A Procuradoria-Geral da República informou nesta semana que Nicolás Petro Burgos, filho mais velho do presidente e ex-deputado, afirmou ter recebido dinheiro para a campanha do pai de pessoas acusadas de tráfico de drogas.
E que não só recebeu o dinheiro, como o usou para seu próprio enriquecimento e para uma campanha que supostamente ultrapassou os limites de financiamento permitidos pela lei eleitoral.
Petro Burgos, preso desde sábado (29), decidiu colaborar com o Ministério Público — dirigido por um opositor do presidente — em troca da prisão domiciliar.
No final da tarde, Gustavo Petro reagiu com um discurso: negou ter dado ordens para os crimes eleitorais, comparou o caso com as prisões e torturas que sofreu quando era guerrilheiro e atribuiu tudo à “perseguição” que o “governo da mudança” sofre com os poderes tradicionais.
“Não há quem possa acabar com este governo senão o próprio povo, e o mesmo povo deu ordem por maioria nas urnas: vamos embora até o ano de 2026”, exclamou, sob aplausos.
Petro chegou ao poder com a promessa de uma mudança nas velhas formas de poder. Ele foi um habilidoso e veemente político de oposição por 30 anos. Agora, da Presidência, ele enfrenta um caso que parece contradizer toda a sua carreira política.
Entenda em três pontos o caso de Nicolás Petro.
Aos 37 anos, Burgos era uma figura em ascensão na política de Atlântico, o departamento (Estado) mais rico do Caribe colombiano e palco tradicional de clientelismo e corrupção no país.
O filho do presidente nasceu em 21 de junho de 1986 no município de Ciénaga de Oro, na savana caribenha, do casamento de Petro com Katia Burgos, sua primeira esposa.
Embora eles tenham desenvolvido uma relação próxima já quando adultos, o próprio presidente Petro admitiu que não esteve presente durante a criação do filho, porque ele estava na clandestinidade como guerrilheiro do grupo M19.
Petro Burgos fez sua vida no Caribe. Lá, o jovem estudou Direito e se especializou em Meio Ambiente. Depois morou em Barcelona e finalmente se estabeleceu em Barranquilla, a capital do departamento de Atlântico.
E desde que sua ex-esposa Day Vásquez denunciou em março que Nicolás havia recebido dinheiro ilegal para a campanha, a mídia local o investigou e descobriu que seus gastos não eram o que um representante regional pode pagar: ele tinha carros e apartamentos suntuosos, além de gastar grandes somas em lojas de luxo.
Durante a última campanha presidencial —a terceira em que Petro participou— Petro Burgos desempenhou um papel central na busca de alianças e financiamentos, um exercício que no Caribe inevitavelmente implica em confronto com poderes questionáveis.
2. Quais são as acusações?
Estima-se que pelas acusações que admitiu — enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro — Nicolás Petro pode receber uma pena entre 10 e 30 anos, dependendo da sua colaboração e da gravidade dos crimes comprovados.
“Petro Burgos prestou informações relevantes que, até agora, o Ministério Público desconhecia”, disse o investigador do caso, Mario Burgos.
“Dentre eles, destacam-se o financiamento da campanha presidencial passada do atual presidente e o dinheiro que entrou nessa campanha, que, aparentemente, teria ultrapassado os limites mínimos da lei.”
Segundo a Promotoria, Petro Burgos admitiu que o dinheiro foi doado por dois homens: Samuel Santander Lopesierra, conhecido como “Homem do Marlboro”, que foi extraditado para os Estados Unidos por tráfico e contrabando de drogas, cumpriu pena e voltou ao país em 2021; e Gabriel Hilsaca, filho de “El Turco” Hilsaca, empresário investigado por ligações com grupos armados.
Segundo Vasquez, Petro Burgos recebeu até 1 bilhão de pesos (R$ 1,5 milhão) dessas pessoas.
O promotor afirma que “parte desse dinheiro foi usado por Petro Burgos e seu sócio em benefício próprio e outra parte foi investida na campanha presidencial”.
Durante esses meses, o caso foi se expandindo. De acordo com o site La Silla Vacía, cerca de 15 funcionários e políticos estão sendo investigados, não apenas por recebimento de dinheiro ilegal, mas também por acordos políticos que possam ter surgido com as transações.
Em junho, a revista Semana publicou gravações de áudio privadas do homem mais próximo de Petro durante a campanha, Armando Benedetti, nas quais apontava para o possível recebimento de até 15 bilhões de pesos (R$ 20 milhões) para a campanha, cifra três vezes maior do que o estabelecido pela lei eleitoral.
Bendetti foi nomeado embaixador na Venezuela pelo Petro, mas teve que renunciar devido ao escândalo. Sua colaboração com a Justiça pode trazer novas revelações.
Na verdade, o caso está apenas começando.
3. Como tudo isso pode afetar o presidente?
A grande questão para os colombianos é como isso tudo pode afetar um presidente que chegou ao poder com a ideia de mudar a política — tendo sido o primeiro presidente verdadeiramente de esquerda do país.
Petro está obtendo alguns resultados: a economia está melhor do que o esperado, as baixas militares e os homicídios caíram ligeiramente como resultado de suas iniciativas de paz, e comunidades e regiões historicamente excluídas foram reconhecidas.
No entanto, um ano depois de chegar à presidência, suas grandes promessas não foram cumpridas: as reformas da saúde, trabalho e pensões não foram aprovadas, os seis processos de paz com grupos armados são considerados fracos e a crise política em seu gabinete e coalizão tem sido mais a regra do que a exceção.
Agora vem um escândalo que, além de afetar um de seus seis filhos, pode fazer com que ele concentre a maior parte de suas energias em se defender para ficar no cargo.
O caso de financiamento ilegal, além de ser investigado pelo Ministério Público, passará pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e pela Comissão de Denúncias do Senado.
No primeiro, Petro — que em 2018 havia dito que “um único voto obtido por fraude anula uma eleição” — não pode ser removido do poder, já que o CNE só pode investigar dirigentes de campanha.
Mas no Senado a situação é diferente: como ocorreu durante o governo de Ernesto Samper (1994-1998), a Comissão de Denúncias pode levar o presidente a um julgamento político.
No caso de Samper, o então presidente foi absolvido pelo Senado, mas seu governo progressista — que prometia mudanças menos drásticas que Petro e tinha muito menos simbologia histórica — acabou ali.
Agora Petro enfrenta um cenário semelhante. Nesta ele já indicou que vai denunciar tudo como sendo uma grande perseguição.
A briga política na Colômbia está recém começando.
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