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A ameaça da Fifa de penalizar os jogadores que usarem o emblema com as cores do arco-íris obrigou seleções europeias a voltar atrás na decisão de usá-lo.
Capitães de equipes, incluindo Harry Kane (Inglaterra) e Gareth Bale (País de Gales), tinham planejado usar a braçadeira durante as partidas, com o objetivo de promover a diversidade, a inclusão e os direitos sociais da comunidade LGBTQIA+.
Mas a intenção deles de participar da campanha foi anulada pelas ameaças da Fifa de dar cartão amarelo aos jogadores.
A seleção da Holanda começou a usar o emblema com as cores do arco-íris antes da Eurocopa 2020. O objetivo? Promover a diversidade e a inclusão.
A Holanda começou a usar o chamado “One Love” antes da Euro 2020 e garantiu que o usaria no Catar, onde as relações entre pessoas do mesmo sexo são penalizadas. — Foto: Getty Images via BBC
A homossexualidade é considerada ilegal no Catar, onde as relações entre pessoas do mesmo sexo e a sua promoção são penalizadas — o que, aliado ao péssimo histórico no que se refere aos direitos das mulheres e dos trabalhadores migrantes, tem provocado duras críticas à escolha do país como sede do campeonato.
“Ser gay é ‘haram’; ou seja, é algo proibido, e um dano mental. Tolerância? Não. No Catar, nem todos os torcedores são bem-vindos”, disse o embaixador da Copa do Mundo, Khalid Salman, no início deste mês, durante entrevista a uma rede de televisão alemã.
Em setembro foi anunciado que os capitães de 10 países europeus — Inglaterra, País de Gales, Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Noruega, Suécia, Suíça e Holanda — usariam a braçadeira “One Love” nas partidas da Liga das Nações e na Copa do Mundo.
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, saiu em defesa do país-sede, acusando o Ocidente de “hipocrisia”.
Copa 2022: Entenda polêmica sobre a braçadeira LGBTQIA+ ‘One Love’
Um comunicado conjunto de sete associações de futebol afirmou que elas não poderiam colocar seus jogadores “em uma posição em que pudessem enfrentar sanções esportivas”.
A posição do Catar em relação à comunidade LGBTI+ tem provocado críticas e protestos internacionalmente. — Foto: Getty Images via BBC
“Estamos muito frustrados com a decisão da Fifa, que acreditamos não ter precedentes”, diz o texto.
As associações de futebol da Inglaterra, País de Gales, Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Holanda e Suíça disseram que escreveram à Fifa em setembro sobre a braçadeira One Love, mas não haviam recebido resposta.
“A Fifa foi muito clara ao dizer que vai impor sanções esportivas se nossos capitães usarem as braçadeiras em campo”, acrescenta o comunicado.
“Estávamos dispostos a pagar as multas que normalmente se aplicariam a infrações em relação ao uniforme (…) No entanto, não podemos colocar nossos jogadores em uma situação em que possam ser advertidos, ou até mesmo obrigados a deixar o campo”, explicaram as equipes.
Em resposta, a Fifa antecipou sua própria campanha “Nao à discriminação”, que estava prevista para começar nas quartas de final. A partir de agora, os capitães das seleções vão poder usar uma braçadeira com as cores preto, branco e amarelo durante todo o campeonato.
Kane usou a braçadeira da Fifa quando a Inglaterra enfrentou o Irã.
As sanções anunciadas pela Fifa por usar o “One Love” foram criticadas pela Associação de Torcedores de Futebol, que disse se sentir “traída”.
O capitão da Inglaterra, Kane, acabou usando a braçadeira preta anti-discriminação da FIFA durante a partida contra o Irã. — Foto: Getty Images
“Hoje sentimos desprezo por uma organização que tem revelado os seus verdadeiros valores ao mostrar o cartão amarelo aos jogadores e o cartão vermelho à tolerância”, afirmou a organização em comunicado.
“Nunca mais uma Copa do Mundo deve ser realizada apenas em função do dinheiro e da infraestrutura.”
“Nenhum país que fica aquém dos direitos LGBT+, dos direitos das mulheres, dos direitos dos trabalhadores ou de qualquer outro direito humano deveria ter a honra de organizar uma Copa do Mundo”, concluiu a associação de torcedores de futebol.
Por sua vez, o 3LionsPride, grupo de torcedores ingleses da comunidade LGBTQIA+, declarou que a decisão era “mais que decepcionante”, acrescentando que a Fifa estava violando o direito à “liberdade de expressão” dos capitães.
A decisão também foi condenada pelo grupo antidiscriminação Kick It Out, que denunciou que a mesma revela “o fracasso da Fifa em abordar as preocupações tanto dos grupos de direitos humanos quanto da comunidade LGBTQIA+ na preparação deste campeonato”.
O ex-capitão da seleção inglesa, Alan Shearer, disse à BBC Radio 5 Live que o momento em que a decisão foi tomada “não foi justo” para os jogadores, acrescentando que ele teria desafiado a Fifa e usado a braçadeira de qualquer maneira.
“Obviamente eu teria falado com o técnico, e minha escolha teria sido dizer: ‘Vou usar a braçadeira e levar o golpe'”, afirmou.
“Isso levantaria uma questão e um problema maior para a Fifa do que não usá-la, e é isso que eu faria, se pudesse.”
Em meio à polêmica da braçadeira, Laura McAllister, ex-jogadora de futebol do País de Gales e ex-candidata ao Conselho da Fifa, foi solicitada a tirar seu chapéu “com as cores do arco-íris” ao entrar no estádio Ahmad Bin Ali, na noite de segunda-feira (21), para assistir País de Gales x EUA.
McAllister, que é lésbica, foi parada durante as checagens de segurança no perímetro do estádio, conforme mostram imagens de vídeo do incidente.
A BBC Wales, serviço de notícias da BBC no País de Gales, apurou que as autoridades pediram a ela para tirar o chapéu de arco-íris porque era considerado um item restrito e precisaria ser entregue.
O incidente ocorreu apesar das garantias anteriores de que os torcedores teriam permissão para usar este tipo de item.
“Então, apesar das belas palavras da Copa do Mundo da Fifa antes do evento, os chapéus de arco-íris do País de Gales foram confiscados no estádio, o meu inclusive.”, escreveu McAllister no Twitter.
“Essa Copa do Mundo 2022 só melhora, mas vamos continuar defendendo nossos valores.”
A BBC entrou em contato com a Fifa para comentar o incidente.
Por: G1
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