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‘Coruja’ é uma receita antiga feita com mandioca e que mantém viva a cultura quilombola no Vale do Ribeira; conheça e aprenda

today26 de agosto de 2023 7

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O Vale do Ribeira mantém uma das áreas mais preservadas da Mata Atlântica no Paraná e em São Paulo. É também um importante reduto de descendentes de escravos. O Quilombo do Peropava, que fica a 27 km de Registro, foi reconhecido como remanescente de quilombo pelo Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP) em 2011. A região é ocupada desde 1850 por filhos de escravos libertos. Atualmente, cerca de 30 famílias moram e vivem no Quilombo Peropava.

“O quilombo tem uma história de luta, de resistência dos nossos antepassados, que foram escravizados, se refugiavam para sair do sofrimento e vinham para esses territórios e ali eles formavam a cultura deles, seja na alimentação, seja na vestimenta. Ali, vai mantendo, porque vai passando de geração em geração a cultura que nós temos”, explica Pâmela Cabral, liderança quilombola, que cresceu no Peropava.

O sustento das famílias vem da agricultura. Em meio à natureza, eles plantam arroz, mandioca, cará, frutas e verduras para o próprio consumo e para vender nas feiras da cidade. De tudo que eles produzem, a farinha de mandioca é um dos alimentos mais antigos. Ela pode ser vendida seca, em goma ou a fécula.



José Cabral trabalha na plantação de mandioca e outros legumes e verduras no Quilombo Peropava, em Registro — Foto: Mariane Rossi/g1

A Casa da Farinha é o local onde acontece o processo de transformação da mandioca em farinha e é uma tradição quilombola. Após a colheita, a mandioca é descascada e ralada em máquinas de madeira. Depois, ela é colocada em uma prensa para ser retirado o líquido. Em seguida, vai para a peneira, onde ganha a textura da farinha e no forno a lenha.

Nos fundos da casa de Maria Regina Cabral, há uma Casa de Farinha. Há 58 anos, ela vive no quilombo junto com o marido José Cabral. Ali, eles criaram os seis filhos, incluindo Pâmela. Ele acorda cedo e trabalha na roça, colhendo e plantando todos os dias, embaixo de sol ou chuva. “Cansar, cansa. Mas, é divertido”, conta ele.

As mulheres quilombolas também preparam receitas antigas e tradicionais como o cuscuz de arroz, o beiju e a coruja, um pão muito tradicional, que é feito à base de mandioca. Desde os 7 anos, Maria Regina faz a farinha de mandioca e aprendeu com a avó as receitas de família, como a coruja (veja a receita abaixo). “Minha avó fazia e eu olhava. Ai, a gente foi crescendo e aprendeu a fazer”.

A tradição foi passada para a próxima geração. Pamela cresceu vendo a mãe preparar a coruja e lembra com carinho dessa época. “Eu gosto de fazer, ela me ensinou desde pequenininha. Ela me levava para a Casa da Farinha, eu ficava ali olhando e tinha certa curiosidade”.

Hoje, Pamela faz questão de manter a cultura quilombola viva. Ela é uma das lideranças da comunidade e promove projetos para geração de renda e resgate das tradições desse povo, que atravessaram décadas.

“São essas as tradições que a gente procura manter, para que nunca se apague. Porque, daqui um tempo, quando eu for mais velha, eu não passar para os meus filhos, essa cultura não vai ter mais”

Coruja é um pãozinho feito a base de farinha de mandioca, uma tradição quilombola no Vale do Ribeira — Foto: Mariane Rossi/g1

Comida típica do Vale do Ribeira, a coruja é uma receita antiga. Com raízes indígenas, o seu principal ingrediente é a farinha de mandioca. Além dela, o prato também leva ovos, óleo e sal. A origem do nome? Regina não sabe explicar, mas diz que sempre chamou assim. “Eu só vejo coruja sentada em um toco de pau assim. E é redondo parecido com a coruja. Não sei se é isso”, sugere ela.

No Quilombo Peropava, o processo é feito desde o início. Eles colhem a mandioca na roça e fazem a farinha (veja acima). Segundo Maria Regina, ela pode ser preparada com a mandioca branca, roxa ou amarela. “Amarela é a melhor porque não precisa colocar muito ovo. Coloca pouco e já fica amarelinha a massa. Não tem diferença no sabor, só na cor”, explica.

Com a farinha pronta, é só misturá-la aos outros ingredientes e dar o ponto. Antigamente, a massa da coruja era enrolada em folha de bananeira e assada em forno de barro. Hoje em dia, basta moldar a massa em forma cilíndrico, enrolar em papel alumínio e vai ao forno convencional por até 1 hora.

Regina mantém as tradições e faz todo o processo na Casa da Farinha, mas a coruja também pode ser adaptada para quem não dispõe dos equipamentos (veja a receita abaixo adaptada).

A coruja tem uma textura que lembra a de um pão de queijo com um gostinho e os fiapos da mandioca. Após tirar do forno, a coruja é cortada em pedacinhos e já vai para a mesa. “E o café não pode faltar”, avisa Regina.

Maria Regina prepara a farinha de mandioca para fazer a coruja, feito a base de farinha de mandioca, em Registro — Foto: Mariane Rossi/g1

  • 2 kg de mandioca
  • 8 gemas
  • ½ xícara de óleo
  • ½ colher de sopa de sal
  • papel alumínio

Modo de preparo: Descasque a mandioca e rale de maneira bem fina. Coloque no processador para triturar e depois passe para um pano de prato limpo ou um coador de voal. Esprema bem até sair todo o líquido. A massa tem que ficar bem seca. Em uma tigela grande, adicione os outros ingredientes: óleo, gemas e o sal. Misture bem até ficar uma massa homogênea. Faça rolos de massa em formato cilíndrico. Unte o papel alumínio com margarina e enrole a massa. Disponha em uma assadeira e leve para assar em forno médio de 45 minutos a 1 hora. Na metade do tempo, vire a massa. Retire o papel alumínio e sirva em seguida.




Todos os créditos desta notícia pertecem a G1 Santos.

Por: G1

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