Os animais são dois machos e uma fêmea – que teve machucados mais leves, foi resgatada por uma protetora e já encontrou um novo lar. Os machos, que são alimentados pelos moradores com frequência, continuam soltos no local. Eles devem ser conduzidos ao Instituto Viva Bicho, em Santos, ainda nesta semana.
Uma moradora, que preferiu não se identificar, contou que vive na comunidade onde a plataforma está localizada. Ela está acostumada a alimentar gatos de rua, que aparecem na porta da casa dela, mas teve uma surpresa negativa recentemente. De um mês para cá, os três animais em questão foram encontrados feridos.
“Eles ficam aqui pela passarela. De uma hora para outra, chegou a primeira. Em uns dois dias, apareceu outro gatinho queimado. Passados uns dias, o último”, contou.
O terceiro gato é o que ela apelidou carinhosamente de “Cabeção”. Ele está na rua há quase um ano e, no início da semana, apareceu com as supostas queimaduras.
‘Comeu e não voltou mais’
Segundo a moradora, Cabeção ficou três dias sem aparecer no barraco dela, o que fazia rotineiramente em busca de alimento. A mulher, que já tem um gato e um cachorro, ficou preocupada e chegou a cogitar que ele havia morrido. O gato voltou durante a manhã no início da semana, desapareceu novamente e, no dia seguinte, retornou.
“Ele apareceu todo estranho, como se estivesse preso em algum lugar e sido solto. Todo arisco […] Ele comeu, só pela manhã, não veio mais meio-dia, não veio à tarde. Fiquei esperando ele vir e não apareceu. À noite, fiquei até 23h esperando ele vir. De manhã, apareceu queimado”.
A moradora recordou ter ficado em choque ao se deparar com o pet naquele estado. Ela afirmou que é comum ver gatos perambulando pela plataforma, mas desde que os ferimentos apareceram o número de animais no local diminuiu.
À direita, a gata que foi resgatada e recebeu atendimento veterinário. — Foto: Arquivo pessoal
Para a moradora, “alguém com muita maldade no coração” deve ser responsável pelos ferimentos. Não há testemunhas, embora a população acredite se tratar de maus-tratos.
Médicas veterinárias consultadas pela reportagem afirmam que os ferimentos podem, de fato, ser queimaduras causadas por alguém. Apesar disso, testemunhas seriam imprescindíveis para classificar o ocorrido como um crime.
“Ao meu parecer e de colegas que consultei, parece sim que foi jogada água quente. Porém, para confirmar, como não há provas, precisaria de um exame de pele”, afirmou a médica veterinária Gislaine Nunes.
A veterinária Giovanna Duarte afirmou que alguns animais podem se lesionar de tanto coçar ou lamber a pele, mas nunca viu um ferimento nesse grau causado pelo próprio animal.
A especialista em gatos Alessandra Gonçalves apontou que quando se trata de um pet de “vida livre”, que perambula pelas ruas, outras causas podem ser consideradas.
“O quadro muda totalmente quando são gatos que não têm procedência e foram ficando dessa forma, porque existem outras doenças, inclusive esporotricose [doença infecciosa causada pelo fungo]. Estamos vendo um crescimento na região da Baixada Santista, é uma doença transmissível fúngica. Por isso, o histórico é importante”.
Ao g1, a doutora em Direito Ambiental Internacional Juliana Gerent reforçou que é necessário pensar tanto na responsabilidade penal quanto civil em casos de maus-tratos a animais.
“Esses casos têm acontecido muito, e a sociedade ainda ignora esse tipo de coisa, porque ainda enxerga os animais, principalmente os de rua, como coisa de ninguém. E não é assim que as coisas devem ser vistas. Os animais, hoje, têm direitos”.
Com os avanços na proteção animal, o responsável pode até ser incumbindo de pagar indenização por danos morais e materiais.
“Essa é a grande novidade no direito. Os tribunais têm aceitado o animal como autor de uma ação e requerendo essa indenização. Porque o dinheiro que vier dessa indenização será usado para o gato, para alimentação, cuidados veterinários. Isso é importante”.
O Instituto Viva Bicho afirmou ao g1 que recebeu a solicitação, mas o gato com ferimentos mais graves não foi mais encontrado pelas moradoras. Os profissionais aguardam que o animal seja levado até a sede do instituto para garantir o tratamento dele.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria Estadual da Segurança Pública (SSP) para verificar se houve alguma denúncia de maus-tratos na região, mas ainda não obteve retorno.
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