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Durante meses, o nome de Prigozhin foi associado ao papel cada vez mais central que seu grupo mercenário está desempenhando na guerra na Ucrânia.
Ele recrutou milhares de criminosos para o seu grupo nas prisões da Rússia. Não importa quão graves sejam os crimes dos condenados, desde que eles concordem em lutar na Ucrânia.
Antes de a Rússia iniciar o que se tornou o pior conflito armado na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, Prigozhin foi acusado de se intrometer nas eleições americanas e de expandir a influência russa na África.
Após uma amarga troca de acusações, o grupo Wagner e a liderança do Ministério da Defesa da Rússia romperam relações e o Kremlin agora o acusa de “rebelião”.
Prigozhin acusou o ministério de bombardear seus acampamentos na retaguarda. Agora, Putin o classificou como um “traidor”.
Yevgeny Prigozhin é de São Petersburgo, cidade natal de Vladimir Putin.
Ele recebeu sua primeira condenação criminal em 1979, com apenas 18 anos, e teve uma pena suspensa de dois anos e meio por roubo. Dois anos depois, ele foi condenado a 13 anos de prisão por roubo e furto, nove dos quais cumpriu atrás das grades.
Após ser solto, Prigozhin montou uma rede de barracas que vendiam cachorro-quente em São Petersburgo. Ele se deu bem nos negócios e em poucos anos — ao longo da década de 1990, de transição das leis na Rússia — Prigozhin conseguiu abrir restaurantes caros na cidade.
Uma foto de novembro de 2011 mostra Yevgeny Prigozhin (E) auxiliando Vladimir Putin em um banquete perto de Moscou — Foto: Reuters via BBC
Foi lá que ele começou a ter contato com as pessoas mais poderosas de São Petersburgo e, depois, da Rússia. Um de seus restaurantes, o New Island, era um barco que navegava pelo rio Neva. Vladimir Putin gostava tanto do restaurante que — depois de se tornar presidente — começou a levar seus convidados estrangeiros para comer lá. E foi provavelmente assim que os dois se conheceram.
“Vladimir Putin… percebeu que eu não tinha nenhum problema em servir pessoalmente a chefes de Estado”, disse Prigozhin em uma entrevista. “Nós nos conhecemos quando ele veio com o primeiro-ministro japonês, Yoshiro Mori.”
Mori visitou São Petersburgo em abril de 2000, no início do governo de Vladimir Putin.
Em 2003, Putin já confiava em Prigozhin o suficiente para comemorar seu aniversário no New Island.
Anos depois, a empresa de catering de Prigozhin, a Concord, foi contratada para fornecer comida ao Kremlin, o que lhe valeu o apelido de “chef de Putin”. As empresas ligadas à Prigozhin também ganharam contratos estatais para fornecer comida a escolas militares e estatais.
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Mas foi depois da invasão da Ucrânia pela Rússia em 2014 que começaram a surgir sinais de que Prigozhin não era um empresário comum. Uma empresa militar privada obscura supostamente ligada a ele estava combatendo forças ucranianas na região leste de Donbass.
O grupo é conhecido como Wagner, que era o codinome de um de seus principais comandantes iniciais. Esse comandante era fascinado com a Alemanha nazista, que usava as obras do compositor do século 19 em sua propaganda.
Ironicamente, a “desnazificação” da Ucrânia é um dos principais objetivos declarados da invasão em grande escala do presidente Putin à Ucrânia, lançada em fevereiro do ano passado.
Além da Ucrânia, o Wagner atua na África e em outras regiões ajudando a promover a agenda do Kremlin — desde apoiar o regime de Bashar al-Assad na Síria até combater a influência francesa no Mali.
Com o tempo, o grupo mercenário ganhou uma reputação assustadora de brutalidade.
Onde fica Rostov-on-Don? — Foto: Editoria de Arte/g1
Os membros do Wagner foram acusados de torturar um preso sírio com uma marreta, decapitá-lo e incendiar seu corpo em 2017.
No ano seguinte, três jornalistas russos foram mortos enquanto investigavam a presença do Wagner na República Centro-Africana.
Em 2022, Wagner foi novamente acusado de matar um homem com uma marreta, por suspeitas de que ele havia “traído” o grupo na Ucrânia.
Na época, Prigozhin disse que as imagens não verificadas do assassinato brutal como “a morte de um cachorro por outro”. Depois que membros do Parlamento Europeu pediram que o Wagner fosse designado como um grupo terrorista, ele disse ter enviado aos políticos uma marreta manchada de sangue.
Durante anos, Prigozhin negou ter qualquer ligação com o Wagner e até processou pessoas que sugeriram essa relação. Mas, em declaração em setembro de 2022, ele disse que havia montado o grupo em 2014.
Os EUA, a União Europeia e o Reino Unido impuseram sanções ao Wagner. Mas o grupo tem permissão para operar na Rússia, embora a lei do país proíba atividades mercenárias.
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Outra maneira pela qual Yevgeny Prigozhin se envolveu na política mundial dependia de pessoas com teclados, em vez de homens com armas.
