G1 Santos

Garota com síndrome que a faz ‘xingar sem querer’ passa por tratamento no litoral de SP

today8 de agosto de 2022 20

Fundo
share close

A adolescente Victoria Nobre Fernandes, de 15 anos, revelou ao g1, nesta segunda-feira (8), que a pressão e a vergonha causada pela Síndrome de Tourette a obrigaram a procurar tratamento médico especializado para evitar que ela se machucasse. A mãe dela, Lucineide Nobre Bispo, de 57, afirma que a situação é complicada, mas que está preparada para lutar com a filha pelo melhor tratamento.

“Abracei a causa dela e onde ela está eu estou junto. Não a deixo desanimar. Ela já tentou duas vezes se machucar por não aceitar as condições nas quais se encontra. Estou correndo, com psicólogos, psiquiatras, neurologistas”, disse Lucineide, que mora em Guarujá, no litoral de São Paulo.

A síndrome se caracteriza pela emissão involuntária de sons, palavras, xingamentos, gestos e tiques. Para o psicoterapeuta cognitivo comportamental, Anderson Martiniano, tais ‘sintomas’ contribuem para o isolamento social, mudança de humor e, consequentemente, pensamentos negativos.

Victoria conta que trabalha com uma equipe de profissionais que dão o apoio e instruções necessárias para se manter firme e focada no tratamento.

“Não gosto de viver com ela (síndrome) porque ela me atrapalha bastante no dia a dia, mas não vou tentar mais me machucar e estou fazendo acompanhamento psiquiátrico”, disse a jovem.



Martiniano aponta que é possível, com um acompanhamento adequado, reverter o quadro e fazer com que a pessoa aprenda a conviver com a patologia. Ele ressalta que, para isso, é importante um trabalho multidisciplinar, com médico neurologista, psicoterapeuta, além do envolvimento dos pais, familiares, escola e alunos.

“O indivíduo tem a obrigação de saber o que ele tem. O profissional deve informar. [Na cabeça do paciente] ter a consciência do que ele tem é uma maneira dele entender que aquilo [condição] não representa quem ele é, mas o que tem. A patologia não descreve o indivíduo, mas o que ele tem, e a perturbação com que convive”, disse.

O psicoterapeuta explica que existem formas e métodos de diminuir as angústias do paciente. Ele cita entre elas “o manejo de ambiente, conscientização do indivíduo e aplicação de técnicas para a redução dos sintomas”.

“É importante que ela entenda objetivamente qual o papel da terapia no tratamento dela, qual o papel da medicação, dos pais e da escola. A partir daí, começa a entender que está recebendo suporte”, destacou.

O psicoterapeuta ressalta a importância de se manter atento às mudanças de humor, que eventualmente podem desencadear problemas mais sérios. “Qualquer pessoa que tenha uma mudança crônica no comportamento e na relação com as pessoas, ela com certeza tem sofrimento psíquico”.

Segundo ele, sinais como irritação, tristeza, afastamento dos amigos, de momentos de lazer, queda no desempenho no trabalho, na escola e desatenção mostram que algo não vai bem.

“Quando você tem um decréscimo muito grande desses comportamentos, como ficar mais em casa, ficar mais no quarto, conversar menos, interagir menos, são sinais de transtornos psíquicos, seja ele de uma depressão, de um estresse ou até mesmo de uma fobia social”.

Antes mesmo de procurar a ajuda de um especialista, Martiniano explica que pessoas que convivem com indivíduos que tenham apresentado os sinais descritos acima podem ajudar.

Segundo ele, estas devem se aproximar e explicar que notam certas mudanças de comportamento e, consequentemente, saber se aconteceu algo e como podem contribuir.

O médico neurologista Edson Amâncio explicou que a síndrome geralmente se manifesta na adolescência e não é notada em nenhum exame neurológico. Portanto, o diagnóstico é clínico, como citado acima. Após a descoberta, deve ser iniciado tratamento com medicação e psicoterapia, opção que traz ótimos resultados, segundo o especialista.

“Ela [síndrome de Tourette] se manifesta na infância e adolescência, mas pode desaparecer completamente no início da fase adulta ou pode persistir durante toda a vida, mas geralmente quando persiste é com gravidade reduzida, e pode ser intermitente, em que [a pessoa] passa uma longa temporada sem tique nenhum e de repente volta”.

Segundo ele, a síndrome se caracteriza por “tiques motores, gritos inarticulados, acompanhados de palavras articuladas, com ecolalia [repetição de palavras] e coprolalia [uso de palavras obscenas]”.

Amâncio ressalta que a síndrome pode ser confundida com transtorno compulsivo obsessivo, mas aponta que são condições diferentes. Ele disse ainda que muitos tiques podem ser ocasionados pela síndrome, mas não ganham destaque porque a condição geralmente é associada aos quadros em que as pessoas xingam, falam alto e fazem gestos.

“Outras comorbidades acompanham a síndrome de Tourette, como a ansiedade exagerada, estresse, então não é uma coisa muito simples de definir”, disse o médico, que acrescentou a possibilidade da hereditariedade, ou seja, de a síndrome ser genética, biológica.

Os tiques motores, de acordo com ele, envolvem encolhimento do ombro, piscar, fazer careta, produzir sons como gritos, pigarro ou fungada, por exemplo – são tiques frequentes e mais brandos.

Amâncio ressalta que hoje há medicação disponível e específica que podem cuidar muito bem dos tiques. Assim como a psicoterapia.

“Hoje os recursos terapêuticos são muito avançados. Pode ser que você amenize nos casos mais graves, mas nos mais leves você consegue dominar completamente. É questão de acertar a medicação”, finaliza.

VÍDEOS: g1 em 1 minuto Santos




Todos os créditos desta notícia pertecem a G1 Santos.

Por: G1

Esta notícia é de propriedade do autor (citado na fonte), publicada em caráter informativo. O artigo 46, inciso I, visando a propagação da informação, faculta a reprodução na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos.

Avalie

Post anterior

morre-archie-battersbee-apos-desligamento-de-aparelhos

Gospel Prime

Morre Archie Battersbee após desligamento de aparelhos

Após suspensão de ventilação artificial que o mantinha vivo, Archie Battersbee, 12 anos, veio a óbito sábado (06) às 12h15 no Hospital Royal London em Londres. “Um garotinho tão lindo, ele lutou até o fim”, disse a mãe, Hollie Dance. Archie esteve 4 meses dependente de máquinas para se manter vivo. Apesar do estado crítico do garoto, sua família acreditava que ele pudesse voltar à consciência. Os pais do menino com […]

today8 de agosto de 2022 13

Publicar comentários (0)

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado. Os campos obrigatórios estão marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.


0%