O amor pela poesia e língua portuguesa foram combustíveis para que Ricardo Avelino da Silva, de 46 anos, enfrentasse as dificuldades causadas pela encefalite neonatal [síndrome clínica de disfunção neurológica], diagnosticada aos 2 anos, e realizasse o sonho de publicar os poemas em um livro, que será lançado no dia 2 de dezembro em Santos, no litoral de São Paulo.
A apresentação do material ao público será na Primeira Igreja Batista de Santos, no Centro. Ele espera conseguir com a venda do livro arrecadar dinheiro com a venda para a compra de uma cadeira de rodas motorizada, que possa controlar com o queixo.
Com a mobilidade reduzida, Ricardo começou a escrever os poemas na década de 90, contando com a ajuda de amigos para passá-los para rascunhos, que por muito tempo guardou em um gaveta. “Montava a poesia na minha cabeça e memoriza”.
Depois, comprou um caderno e pediu para uma amiga escrevê-los junto com desenhos e bordados, que deram alma ao projeto.
Ele diz entender o amor de duas formas: aquele por uma pessoa, ao mesmo tempo carnal; e o amor espiritual, que envolve Deus. Ambos, segundo ele, se entrelaçam entre os poemas escritos. Ao g1, neste domingo (26), Ricardo confessou que nunca imaginou que as poesias virariam livro.
Para o escritor, a poesia que abre o livro ‘Coração de um poeta’, é o preferida. Intitulado ‘O Sol Ardente de Amor’ traz o seguinte texto:
Quando eu te vi
Vi o sol brilhando intensamente
Bateu forte um calor no meu peito
Senti vontade de mergulhar
Na fonte do amor
Escritor enfrenta dificuldades causadas por deficiência e lança livro de poesias para sonho de cadeira motorizada — Foto: Alexsander Ferraz/A Tribuna Jornal
Aquele caderno com as poesias chegaram às mãos da jornalista e gestora de projetos culturais, Ana Paula Christo Mendes, de 56 anos, que reconheceu a riqueza do conteúdo.
Ana Paula contou que conheceu Ricardo durante estudo bíblico na igreja que frequenta, mas que antes de conhecê-lo, sentiu despertar dentro dela uma curiosidade para saber quem era o rapaz, pois tem um irmão com necessidades físicas. Enquanto conversavam, soube do caderno de poesias.
“Ao estar com ele em mãos, vi que tinha um tesouro e que algo tinha que ser feito. (…) Ver esse material tão rico de poesias do Ricardo com um tema tão necessário, resolvi transformar em livro e começamos um relacionamento de uma amizade verdadeira e mútuo”, disse ela.
Para a jornalista, a força de Ricardo vai muito além das limitações físicas, e a amizade deles é como um encontro de almas. “É uma mensagem de inclusão social. Importante para que as pessoas vejam além das aparências, mensagem para políticas públicas e olharem às pessoas que têm necessidade, dar mais amparo público e condições de transporte”.
Ricardo ao lado da mãe, irmã e Ana Paula (à direita) — Foto: Alexsander Ferraz/A Tribuna Jornal
Morando em Santos há 4 anos, Ricardo confessou que umas das inspirações para escrever os poemas é baseada em um amor platônico que teve por uma funcionária de uma rádio em Coronel Fabriciano (MG), onde morava. O programa tocava música romântica e, segundo ele, foi amor à primeira vista.
Esse sentimento fez com que o lado romântico dele despertasse, apesar deles não terem tido um relacionamento. Os outros poemas de Ricardo são inspirados no lado espiritual dele e, principalmente, ao Espírito Santo, que ele descreve como um grande amigo e professor. Para ele, que sonha em cursar letras, o livro é paixão, amor, vida, Deus e fé. “A poesia foi criando vida dentro de mim”.
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