Uma das vítimas é a técnica de enfermagem Nicolly Dias, de 19 anos. Ela e mais três amigas compraram há dois meses uma excursão da agência Giratour para um parque aquático em Itupeva (SP). A viagem, que deveria ter acontecido no último domingo (28), foi cancelada na noite anterior e o dinheiro ainda não foi devolvido.
Nicolly contou à equipe de reportagem que conheceu a empresa por um anúncio nas redes sociais. Por lá, ela combinou os detalhes da venda com um homem pelo WhatsApp. O valor do passeio, por pessoa, ficou em R$ 230. A empresa cobrou R$ 100 no ato e R$ 130 três dias antes da viagem.
Como o grupo de Nicolly embarcaria para o parque às 6h de domingo, ela entrou em contato às 18h de sábado (27) para acertar os horários com a empresa. A técnica de enfermagem disse ter sido respondida no final daquela noite. “Ele me respondeu às dez e poucos da noite dizendo que estava sendo cancelado”.
Conversas entre Nicolly e o responsável pela agência turística de Guarujá (SP) — Foto: Arquivo pessoal
Nicolly pediu o estorno do valor, mas o homem só enviou o comprovante de pagamento na manhã de segunda-feira (29). Ela checou o extrato e constatou que o dinheiro não havia sido depositado. “Minha raiva não era nem dele ter cancelado o parque. [Era] ele agindo na sacanagem”, disse.
Cancelamento a uma hora da viagem
A empresária Fernanda Mangueira, de 40 anos, foi prejudicada por outro suposto golpe da mesma agência. A moradora de Guarujá registrou um boletim de ocorrência contra o homem após comprar passagens de ônibus para o parque Hopi Hari, em Vinhedo (SP), para um festival LGBT no dia 20 de abril.
Responsável pela agência, em Guarujá (SP), alegou que conta bancária estava bloqueada — Foto: Arquivo pessoal
“No dia da excursão, faltando uma hora para o embarque, ele mandou uma mensagem para mim dizendo que teve um problema com a agência de ônibus e que a viagem tinha sido cancelada”, contou.
O responsável enviou uma Transferência Eletrônica Disponível (TED) à empresária, mas, como era sábado, o valor não foi depositado na conta. A mulher notou entendeu ter caído em um golpe e decidiu ir ao parque por conta própria .Ela gastou mais R$ 270 com transporte para chegar ao festival.
Decepcionada, Fernanda decidiu publicar um vídeo nas redes sociais expondo a situação. Depois que tomou tal atitude ela descobriu que várias outras pessoas foram lesadas pela mesma agência de turismo.
“As pessoas foram comentando, foram se identificando, e foram me chamando na DM [campo de mensagens] do Instagram, no WhatsApp, para falar que também sofreram golpe […]. A gente descobriu que ele já tinha mudado de nome da empresa”.
‘Que as pessoas não caiam mais’
Só depois que o vídeo viralizou é que o dono da agência entrou em contato pedindo desculpas e alegando que a conta bancária dele havia sido bloqueada. Ele fez um Pix e devolveu os R$ 270.
Fernanda recebeu inúmeras mensagens denunciando golpes por parte do dono da agência. Segundo ela, as queixas dão conta de que ele já falsificou passagens de avião e lesou outras agências de turismo.
“A intenção da gente é seguir adiante [com processo], mesmo com o ressarcimento. Que as pessoas saibam disso e não caiam mais [em golpe]”, contou.
Ao g1, o dono da Giratour, Maurício Santos Silva, disse que as viagens foram canceladas por diferentes motivos. A de Fernanda para o Hopi Hari não aconteceu, segundo ele, porque a agência de transporte teve um problema, enquanto a de Nicolly foi pela desistência dos demais clientes.
O responsável pela agência de turismo disse ainda que Nicolly teria se recusado a preencher uma ficha de reembolso para o ressarcimento. “Tenho as mensagens. Todos os demais passageiros dessa viagem do parque aquático foram reembolsados pois preencheram a ficha”, afirmou.
Ainda segundo Maurício, o dinheiro não caiu na conta de Nicolly porque ele digitou o CPF errado. “Falei que iria verificar com o banco, mas o banco não faz estorno de transferências. Por mais que tenha enviado de maneira errada, só precisamos que ela preencha o termo do pedido do cancelamento do ingresso para que seja ressarcida”.
Sobre a viagem de Fernanda, o dono da agência disse que todos os clientes foram reembolsados em 25 de abril, dentro do prazo que constava no contrato.
Maurício informou que a imagem dele divulgada nas redes sociais associada ao não reembolso das viagens, o que acabou “gerando incitação ao ódio e à violência”. De acordo com ele, o setor jurídico da agência foi acionado para tomar as providências cabíveis.
Após a veiculação desses conteúdos, várias denúncias ao perfil da empresa e perfil pessoal do dono foram realizadas. Assim, teriam sido suspensos da plataforma.
O WhatsApp da empresa foi derrubado como denúncia de spam, o que estaria impossibilitando o contato com os demais clientes. Quem precisar deve entrar em contato pelo e-mail adm.giratour@outlook.com.
O g1 entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), mas não obteve retorno até a última atualização da reportagem.
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