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Cientistas fazem registro inédito de milhares de peixes da espécie caranha em ‘agregação’ reprodutiva no Sudeste

today14 de outubro de 2022 18

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Segundo os pesquisadores, as descobertas destacam a necessidade de uma estratégia de gestão abrangente que inclua a revisão do período de defeso da pesca.

Cientistas do litoral de São Paulo registram pela 1ª vez milhares de peixes da espécie caranha em agregação reprodutiva no Sudeste — Foto: João Paulo Scola



Pesquisadores do Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo registraram, pela primeira vez, milhares de peixes da espécie caranha (Lutjanus cyanopterus) em agregação reprodutiva [quando centenas ou milhares de peixes se juntam para se reproduzir] no Sudeste.

Ao g1, O professor do IMar da Unifesp e um dos autores do artigo, Guilherme Pereira-Filho, explicou que a análise permitiu a comprovação de que o grande cardume com centenas de peixes com 30 Kg cada um estavam no comportamento de agregar para reprodução. “É um fenômeno que acontece normalmente, mas nunca havia sido registrado e comprovado que era uma agregação reprodutiva”.

“As implicações disso são que, com isso, conseguimos demonstrar que o período antigamente previsto na legislação como período reprodutivo e, por isso, proibido da pescá-la, não estava adequado a realidade da época em que esses peixes se reproduzem”, explicou.

O professor destacou que entender e descrever esse comportamento é uma contribuição muito importante da ciência para a sociedade e gestão dos recursos pesqueiros. “Como muitos peixes também andam em cardumes, há uma agregação reprodutiva e o que é exatamente um cardume”.

Análise das caranhas apreendidas pela Polícia Militar Ambiental possibilitou que cientistas comprovassem o comportamento reprodutivo da caranha durante o verão — Foto: Polícia Militar Ambiental/Divulgação

“Do ponto de vista da ciência, a gente precisa comprovar que aquilo é um comportamento reprodutivo. Aí a gente só tem uma forma de comprovar quando a gente consegue acessar as gônadas e olhando no microscópio, com lâminas, dizer que ali acabou de ser liberado um gameta. Quando a gente percebe que naquele grupo tem machos e fêmeas e que ambos acabaram de liberar os seus gametas, a gente tem a certeza que não é só um cardume, que é uma agregação reprodutiva”, disse.

Pereira-Filho reforçou que o material é difícil de ser acessado porque é necessário ter o peixe em mãos. “E observar isso, fazer uma imagem nem sempre é fácil, nessa espécie específica, que é a caranha, é bastante difícil porque é um bicho arisco”.

A parte interessante do trabalho, além do resultado da pesquisa, é a forma em que os cientistas conseguiram os dados, por meio da análise de 127 espécimes capturados ilegalmente por uma embarcação de pesca em janeiro de 2021 em Santos. A partir do exame das ovas dos peixes foi possível comprovar o comportamento reprodutivo da caranha durante o verão. “A gente teve acesso a esse material pelo excelente trabalho da Polícia Ambiental”.

O pesquisador concluiu que existe um descompasso em relação à época de defeso dessa espécie. “Pela primeira vez uma agregação reprodutiva desse peixe, que é de interesse comercial, foi registrada no sudeste brasileiro. É muito importante isso porque existe legislação para proteger esses recursos pesqueiros e a ideia é que a gente restrinja a não pescar essas espécies durante esses períodos reprodutivos. A época de defeso dessas espécies não corresponde com esse momento que a gente registrou”.

O também pesquisador do IMar da Unifesp e autor da pesquisa, Fábio Motta, reforçou que a identificação das áreas de agregação reprodutiva de peixes é crucial para determinar medidas eficazes de gestação da pesca visando à manutenção dessas populações no ambiente. “Nossas descobertas destacam a necessidade de uma estratégia de gestão abrangente que inclua a revisão do período de defeso da pesca e programas colaborativos de monitoramento e pesquisa”.

Um artigo relatando a ocorrência foi publicado em agosto deste ano na Fisheries Research. Além dos cientistas da Baixada Santista, os pesquisadores do Projeto Meros do Brasil e do Museu de História Natural do Capão da Imbuia também são coautores do estudo.

Para professor da Unifesp em Santos, existe um descompasso em relação à época de defeso da caranha — Foto: Polícia Militar Ambiental/Reprodução

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