Tharaa Ali, de 25 anos, é uma das 32 novas maquinistas que comandarão os trens entre Meca e Medina. Ela e suas companheiras foram selecionadas pelas autoridades de uma lista de 28.000 candidatas.
“O primeiro dia de trabalho aqui foi como um sonho para mim: entrar no trem, na cabine”, disse a ex-professora de inglês.
O trem, que chega a uma velocidade de 300 quilômetros por hora, percorre em duas horas os 450 quilômetros que separam as cidades sagradas. Inicialmente, isso causou medo em Ali. “Mas graças a Deus, com tempo e treinamento intensivo, ganhei confiança em mim mesma”, contou.
A participação das mulheres no mercado de trabalho da Arábia Saudita mais do que dobrou desde 2016: de 17% à época, a taxa foi para 37% em 2023. O crescimento é resultado de um discurso oficial mais favorável à inclusão de mulheres, promovido pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, cujo poder simultaneamente reprime as tendências feministas ativistas.
A taxa de desemprego das mulheres sauditas mantém-se, no entanto, elevada, atingindo 20,5% no ano passado, contra 4,3% dos homens, levando as autoridades a privilegiar a contratação das suas cidadãs em detrimento dos muitos imigrantes que, no passado, desempenhavam funções menos qualificadas.
Vencido o “desafio” que antes era “incentivar as mulheres a ingressarem no mercado de trabalho”, trata-se agora de “criar um número suficiente de postos de trabalho para as milhares de mulheres sauditas que entram no mercado de trabalho”, disse Meshal Alkhowaiter, economista.
Mas alguns usuários ainda precisam ser convencidos da habilidade feminina.
Em uma viagem à Medina, uma passageira só acreditou que as mulheres podem conduzir trens após fazer uma viagem comandada por Raneem Azzouz, outra das sauditas recém-contratadas. “Ela disse: ‘Francamente, quando vi a oferta de emprego, fui totalmente contra. Disse que se minha filha tivesse que me levar, eu não iria com ela'”, lembra a jovem.
Quando a viagem acabou, a passageira elogiou Azzouz e garantiu que não percebeu “nenhuma diferença” em relação aos condutores homens.
Rayan al-Harbi, vice-presidente da Saudi Railway Company, empresa ferroviária pública, que as maquinistas são altamente qualificadas e provaram seu valor durante o treinamento.
“É a prova de que as mulheres sauditas são capazes, quando recebem os meios para tal, de cumprir as mesmas funções que seus irmãos”, disse al-Harbi.
Outros ainda não estão convencidos das habilidades femininas. Mohammed Issa, um peregrino que recentemente pegou o trem do aeroporto de Jidá, acredita que as mulheres devem se concentrar nas tarefas domésticas.
“Se a mulher está ausente de casa, e obviamente o trabalho a afasta, quem vai fazer o papel dela?”, questionou Issa, que mora nos Emirados Árabes Unidos.
Embora pesquisas independentes não possam ser feitas no país, observadores da sociedade saudita afirmam que a resistência a essas mudanças é pouca.
“Não se pode esperar que uma população inteira apoie todas as políticas do país. Mas a maioria das pessoas é a favor da mudança”, observa Najah Alotaibi, pesquisador do Centro de Pesquisa e Estudos Islâmicos King Faisal.
As novas maquinistas também preferem se concentrar no feedback positivo, como os muitos viajantes que pedem selfies após cada viagem.
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