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Guerra na Ucrânia, 1 ano: sociólogo brasileiro viaja à Rússia e detalha em livro rotina de mulheres durante o conflito

today25 de fevereiro de 2023 31

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Enquanto alguns brasileiros que estavam na Rússia tentavam voltar ao Brasil depois que Vladimir Putin ordenou a invasão à Ucrânia, o escritor e sociólogo Gustavo Gumiero decidiu fazer o caminho contrário: viajar ao país russo. A ideia do escritor, que pouco antes já havia estado em Kiev, capital ucraniana, era dar voz às mulheres, que, segundo ele, possuem um papel fundamental na guerra, mas não há ninguém que se debruce sobre a história delas.

Nesta sexta (24), dia em que o conflito completa um ano, Gumiero lança o livro “Gritos da Guerra – O conflito Rússia-Ucrânia na voz das mulheres que sofrem”. Na obra, o escritor relata o que acompanhou da rotina de seis mulheres – duas ucranianas, três bielorrussas e uma russa – que tiveram as vidas totalmente transformadas pela guerra.

“A guerra é perversa. Na guerra quem sofre são as pessoas que menos tem a ver com a guerra. As mulheres têm um papel importantíssimo nesse quesito e são as que mais sofrem […] Porque as mulheres tiveram que sair das suas terras, cuidar dos filhos; e se perdem o marido ou o irmão, elas que vão ter que tomar conta de tudo. Já eram sobrecarregadas, e são mais ainda, e a gente pensa que elas não participam da guerra, mas elas participam de uma forma muitas vezes silenciosa.”, afirmou o escritor ao g1.



Nascido em Valinhos (SP), Gustavo Gumiero era jogador de futebol até 2007. Na carreira, atuou por times como Ponte Preta, Rio Claro, XV de Jaú, Guaçuano, Primavera e União Barbarense. Em 2012, a paixão pela sociologia surgiu após ler uma entrevista de Zygmunt Bauman, sociólogo polonês.

Após concluir mestrado e doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em Campinas (SP), dedicou-se à carreira de escritor com mais de 200 artigos publicados em jornais brasileiros e seis livros lançados.

‘Eu preciso dar voz a ela!’

A primeira mulher ouvida por Gustavo foi a ucraniana Oksana Klashnikova, de 33 anos. Os dois se conheceram quando o sociólogo esteve em Kiev.

A ele, Klashnikova destacou, depois do início da guerra, que já havia precisado recomeçar a vida do zero por duas vezes por causa de outros conflitos, em 2014 e em 2021, abandonando família, emprego e amigos.

“Ela era uma refugiada dentro do próprio país, porque ela fugiu daquela região que foi anexada pela Rússia [em 2014]. Ela deixou pai e irmão, e perdeu a mãe para o câncer nesse mesmo período, então imagina a dificuldade, e ela teve que recomeçar do zero. Ela me deu esse depoimento 1 mês depois de ter fugido da Ucrânia [após novo conflito em 2021]. Ela foi duplamente refugiada, e hoje está vivendo na Romênia. Esse é, dos seis depoimentos, o mais forte.”, explica.

Foi essa primeira história que o motivou a buscar outras mulheres que poderiam estar vivendo algo parecido. No entanto, Gustavo relata que teve dificuldades de conversar e conhecer outras narrativas.

“Eu procurei ouvir esses três países do Leste Europeu que são envolvidos [Rússia, Ucrânia e Bielorrússia]. As outras depoentes eu encontrei por meio de amizades que eu já tinha preestabelecido ou em redes sociais. Eu entrava em grupos de refugiados, e [conversava com] as que falavam inglês e/ou que queriam depor, isso porque muitas não tinham condição, falavam: ‘eu até gostaria, mas eu não consigo expressar em palavras o que eu estou vivendo’. “, diz.

E, mesmo após ouvir cinco mulheres com vidas diferentes, Gustavo encontrou algo que as une: o medo do futuro.

“O pânico continua, apesar de você estar vivendo em um país que ‘não está sofrendo’ a guerra em seu território, no caso da Bielorrússia, mas tem esse pânico, essa incerteza do futuro. Uma outra bielorrussa falou: ‘Eu não planejo mais o futuro, eu vivo o hoje, porque amanhã é só incerteza. Me roubaram essa possibilidade de planejar o futuro’.”, afirma.

Antes da guerra, Gustavo Gumiero esteve em Kiev, capital da Ucrânia, em frente ao Memorial do Holocausto. Estátua foi utilizada na capa do livro. — Foto: Acervo pessoal/Gustavo Gumiero

‘São relatos de força, de resiliência, de coragem’

Segundo o sociólogo, há mais de 50 mil mulheres atuando nas Forças Armadas da Ucrânia. Além disso, há um outro “exército feminino” atuando no conflito, formado por mulheres que tiveram que sair do país.

“Então são relatos de força, de resiliência, de coragem, que eu quis colocar as mulheres no patamar devido, que elas merecem.”, afirma Gustavo, como sendo um dos motivos para o desenvolvimento da obra.

Além disso, Gumiero tem como objetivo levar ao leitor o contexto histórico do conflito de uma forma mais acessível.

“Também procuro inteirar o leitor e a leitora da geopolítica e do histórico do conflito, contextualizar para que se possa entender melhor, porque aqui no Brasil muitas vezes as notícias são escassas, ou são incompletas. Então como um brasileiro, que já viveu lá nos três países que estão sendo mais afetados pela guerra, eu quis trazer esse relato para traduzir em uma linguagem acessível, sem ser acadêmica, e que ele [o leitor] conheça mais da história desses países, que é uma história muito rica.”

Após eclodir a guerra, Gustavo relata que, através dos mesmos grupos de redes sociais para refugiados, uma rede de psicólogos e psicólogas tentava ajudar essas mulheres, mas a tarefa não era tão simples.

“Eu falei com alguns psicólogos, e eles falaram que muitas mulheres, não é que não querem ajuda, elas querem, mas não conseguem ser ajudadas exatamente porque não conseguem falar, não conseguem relatar, então eles não tem como ajudar. Eles se oferecem, mas é muito ocioso, estão ajudando muito menos pessoas que eles gostariam e pensaram que pudessem ajudar, pela incapacidade da comunicação, pelo trauma, pela dor e pelo sofrimento.”, afirma.

Gustavo Gumiero — Foto: Janilson Paiva

Lançamento “Gritos da Guerra – O conflito Rússia-Ucrânia na voz das mulheres que sofrem”, de Gustavo Gumiero

  • Data: sexta-feira, 24 de fevereiro, às 19h30
  • Local: Livraria Leitura do Parque Dom Pedro Shopping
  • Endereço: Av. Guilherme Campos, 500 – Jardim Santa Genebra

*Sob supervisão de Helio Carvalho

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Por: G1

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