Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revelou que estuário de Santos, no litoral de São Paulo, é um dos locais mais contaminados por microplásticos no mundo, após comparar os dados com 125 pesquisas de mais de 40 países. O levantamento foi feito a partir da análise de ostras e mexilhões de três áreas: na região da travessia de balsas Santos-Guarujá, na Praia do Góes e na Ilha das Palmas.
“Os resultados de um dos nossos pontos de coleta, que é a travessia de balsas entre Santos e Guarujá, apresenta uma das concentrações mais altas já encontradas”, disse o professor e pesquisador do Instituto do Mar, Italo Braga de Castro.
Ainda de acordo com ele, as ostras e os mexilhões são considerados excelentes sentinelas da contaminação. Eles filtram a água para se alimentar de algas microscópicas e materiais em suspensão e, consequentemente, acabam servindo para analisar a qualidade da água.
“Nós esbarramos em concentrações que estão entre as maiores do mundo”. De acordo com o professor, nos dados coletados na área da travessia de balsa foram encontradas concentrações de microplásticos que variam de 20 a 30 partículas por grama do tecido dos moluscos.
Castro citou que em um único organismo os pesquisadores chegaram a encontrar 300 partículas de microplásticos, a maior parte de origem têxtil.
Travessia de balsas entre Santos e Guarujá é um dos pontos com maior nível de contaminação por microplásticos do mundo, segundo pesquisa da Unifesp — Foto: Flávio Hopp/A Tribuna Jornal
De acordo com o pesquisador, isso significa que, provavelmente, essas partículas são provenientes do esgoto, tratado ou não, que é lançado no estuário.
“O que mais despertou a atenção foi a altíssima concentração na região que, embora não seja surpresa, chama a atenção e ressalta a preocupação com a qualidade ambiental que a gente tem nesse estuário”.
Castro disse ainda que Santos tem um histórico de contaminação grande em função do alto grau de urbanização e presença de polos industriais e terminais portuários.
“Não há nenhuma surpresa em ter níveis tão altos de contaminação em Santos porque os microplásticos estão disseminados mundialmente nos mares e oceanos”.
Os estuários são ambientes de transição entre rio e mar que, inclusive, servem como berçário para muitas espécies de animais. Eles também representam uma barreira importante para redução de impactos das mudanças climáticas e efeitos das marés sobre a cidade.
“A contaminação de microplásticos nessas zonas preocupa na medida que essas áreas são particularmente sensíveis”, ressaltou o professor e pesquisador.
Pesquisadores da Unifesp analisaram ostras e mexilhões de três áreas entre Santos e Guarujá (SP) — Foto: Divulgação/Unifesp
A motivação desse estudo foi a preocupação emergente causada pelos microplásticos, que são contaminantes. “Os dados do estudo despertam uma preocupação, mas, por enquanto, ainda não podem ser pautados para criar novas políticas públicas”.
O principal e preocupante ponto, segundo Castro, é que a remoção dos plásticos dos oceanos está longe da realidade tecnológica. “Não temos ferramentas capazes de fazer isso em áreas amplas e vastas”.
Por outro lado, ele ressaltou que pesquisas como essas permitem aos gestores ambientais adotarem políticas que visem a redução do uso do plástico. “Isso provavelmente não vai ter reflexo imediato dos microplásticos no estuário, mas vai evitar a médio prazo que esses valores aumentem”.
O diretor do Instituto do Mar da Unifesp, Igor Dias Medeiros, ressaltou que objetivo das pesquisas são caracterizar os ecossistemas da região e, a partir desses dados, formular políticas públicas. “Identificar padrões de contaminação e fornecer dados científicos aos gestores municipais para embasar a tomada de decisões”.
Travessia de balsas entre Santos e Guarujá é um dos pontos com maior nível de contaminação por microplásticos do mundo, segundo pesquisa da Unifesp — Foto: Divulgação/Unifesp
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