“O episódio do Vini Jr. chama a atenção porque ele se dá em uma espiral: começa com um torcedor ou dois, um pequeno grupo, e na medida em que não há punição, não há nenhum tipo de reação nem da Justiça, nem das entidades esportivas, nem do clube – que tem a honra de ter o Vini Jr. no seu elenco – esse processo vai se agravando”, explica Flávia.
A comentarista relembrou que a ofensa, ocorrida no final do mês de janeiro deste ano, não teve nenhuma punição ao adversário do Real Madrid. E com a conivência e a falta de ação das entidades esportivas espanholas, torcedores de outras equipes se sentiram aptos a praticar racismo contra o brasileiro nas rodadas seguintes do torneio nacional local – até o momento, ele já sofreu racismo nove vezes no país.
“A gente viu em janeiro uma situação particularmente violenta, que foi o boneco de Vini Jr. dependurado, enforcado em um viaduto, aquilo remetendo aos momentos mais trágicos e brutais da segregação americana, quando pessoas negras eram linchadas e enforcadas em árvores para uma plateia absolutamente entusiasmada. Aquele episódio, como não teve nenhum tipo de reação a ele, ensejou novos episódios como esse, de uma torcida inteira gritando antes, durante e provavelmente depois do jogo”.
Flávia Oliveira vê racistas se sentindo livres para praticar ofensas por falta de punição; Vini Jr. já foi ofendido nove vezes na Espanha — Foto: Reprodução/GloboNews
Flávia comentou também as manifestações ao redor do mundo sobre o caso. E lembrou a manifestação do presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ednaldo Rodrigues, que lamentou o ocorrido. Para ela, faltam ações das entidades brasileiras também no futebol nacional para os casos de racismo e também de homofobia que ocorrem nos campos do Brasil.
“A Espanha está no epicentro dessa situação, mas veja que o racismo no futebol não é exatamente novidade. E até me causou surpresa o presidente da CBF perguntar “até quando?” porque os estádios brasileiros colecionam episódios de racismo e homofobia, e as respostas, seja dos cartolas, das entidades esportivas, dos clubes e do próprio governo brasileiro têm sido insuficientes para coibir (o racismo) no Brasil e fora dele”, avalia.
Mais sobre o racismo sofrido por Vini Jr.
A analista reforçou que as manifestações de apoio a Vini Jr. no caso, que vieram de muitos lados na Europa, no Brasil e em várias partes do mundo, podem até ser acalentadoras, mas não são suficientes para evitarem o surgimento de novos casos.
“Quando um atleta se levanta isoladamente, ainda que ele tenha apoios declarados e acolhimento, isso não é suficiente. Porque a impunidade é irmã siamesa do crime. E se esse indivíduo que é racista, que perdeu o pudor de manifestar o seu racismo, que vai em manada para os estádios para expressar o seu racismo, não é punido, e se ninguém é punido, isso encoraja a reincidência”, sentencia a comentarista.
Natural de São Gonçalo (RJ), Vinícius Júnior foi revelado pelo Flamengo em 2016, e comprado pelo Real Madrid em 2017 – mas só chegou ao clube merengue um ano depois. Ele se tornou o principal jogador da equipe ao longo dos anos, chegando à Seleção Brasileira e disputando a última Copa do Mundo, no Catar.
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Por: G1
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