A importância militar, política e econômica do Grupo Wagner cresceu constantemente nos últimos anos. Nem sempre é possível rastrear tais atividades em termos concretos, mas estima-se que o grupo mercenário atue em cerca de 30 países em todo o mundo, incluindo Síria e Mali.
Guerra da Rússia na Ucrânia
Desde o início da invasão russa da Ucrânia, o Grupo Wagner ganhou as manchetes. Ele foi identificado pela primeira vez em 2014 na região de Donbass, na Ucrânia. Desde então, o exército privado cresceu de forma constante. “Hoje é tido como quase certo que o [Grupo] Wagner disponha de 50 mil combatentes na Ucrânia, tornando-se um componente-chave da invasão da Ucrânia”, afirmou em janeiro o Ministério da Defesa britânico. O próprio chefe do grupo, Yevgeny Prigozhin, falou recentemente sobre cerca de 25 mil homens em sua unidade.
Entre os recrutados, estão sobretudo presidiários russos atraídos pela promessa de anistia. O Grupo Wagner desempenhou um papel particularmente importante na fortemente disputada cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia. Em maio, o grupo declarou vitória sobre Bakhmut e anunciou que a cidade seria a partir de então entregue ao exército russo.
O Grupo Wagner é particularmente ativo em países africanos. Aqui, a unidade paramilitar atua sobretudo na defesa dos interesses russos, seja através da extração de matérias-primas, seja arruinando a posição dos atores democráticos ou investindo em campanhas de desinformação.
O Sudão é considerado um dos países-chave para a influência russa na África. O Grupo Wagner atua lá há anos e fornece apoio ao governo militar. Segundo a imprensa, o principal interesse da Rússia estaria no acesso a matérias-primas valiosas, como ouro, manganês e silício — além dos depósitos de urânio.
“Prigozhin e sua rede têm usado os recursos naturais do Sudão para ganho pessoal e para expandir sua influência”, disse o ex-secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin. Durante o regime do ditador Omar al-Bashir, as licenças de mineração para minas de ouro foram para a empresa russa M-Invest, supostamente controlada pelo oligarca e chefe do Wagner, Yevgeny Prigozhin. Com isso, os seguranças do Wagner também ganharam a tarefa de proteger as minas de ouro da M-Invest no Sudão.
A junta militar do Mali também conta com os mercenários russos do Wagner. Assessores independentes do Conselho de Direitos Humanos da ONU suspeitam que os combatentes estejam envolvidos em crimes graves no país, como violações de direitos humanos e crimes contra a humanidade. Desde 2021, teriam havido “relatos contínuos e alarmantes” — especificamente, fala-se de “execuções terríveis, valas comuns, atos de tortura, estupro e violência sexualizada, saques, prisões arbitrárias e desaparecimentos forçados”.
República Centro-Africana
Segundo o embaixador russo, cerca de 1.890 “treinadores russos” apoiam as tropas do governo na guerra civil na República Centro-Africana. O grupo teria assumido parte da proteção pessoal do presidente Faustin-Archange Touadéra, ajudando a treinar o exército do país a fim de prepará-lo para possíveis tentativas de golpe. Em troca de seu apoio militar e político, o grupo teria acesso a recursos minerais como diamante, ouro e madeira.
Assim como no Mali, a população da República Centro-Africana sofre com o aumento da violência e das violações de direitos humanos por parte dos funcionários do Wagner. Em um relatório da ONU datado de junho de 2021, os investigadores documentaram inúmeras violações do direito humanitário internacional, incluindo uso excessivo da força, assassinatos de civis, estupro, tortura, ocupações de escolas e saques regulares.
No final de 2015, membros do Grupo Wagner foram confirmados pela primeira vez na Síria depois que alguns foram mortos por combatentes da milícia antigovernamental. A Rússia é aliada do governo autoritário do país há muitos anos, fornecendo apoio militar ao ditador sírio Bashar al-Assad desde o início de 2015, com mercenários do Grupo Wagner lutando ativamente ao lado de soldados russos regulares. Estima-se que, em seu auge, o Grupo Wagner estivesse envolvido na guerra na Síria com mais de 5 mil combatentes. Com o início da guerra na Ucrânia, porém, combatentes russos foram retirados do país árabe, incluindo do Grupo Wagner.
Na Líbia, o Grupo Wagner tem atuado como uma força independente. Desde 2014, depois que o ditador Muammar Kadafi foi derrubado numa revolução, o país está efetivamente dividido em dois, com um governo no leste e outro no oeste. Acredita-se que os combatentes do Grupo Wagner estejam na Líbia desde então. Sua tarefa seria apoiar o governo no leste e seu chefe de fato, o ex-chefe militar líbio Chalifa Haftar, nas áreas de segurança e treinamento. Em 2019, eles participaram abertamente do ataque de Haftar ao governo do oeste da Líbia em Trípoli.
No passado, havia cerca de 2 mil funcionários do Wagner na Líbia, mas não se sabe ao certo quantos estão lá atualmente. Acredita-se que o grupo tenha expandido sua esfera de atuação para o vizinho Sudão.
Tanto na Líbia quanto na Síria, os combatentes do Grupo Wagner foram acusados de tortura, assassinato indiscriminado e outros crimes de guerra.
O Departamento de Defesa dos EUA acredita que o grupo mercenário também tenha vínculos com os Emirados Árabes Unidos e que seja pago pela confederação árabe para apoiar Haftar na Líbia.
Aparentemente, a Rússia também enviou unidades paramilitares para a América Latina. Segundo a agência de notícias Reuters, membros do exército privado Wagner voaram para Caracas em 2019 para garantir a segurança do presidente venezuelano Nicolás Maduro. Acredita-se que o Grupo Wagner também esteja ajudando a Venezuela a montar suas próprias unidades de elite.
A Venezuela e a Rússia têm estreitos laços militares e econômicos. Os russos são um dos maiores credores do governo venezuelano: desde 2006, eles emprestaram cerca de 17 bilhões de dólares a Caracas. Dessa forma, a Rússia estaria assegurando o controle das maiores reservas de petróleo do mundo na Venezuela.
Segundo análise do CSIS, o Grupo Wagner não atua somente em países do continente africano, mas também na Ásia. Um dos locais de atuação seria o Sri Lanka, embora não se saiba como exatamente as tropas operariam por lá, já que, em alguns casos, isso envolveria redes muito complexas de diferentes unidades paramilitares russas.
Um relatório do think tank americano New America mostra ligações entre a empresa de segurança russa Moran e o Grupo Wagner, com vários funcionários da Moran declarando abertamente ter conexões com o grupo — inclusive no Sri Lanka.
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