Ao g1, a irmã Bruna de Oliveira disse ser gratificante ver que tudo construído pelo irmão terá sequência. “Muito emocionante e gratificante ouvir palavras das pessoas homenageando, falando sobre meu irmão. […] ele está ali presente, não só dentro de mim, mas dentro de todos que estavam ali”, disse.
Rafael sumiu em meio aos deslizamentos em 3 de março de 2020 e só foi achado em 8 de março. No dia da fatalidade foram registrados desabamentos de encostas de morros e alagamentos nas ruas. Dezenas de pessoas ficaram soterradas.
Ele tinha grande relação com os moradores da comunidade e não negou ajuda quando chamado para ajudar as vítimas. Segundo a irmã, era uma referência, inclusive por ter fundado há 23 anos a Associação Cultural Afro Ketu, que ensina capoeira, dança afro, percussão e outras modalidades para crianças, adolescentes e adultos em situação de vulnerabilidade.
Rafael, acompanhado da mãe e da irmã Bruna — Foto: Arquivo Pessoal
Bruna contou que após a morte não queria que o projeto continuasse. “Doeu muito […] mas eu agradeço a Eliza, que é a atual presidente e que não deixou o Afro Ketu morrer, é como um sobrinho meu porque foi um filho do meu irmão”.
“O que o meu irmão fazia era cuidar, zelar e ajudar o próximo. Meu irmão sempre foi o meu herói, mesmo sendo mais novo que eu. É gratificante ver que o legado do meu irmão não morreu. Foi um grande exemplo para muitas crianças”.
Hoje, além de levar o irmão no coração e na memória, Bruna carrega uma frase na pele em homenagem a Rafael. “Alguns heróis usam capa, o meu jogava capoeira”, diz a tatuagem feita três dias após o corpo ter sido encontrado.
Irmã fez tatuagem para homem que morreu como herói ao salvar pessoas de deslizamento de terra, em Guarujá, SP — Foto: Arquivo Pessoal
Além do Complexo Cultural, Esportivo e Comercial Mestre Rafael Rodrigues, no Morrinhos 2, o prefeito de Guarujá, Válter Suman (PSDB), assinou uma extensão da permissão de uso do local à Afro Ketu.
A atual presidente da associação, Elizabete Gonçalves da Silva, contou que essa é uma conquista para dar continuidade ao trabalho. ” Já tínhamos essa concessão e fomos prolongar por mais 5 anos para permanecer lá e continuar as atividades”.
Elizabete disse que Rafael foi uma pessoa única. “Grande conhecedor da militância, do movimento negro e de todas as causas. A gente não tem o que falar mal dele, era inteligente, lutava muito e uma pessoa justa. Acho que é o mínimo que a gente poderia oferecer para ele”.
Rafael e Elizabete eram amigos. Ele foi o fundador do Projeto Afro Ketu, em Guarujá, que hoje é presidido por ela — Foto: Arquivo Pessoal
Morro do Macaco, em Guarujá (SP), foi um dos mais atingidos por temporal em 2020 — Foto: Alexsander Ferraz/A Tribuna Jornal
A chuva forte que atingiu a Baixada Santista em março de 2020 deixou 45 pessoas mortas. Em Guarujá, foram 34 mortes registradas, enquanto em Santos foram oito e, em São Vicente, três vítimas fatais.
O temporal começou na noite de 2 de março e estendeu-se durante toda a madrugada e manhã do dia seguinte. Moradores registraram alagamentos, e ruas ficaram intransitáveis em toda a Baixada Santista. Passageiros de um ônibus mostraram o rápido aumento do nível da água no interior do veículo. Diversas linhas de ônibus e itinerários foram comprometidos pelo temporal.
Na época, houve quedas de barreira nas rodovias Anchieta, Cônego Domênico Rangoni, Rio-Santos e Guarujá-Bertioga, que fazem a ligação de cidades da Baixada Santista com outras regiões do Estado de São Paulo. As rodovias precisaram ser interditadas.
Deslizamento no Morro do Macaco, em Guarujá (SP) — Foto: Arquivo A Tribuna
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