Durante anos, ele foi acusado de estar por trás das chamadas “fazendas de trolls” ou “fábricas de bots”, que usavam contas em redes sociais e sites para divulgar opiniões pró-Kremlin. Esses esforços foram liderados pela Internet Research Agency (IRA), com sede em São Petersburgo, mais conhecida por interferir nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA.
O ex-diretor do FBI Robert Mueller, que foi nomeado para investigar alegações de conluio entre a campanha de Donald Trump e a Rússia, concluiu que o IRA realizou uma campanha de mídia social destinada a ampliar a divisão política e social nos EUA. Essa campanha evoluiu e virou uma operação para apoiar Trump contra sua rival na eleição, Hillary Clinton, segundo o relatório de Mueller.
Os EUA impuseram sanções ao IRA e a Prigozhin pessoalmente por interferência nas eleições presidenciais de 2016 e depois tentaram interferir nas eleições de meio de mandato de 2018.
A Ucrânia é outro alvo importante das campanhas de desinformação do IRA e, de acordo com o Reino Unido, “soldados cibernéticos” com ligações suspeitas com Prigozhin atacaram países como Reino Unido, África do Sul e Índia.
Depois de negar qualquer envolvimento e de processar pessoas que sugeriram que ele estava por trás de fábricas de trolls e fazendas de bots, Prigozhin afirmou em fevereiro de 2023 que havia “concebido, criado e administrado” o IRA.
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Todo esse tempo, Prigozhin vinha evitando os holofotes, geralmente se comunicando com a mídia por meio de declarações emitidas por sua empresa de alimentação, Concord.
Mas isso mudou depois que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022. Meses após o início da invasão, quando as forças russas pareciam empacadas na Ucrânia, os serviços de Prigozhin voltaram a ser procurados.
Depois de anos negando a existência do Wagner, no dia 27 de julho de 2022 a imprensa controlada pelo Kremlin admitiu que o grupo estava lutando no leste da Ucrânia. Prigozhin também começou a postar vídeos nas redes sociais — aparentemente filmados em partes ocupadas da Ucrânia — nos quais se gabava das façanhas do Wagner ali. A essa altura, nenhuma outra empresa militar privada no mundo tinha acesso a tantos equipamentos de guerra, incluindo caças, helicópteros e tanques.
Logo ficou evidente que as relações de Prigozhin com os militares russos eram muito tensas. Ele criticou o alto escalão da Rússia, afirmando que o Ministério da Defesa deixou o Wagner sem munição. Ele acusou o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e o chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, de traição.
Depois que dezenas de milhares de soldados russos foram mortos na Ucrânia, Prigozhin foi autorizado a recrutar nas prisões russas. Ele visitou pessoalmente várias prisões para prometer aos criminosos condenados que eles poderiam voltar para casa livres, e com suas condenações anuladas após seis meses de luta por Wagner na Ucrânia — se sobrevivessem.
Em um vídeo, ele diz aos condenados: “Você tem mais alguém que pode tirá-lo desta prisão, se você tem 10 anos para passar atrás das grades? Deus e Alá podem, mas em uma caixa de madeira. Eu posso tirar você daqui vivo. Mas eu nem sempre trago você de volta vivo”.
A inteligência do Reino Unido estima que cerca de metade dos prisioneiros que o Wagner enviou para a Ucrânia foram feridos ou mortos.
No início de 2023, quando as relações de Prigozhin com o Ministério da Defesa pioraram, ele foi impedido de recrutar mais prisioneiros.
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Mas por que o Kremlin precisa de alguém como Prigozhin para conduzir desinformação e campanhas militares em todo o mundo?
Uma das principais razões é a chamada “negação plausível” — o uso de agentes privados permite que o governo russo negue o envolvimento em operações controversas.
E por que Prigozhin acabou nessa função? Segundo o jornalista Ilya Zhegulev, que estudou detalhadamente a biografia de Prigozhin, há diversos motivos que explicam isso.
“Ele nunca se recusou a fazer trabalhos sujos. Ele não tinha nada a perder em termos de reputação”, argumenta Zhegulev.
O passado de Prigozhin é outro motivo, diz o jornalista. “Putin não gosta de pessoas com uma reputação impecavelmente limpa, porque são difíceis de controlar. Desse ponto de vista, Prigozhin era o candidato ideal.”
Em uma rara entrevista em 2011, Prigozhin disse que certa vez escreveu um livro para crianças em que o personagem principal “ajudou o rei a salvar seu reino” e depois fez “algo verdadeiramente heróico”.
Prigozhin pode agora estar ajudando o presidente Putin a salvar sua visão da Rússia. Mas a história de sua vida não se parece nem um pouco com um conto de fadas.
*Com reportagem de Vitaly Shevchenko, da BBC Monitoring
Por: G1
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Acredita-se que o grupo defendeu os interesses russos na Síria e na Líbia, assim como no Sudão ou na República Centro-africana. Na guerra ucraniana, estima-se que há mais de 20 mil mercenários ativos, 10% de todas as tropas russas no front. O chefe do grupo, Yevgeny Prigozhin, desempenhou um papel vital na campanha militar da Rússia na Ucrânia, recrutando milhares para seu grupo de mercenários Wagner, especialmente nas prisões russas. […]
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