano difícil, muito difícil”.
Logo após assumir, o novo secretário de Energia de Javier Milei defendeu que a YFP determine seus próprios preços, sem controle do governo, que detém 51% das ações da petrolífera.
Também nesta quarta, o Instituto de Estatísticas da Argentina divulgou que a inflação no país chegou a 160,9% no acumulado de 12 meses. Com a subida, a inflação acumulada em 2023 chegou a 148,2%, no maior resultado anual desde a hiperinflação de 1990, quando terminou o ano acima dos 1.300%.
Na terça, o ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, anunciou o plano de ajustes, a medida mais esperada do novo governo. O pacote inclui termos como a desvalorização do peso, a redução de subsídio e o cancelamento de licitações (leia mais abaixo).
Todas as medidas entrarão em vigor com a virada do ano, segundo anunciou nesta manhã o porta-voz do governo Argentino, Manuel Ardoni.
Ardoni disse ainda que, “nos próximos dias”, o governo de Javier Milei também divulgará detalhes sobre as novas tarifas de transporte público, energia, gás e água – todas aumentarão consideravelmente de valor, principalmente pelo corte de subsídios a esses setores.
No anúncio do pacote de ajustes, Caputo não detalhou de quanto será a redução dos subsídios.
Apesar de críticas por conta das medidas duras, que, como o próprio Milei reconheceu, vai piorar a vida da população, o porta-voz do governo argumentou que a nova gestão encontrou “um paciente na UTI”, em referência aos cofres públicos.
O plano era fortemente esperado pela população argentina e pelo mercado, que já esperava medidas duras e ortodoxas prenunciadas por Milei ao longo da campanha para tentar conter a crise econômica do país, uma das piores da história recente do país que mergulhou a Argentina em um espiral de hiperinflação e aumento da pobreza.
O ajuste foi chamado na imprensa de “Plano Motosserra”, em referência à motosserra que Milei exibiu na campanha para presidente e que simbolizava o que o, à época candidato, queria fazer com os gastos públicos — cortá-los brutalmente.
O Banco Central da Argentina anunciará medidas relacionadas à política monetária, taxa básica de juros e dívida nesta quarta-feira (13).
1. Desvalorização do peso: US$ 1 passará a valer 800 pesos; hoje cada dólar vale 365 pesos. Isso inclui um aumento provisório do imposto de importações (chamado de “Pais”, que incide sobre a compra de dólares) e dos impostos retidos na fonte sobre as exportações não agropecuárias.
2. Licitações: suspender novos editais de obras públicas e cancelar licitações que ainda não começaram.
3. Reduzir subsídio à energia e aos transportes: na prática, as contas de luz e gás aumentarão, assim como as tarifas de trens e ônibus em toda a região metropolitana de Buenos Aires.
4. Reduzir ao mínimo transferências às províncias.
5. Suspensão de publicidade do governo por um ano.
6. Cargos públicos: não renovar contratos de trabalho com menos de um ano.
7. Corte na estrutura do governo: reduzir 106 para 54 o número de secretarias, e os ministérios de 18 para nove.
8. Social: priorizar projetos sociais que não exigem intermediários e fortalecer programas como o que paga um auxílio a mães com filhos.
9. Substituir o sistema de importações para um que não exigirá informações de licença prévia.
“Estamos na pior fase da nossa história”, disse o ministro, que disse que a Argentina gasta bem mais do que arrecada —o déficit fiscal. “Se seguir como estamos vamos ter hiperinflação.” A ideia, diz, é “neutralizar a crise”.
O anúncio foi gravado previamente e foi ao ar com duas horas de atraso. Não houve espaço para perguntas de jornalistas.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) elogiou as medidas e as tratou como “audaciosas”.
“Essas ações iniciais audaciosas têm como objetivo melhorar significativamente as finanças públicas de maneira a proteger os mais vulneráveis na sociedade e fortalecer o regime de câmbio”, informou o órgão em nota.
“Sua implementação decisiva ajudará a estabilizar a economia e estabelecerá as bases para um crescimento mais sustentável liderado pelo setor privado.”
O pacote era a medida mais esperada do novo presidente, Javier Milei, que, durante sua campanha, prometeu cortes profundos na estrutura estatal.
