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A guerra de desinformação de Putin na África

today7 de fevereiro de 2023 12

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A chamada de Russosphère (Esfera Russa, em tradução livre) promove postagens em diversas redes sociais acusando a França de “colonialismo moderno”, elogiando o presidente russo Vladimir Putin e chamando o exército ucraniano de “nazista” e “satanista”.

As postagens também elogiam os mercenários russos do grupo Wagner — e chegam a compartilhar dados de recrutamento aos seguidores que quiserem se juntar a eles.

Especialistas dizem que a desinformação gera desconfiança entre as nações africanas e o Ocidente, contribuindo para a falta de apoio à Ucrânia no continente.



A Equipe Global de Desinformação da BBC conseguiu descobrir quem está por trás de tudo: um político belga de 65 anos que se autodenomina stalinista.

O trabalho da BBC foi feito em conjunto com a Logically, uma empresa britânica de tecnologias de combate à desinformação.

A Russosphère se descreve como “uma rede em defesa da Rússia“. Formada por diversos grupos de redes sociais em diferentes plataformas, ela foi criada em 2021, mas lançada em definitivo em fevereiro de 2022 – poucos dias antes da invasão russa à Ucrânia. A rede rapidamente atingiu a marca de mais de 80 mil seguidores.

Um post na rede social pró-Rússia — Foto: Reprodução

Após a invasão da Ucrânia, a imprensa estatal russa foi censurada ou banida de todas as principais plataformas sociais.

A Russosphère não sofreu sanções, e se tornou presente no Facebook, YouTube e Twitter, além do Telegram e VK — a versão russa do Facebook.

A descoberta ocorre em um momento de rápida deterioração nas relações entre a França e várias nações africanas que os analistas atribuem em parte à influência do Kremlin e a um sentimento pró-Rússia alimentado pela propaganda.

Kyle Walter é diretor de investigações dos EUA na Logically. Usando dados de sua plataforma interna de inteligência artificial combinada com inteligência de código aberto, a Logically rastreou a rede e encontrou um homem chamado Luc Michel.

No passado, Michel trabalhou para legitimar votos em territórios ucranianos ocupados pela Rússia e esteve ligado ao “Merci [obrigado] Wagner”, um grupo que apoia a atuação dos mercenários russos.

Entramos em contato com Michel e ele concordou em discutir a Russosphère conosco. Ele nos disse que criou a rede mas que não recebeu apoio financeiro da Rússia. Ele disse que o empreendimento é financiado por “dinheiro privado”.

Ele também enfatizou que não tem ligações com o Wagner e seu chefe Yevgeny Prigozhin.

“Eu gerencio a guerra cibernética, a guerra da mídia… e Prigozhin conduz atividades militares”, disse ele.

Segundo Walter, coautor do relatório da Logically, esta campanha é a primeira vez que os esforços de Michel tiveram impacto no mundo real.

“A Russosphère é a primeira vez que Luc Michel e as operações de influência que ele dirige tiveram sucesso significativo”, diz o especialista.

“Mesmo que os grupos tenham sido ajudados por bots no início, eles agora são uma operação de influência orgânica autêntica, com uma grande parcela de seguidores reais em toda a África”.

Admirador de Gaddafi e Putin

A história de Michel pode parecer incomum para alguém que se diz amigo da África.

Nascido em 1958, ele foi politicamente ativo desde muito jovem, primeiro nos grupos neofascistas de sua Bélgica natal e depois como seguidor de Jean Thiriart, um ex-colaborador nazista que imaginava um “império euro-soviético de Vladivostok a Dublin “, unidos contra os Estados Unidos.

Sua carreira o levou à Líbia em apoio ao então líder do país, Muammar Gaddafi. Ele também esteve no Burundi como conselheiro do então presidente Pierre Nkurunziza.

Michel entrevistando o Presidente da República Centro Africana, Faustin-Archange Touadéra — Foto: Reprodução

Durante sua carreira, ele sempre se manteve ligado ao “Nashi”, o movimento jovem do Kremlin, e criou um “grupo de monitoramento eleitoral” que declarou como “livres e justos” os referendos ilegais de Moscou em 2014 na Crimeia, Donetsk e Luhansk.

“Eu sou um stalinista”, disse ele à BBC. “Eu defendo a Rússia desde os anos 1980. Eu acho que a Rússia é a única força que resta na Europa que é antiamericana. Eu tenho saudades da União Soviética. Quero um mundo livre sem os EUA.”

Das redes sociais para as ruas

É difícil avaliar o impacto de campanhas específicas de desinformação, mas na África a mensagem pró-Rússia está sendo ouvida – amplificada, dizem analistas, por influenciadores locais cultivados pela Rússia.

“O sucesso de pessoas como Luc Michel se deve à sua oposição à França. Isso explora um descontentamento que é verdadeiro entre as pessoas”, diz Kevin Limonier, professor da Universidade de Paris-8 que estuda as operações de informação de Moscou na África.

“A desinformação russa foi um fator que ajudou a expulsar as forças francesas dos países do Sahel, especialmente Burkina Faso”, diz Ulf Laessing, da Fundação Konrad Adenauer, um centro de estudos alemão de centro-direita.

Desde 2013, cerca de 5 mil soldados franceses foram mobilizados para combater grupos militantes jihadistas no Mali, bem como em Burkina Faso, Chade, Níger e Mauritânia. Mas no ano passado eles saíram do Mali e estão se preparando para deixar Burkina Faso.

Os franceses estão sob pressão dos governos militares dos dois países, mas Beverly Ochieng, da BBC Monitoring, concorda que o sentimento popular pode ter algo a ver com isso.

“Bandeiras russas foram hasteadas em protestos no Mali, Burkina Faso, Níger e Chade, e isso se deve em parte às operações de informação pró-Rússia“, diz ela.

Em Burkina Faso, manifestantes atacaram a embaixada francesa epediram laços mais estreitos entre Ouagadougou e Moscou.

Isso está de acordo com os objetivos de Michel. “Acho que a Rússia deve substituir os franceses em toda a África”, disse ele à BBC.

“Estimar o impacto das operações de informação é quase impossível”, diz Limonier, especialista em campanhas de influência do Kremlin.

Mas uma coisa é certa: essas operações preocupam o Ocidente.

Em Paris, segundo Limonier, “os diplomatas e os militares leem, veem e dizem: ‘Meu Deus'”.




Todos os créditos desta notícia pertecem a G1 Mundo.

Por: G1

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