São cerca de 790 km que se estendem do Parque Nacional Monte Roraima até Oriximiná, no Pará, com uma geografia que, segundo especialistas, favorece o uso do território brasileiro como passagem em uma eventual ação militar venezuelana – uma manobra, entretanto, considerada improvável por eles (leia mais abaixo).
Esses 790 km se estendem por 6 municípios de Roraima (5) e Pará (1), em que moram 141 mil brasileiros – 37 mil são indígenas, a maioria vive em 6 Terras Indígenas – a maior delas é a Raposa Serra do Sol, com 1,7 milhão de hectares e 25.077 habitantes dos povos Ingarikó, Macuxi, Patamona, Taurepang e Wapichana (clique aqui para ver todas).
Em geral, esses municípios têm territórios grandes e núcleos urbanos pequenos (veja as populações aqui). Os de Bonfim – onde fica o principal cruzamento por terra entre Brasil e Guiana , e também entre a Venezuela e a Guiana –, Normandia e Uiramutã (a cidade mais indígena do Brasil) ficam a poucos quilômetros do país vizinho. Já o de Oriximiná, no Pará, está a 400 km.
“Aqui está tudo tranquilo, não tem movimentação nenhuma. O que há é só a preocupação do povo com a possibilidade de se fechar a fronteira”, conta ao g1 Joner Chagas (Republicanos), prefeito de Bonfim, cidade de 13,9 mil habitantes por onde passa a principal ligação por terra entre Brasil e Guiana.
O sentimento dos indígenas que vivem na borda do país é outro.
“Nossa comunidade está há 800, 1 mil metros da fronteira”, conta Lázaro Wapichana, líder indígena da região do Pium, que fica em Bonfim. “A gente se sente muito inseguro [com um possível conflito] porque eles não vão respeitar os povos indígenas e nem ninguém, porque uma guerra é uma guerra”.
O Brasil possui 12 bases militares em Roraima – a maioria delas em Boa Vista, a cerca de 50 km da região de fronteira com Essequibo. Para ampliar a segurança no território brasileiro, Ministério da Defesa determinou o envio de 28 veículos blindados e um contingente de até 150 militares.
Saiba mais sobre a fronteira:
Quais são as cidades e qual é a população delas?
- Bonfim (RR) – 13.897 habitantes, 6.463 indígenas
- Caracaraí (RR) – 20.957 habitantes, 1.273 indígenas
- Caroebe (RR) – 10.656 habitantes, 810 indígenas
- Normandia (RR) – 13.669 habitantes, 12.144 indígenas
- Oriximiná (PA) – 68.294 habitantes, 3.805 indígenas
- Uiramutã (RR) – 13.751 habitantes, 13.283 indígenas
Quais são as terras indígenas existentes na região, e quais povos vivem nelas?
- Raposa Serra do Sol: 25.077 habitantes dos povos Ingarikó, Macuxi, Patamona, Taurepang e Wapichana;
- São Marcos: 9.033 (Macuxi, Taurepang e Wapichana);
- Manoa/Pium: 2.576 (Macuxi e Wapichana);
- Jacamim: 1.167 habitantes (Wapichana);
- Waiwái: 500 habitantes (Waiwai);
- Bom Jesus: 43 habitantes (Macuxi e Wapichana).
Monte Roraima, destino turístico na tríplice fronteira entre Brasil, Guiana e Venezuela — Foto: Divulgação/Embratur
O turismo está entre as atividades econômicas que movimentam a região de Bonfim e Pacaraima. Há o temor de que, em caso de um conflito armado, as fronteiras sejam fechadas.
Visitantes dos países vizinhos e de outros estados têm o Monte Roraima, no norte do estado brasileiro – com acesso pela Venezuela– como um dos principais atrativos. Há também, na fronteira com Essequibo, fazenda com lago natural e pontos de vendas de açaí (do lado brasileiro, em Bonfim), e de outros produtos naturais típicos da região, como a de Moco Moco, na Guiana.
Além da vinda de estrangeiros ao Brasil, brasileiros também visitam Essequibo. Um dos locais visados é Lethem, cidade na Guiana que possui cachoeiras bastante buscadas por brasileiros.
Assim como outras áreas de Roraima, a região próxima a Essequibo tem registros de garimpo ilegal.
Nessa área, o principal palco de exploração é a terra Indígena Raposa Serra do Sol, uma das maiores terras indígenas do país, segundo o Conselho Indígena de Roraima (CIR).
Monitoramento feito em julho deste ano identificou pontos de extração ilegal nas áreas de Água Fria, Igarapé do Trovão e Igarapé do Kai da TI Raposa Serra do Sol.
Presença das Forças Armadas Brasileiras
Há 12 unidades das Forças Armadas no estado de Roraima (veja no infográfico acima), segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública – 9 do Exército, 2 da Aeronáutica e 1 da Marinha.
O presidente Lula (PT) determinou que o Ministério da Defesa enviasse 28 veículos blindados (veja detalhes aqui) e um efetivo entre 130 e 150 militares para reforçar a fronteira – um esquadrão foi transformado em regimento de cavalaria para abrigar o reforço.
Modelos dos blindados que reforçarão a fronteira — Foto: Exército Brasileiro/Divulgação
Para Vitelio Brustolin, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, a chance de uma investida da Venezuela contra a Guina é praticamente nula. Ele avalia que uma ação militar representaria o fim da carreira política de Nicolás Maduro.
“O que a Venezuela pode fazer: invadir o território com o risco de ter uma guerra com o Brasil. O que Maduro vai fazer? Bombardear a Guiana? O que os Estados Unidos querem é uma união mundial para tirar o Maduro do poder”, analisa.
Na hipótese remota de a Venezuela decidir atacar, haveria duas possibilidades: uma incursão por ar e água, com ataques aéreos e tropas invadindo a Guiana por navios; ou, então, por terra. E é aqui que entra o Brasil.
A fronteira da Venezuela com a Guiana é formada por uma mata densa que impossibilita a passagem de veículos blindados e grandes tropas ao mesmo tempo. A alternativa seria por estradas e só no Brasil há uma ligação assim com a Guiana.
Segundo Vitério, o Brasil tem cerca de 5 mil militares na região de Roraima — somado o reforço prometido pelo governo federal.
“É suficiente [para evitar uma invasão], até porque seria temerário a Venezuela usar o território brasileiro de passagem”
O Ministério da Defesa foi procurado, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem.
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