Ariel Palacios comenta seu primeiro pacote fiscal para tentar conter a crise econômica na Argentina
A Argentina vive uma das piores crises econômicas de sua história recente, com 40% da população vivendo na pobreza e a inflação ultrapassado os 140% anuais. Milei tem dito que o corte dos gastos públicos será equivalente a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
O porta-voz do governo argentino, Manuel Ardoni, já havia falado de “um forte corte fiscal”, com foco nas receitas sociais, e afirmou que o pacote desenhado por Caputo e Milei tem como objetivo “evitar uma catástrofe maior”.
“Entendemos que a situação é grave e somos conscientes que a situação pode ser pior”, declarou Adorni.
Pela manhã, o porta-voz também anunciou que, durante um ano, todos os pronunciamentos do governo à imprensa serão feitos por vídeos gravados, que serão exibidos a jornalistas em uma sala da Casa Rosada sem possibilidade de perguntas.
No domingo, logo após ser empossado ao cargo, Javier Milei assinou um decreto, o primeiro de sua gestão, reduzindo a nove o número de ministérios de seu país, a metade do que tinha seu antecessor, o ex-presidente Alberto Fernández.
O governo do ultraliberal terá, assim, as seguintes pastas:
Segundo Milei, a medida é a primeira para cortar gastos públicos, uma das bandeiras que ele levantou durante o discurso de posse.
“Não existe solução sem atacar o déficit fiscal. A solução implica um ajuste no setor público, que cairá sobre o Estado, e não sobre o setor privado”, disse.
Milei tomou posse no domingo, 10 de dezembro — Foto: REUTERS via BBC
Já na segunda-feira (11), em seu primeiro dia de trabalho à frente do país, Milei determinou o fim do home office no funcionalismo público e uma revisão nos cargos e contratos do governo.
Na reunião, que aconteceu na Casa Rosada, a sede do governo, Milei ordenou que os ministros adotem uma exigência de trabalho 100% presencial a todos os membros de suas pastas.
O presidente, segundo sua vice, Victoria Villaruel, também pediu um “inventário geral” de todos os funcionários públicos e cargos comissionados, além de um levantamento de todos os contratos vigentes nos ministérios.
Os anúncios geraram no país o temor de demissões e destituições em massa no funcionalismo público ao longo do dia, segundo a imprensa local.
Milei afirmou que, no curto prazo, a situação deve piorar até que as primeiras medidas comecem a dar resultado. E reiterou que o governo não tem dinheiro: “Lamentavelmente tenho que dizer, ‘no hay plata'”.
“Isso impactará de modo negativo a atividade, o emprego, a quantidade de pobres e indigentes. Haverá estagflação [situação em que há estagnação da economia e inflação alta], mas é algo muito diferente do que tivemos nos últimos 12 anos. Será o último gole amargo para começar a reconstruir a Argentina”, disse.
“Não será fácil: cem anos de fracasso não se desfazem num dia, mas um dia começa, e hoje é esse dia.”
O presidente argentino discursou nas escadarias do Congresso, para seus eleitores. Foi uma quebra de protocolo, porque normalmente esse discurso ocorre dentro do parlamento.
Mais tarde, já na Casa Rosada, falou ao público de novo e disse que sua eleição representa “o fim da noite populista e o renascer da Argentina próspera e liberal”.
Entre as autoridades que participaram da posse estavam o ex-presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. O presidente Lula não foi a Buenos Aires e mandou seu chanceler, Mauro Vieira, como representante do Brasil.
No discurso de posse, Milei também mencionou a elevada inflação, acima de 140% ao ano, e atribuiu a culpa aos governos peronistas. Antes de Alberto Fernández, que deixou o cargo agora, quem governou foi Mauricio Macri, que é de direita e aliado de Milei. Antes de Macri, Cristina Kirchner.
“Arruinaram a nossa vida e fizeram cair dez vezes os nossos salários. Portanto, não deveria surpreender que estejam deixando 45% de pobres e 10% de indigentes.”
“Os argentinos, de forma contundente, expressaram uma vontade de mudança que já não tem retorno. Não há retorno. Hoje enterramos décadas de fracassos e disputas sem sentido. Brigas que só conseguiram destruir o nosso país e nos deixar em ruínas. Hoje começa uma nova era na Argentina, de paz e prosperidade”, afirmou.
Milei recebe o bastão presidencial de Alberto Fernández, outro símbolo do poder na Argentina — Foto: Natacha Pisarenko/AP
Por: G1
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