O projeto ‘Mães da Esperança’ foi criado pela fotógrafa Carolina Pierre, inspirada na própria história com a filha Lia. A menina, hoje com 4 anos, nasceu com hidrocefalia [acúmulo de líquido no cérebro] e passou por tratamento na CES por três anos até atingir os marcos de desenvolvimento sem sequelas e receber alta.
“Minha história resumidamente é bem curtinha, mas foi muito sofrida. Eu sofri demais e conheci a história de outras mães que passaram por muita coisa para ver os filhos crescerem e se desenvolverem. Parece que a dor das outras mães é a minha dor […]. E eu quis usar o que eu tenho de melhor, que é a fotografia, para transformar em algo bom”, explicou Carolina.
Carolina criou projeto inspirado na história com a filha Lia — Foto: Carolina Pierre
Ao g1, a fotógrafa contou que procurava uma forma de dar sentido ao sofrimento que teve durante anos, quando percebeu que a rotina de pacientes da CES não está em nenhum lugar.
“Você não vê essas crianças na publicidade ou nos noticiários. Quando você vê, é sempre uma questão com preconceito ou quando elas estão em extrema necessidade pedindo alguma coisa. Mas não estão num dia a dia, em um parque. Elas não estão em fotografias curtindo com a mãe um momento de lazer”, disse.
Carolina começou a idealizar o projeto para retratar os momentos comuns e de lazer das crianças com as mães, pois acredita que as famílias merecem mais visibilidade, bem como amor e carinho. “Essa força que elas [mães] têm, que nós temos, merece ser mostrada”, explicou.
De acordo com a fotógrafa, os principais objetivos do projeto são valorizar e proporcionar autoestima para as mães e inspirar mulheres que estão chegando no universo da maternidade atípica “a terem um caminho e olharem que existe uma luz no fim do túnel”.
Além disso, o projeto de Carolina tem como intuito divulgar o trabalho da CES, que é um Centro de Habilitação e Reabilitação Infantil sem fins lucrativos e que sobrevive com doações. “É uma forma de agradecer a Casa da Esperança pelo acolhimento que me deram”, enfatizou sobre o local que oferece tratamento médico e terapêutico.
Carolina Pierre criou projeto inspirada na filha Lia, de 4 anos. — Foto: Carolina Pierre
“Eu sei o que essas mães passam porque eu vivi isso também, então acho que nada melhor do que eu retratar essas mães. A dor é a mesma. Eu senti, eu sinto ainda, ainda estou passando a fase de me adaptar à vida sem a Casa da Esperança”, explicou Carolina.
Logo que idealizou o projeto ‘Mães da Esperança’, Carolina pensou em três fases: exposição fotográfica, documentário e livro. Por isso, ela selecionou sete mães com histórias inspiradoras, ouviu sobre o diagnóstico de cada criança, fez as fotos e criou um site com o resumo de cada vivência.
As fotografias com a descrição de cada família chegaram a ser expostas em totens durante a semana de Dia das Mães no Shopping Balneário, no Gonzaga, em Santos.
Exposição fotográfica está no Shopping Balneário, em Santos (SP) — Foto: Carolina Pierre
O documentário, segundo ela, já está em fase de produção. “Fui atrás de patrocínio e consegui”. Carolina contou que a produção deve ser lançada ainda neste ano, mas ainda não há uma data estabelecida.
Em relação ao livro, este, de acordo com ela, ainda está no campo do sonho. “Seria a fase final, digamos assim, o fechamento”, afirmou a fotógrafa, que está batalhando para concretizar o que planejou.
Mesmo depois de ter projetado três fases para concluir o projeto, Carolina entendeu o potencial do trabalho. E ela pensa em estender o trabalho em novas etapas.
“Gostaria de continuar com esse projeto, levar palestras para essas mães, cursos, para fazer com que essas mães se desenvolvam também, porque elas dedicam muito tempo da vida delas no tratamento dos filhos”, disse.
Documentário ‘Mães da Esperança’ já está em produção — Foto: Divulgação
O objetivo é criar uma rede de apoio. “Além de dar visibilidade, acho que o próximo passo seria cuidar um pouquinho mais dessas mães”, afirmou.
Fabiana Costa da Silva, de 40 anos, foi uma das modelos do projeto ‘Mães da Esperança’. Ao g1, ela contou que a experiência foi ótima, inclusive para o filho Luis Vinícius, de 12 anos. “Adorei participar e ser modelo dessa campanha. É um projeto lindo, que eu admiro e respeito. […] Luis Vinícius gostou, a gente se divertiu muito”, afirmou.
O menino é portador de Distrofia Muscular de Duchenne, uma doença neuromuscular genética e rara, que proporciona um distúrbio degenerativo progressivo e irreversível no tecido muscular. Fabiana já perdeu um filho para a doença, mas viu o quadro se repetir em Luis, que iniciou tratamento na Casa da Esperança há quatro anos.
Fabiana é mãe de Luis, e teve a história contada no projeto Mães da Esperança — Foto: Carolina Pierre
Ela, que se dedica integralmente aos cuidados com o menino, contou que o processo não tem sido fácil, e que há um ano o filho passou a demandar o uso de cadeira de rodas. Apesar das dificuldades, enalteceu a força do menino, que a enche de gás para continuar.
“Cada dia que passa, ele me dá mais força para continuar lutando, por ele e por mim, para mostrar para todas as pessoas esse significado de amor e superação que nós temos pelos nossos filhos”, ressaltou Fabiana, que viu no projeto de Carolina mais um combustível para mostrar a força dessas mães e não desistir a missão.
A autônoma Thayna Marques Alves, de 25 anos, acompanha o filho na CES desde os seis meses de vida. Para ela, participar do projeto foi uma realização. “Sempre gostei de postar fotos com a evolução do meu filho nas redes sociais. Mostrar a história dele em uma exposição com mãe atípicas, que quase não são lembradas, é uma realização e uma gratidão muito grande”, afirmou.
Noah foi diagnosticado com o Pé Torto Congênito (PTC) ao nascer e, com quatro meses, sofreu a primeira convulsão e hipotonia (diminuição da resistência ao movimento). “Descobrimos que ele tinha epilepsia porque nesse tempo ele tinha várias crises sem febre. Com um aninho, descobrimos que o Noah tem três variantes de significado incerto”, afirmou Thayna.
De acordo com ela, o filho foi diagnosticado com a rara Síndrome da Displasia Cardiocrofacial, condição genética que afeta o desenvolvimento da face, coração e outras partes do corpo. No entanto, Noah ainda pode ter outras doenças, que estão sendo estudadas.
Thayna e Noah também foram modelos do projeto Mães da Esperança — Foto: Carolina Pierre
Moradora de Praia Grande, Thayna contou que a rotina é exaustiva, pois o tratamento acontece em Santos. “Noah passa por várias especialidades médicas. Temos que ter toda uma programação”. A mãe contou que o menino tem se desenvolvido bem graças ao apoio da CES.
“O Noah é uma criança que, independente do diagnóstico, é feliz. Ele amou participar [do projeto], ama quebrar rotinas, sair e estar junto com outras crianças. Foi um momento único de mãe e filho”, concluiu a autônoma.
VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos
Publicar comentários (0)