G1 Santos

Jovem não-binário apela para a web após ‘cansar’ de dar explicações: ‘informação com fácil acesso’

today4 de março de 2023 6

Fundo
share close

“Faço isso para que todas as pessoas entendam com uma linguagem fácil e simples”. Esse é o lema de Vênuz Capel, de 23 anos, uma pessoa trans e não-binária, ou seja, que não se enxerga como pertencente a um gênero em específico e que cria conteúdo em suas redes sociais para explicar a própria vivência de pessoa trans. Vênus nasceu em São Vicente, no litoral de São Paulo, e atualmente atua criando conteúdo em seu projeto social, o Transceda, que presta apoio à comunidade LGBTQIA+.

Ao g1, Vênus relatou que desde que se descobriu passou pelo processo em que sempre precisava explicar para as pessoas de fora da sua “bolha” sobre o que é ser trans e não-binário. “Eu comecei a me cansar de ter que explicar sempre, todas as pessoas que eu encontrava meio que me pediam uma palestra sobre o que eu sou”, lembra.

Em 2018, Vênus decidiu criar uma página no Instagram, junto com sua parceira Raphaella, o qual vivem um relacionamento transcentrado, que consiste em duas pessoas trans ou travestis. O site foi criado para explicar as principais dúvidas da época sobre a vida de uma pessoa trans, com informações sobre a comunidade, as siglas que formam o LGBTQIA+, as diferença e a utilização do pronome neutro. “A partir do momento em que começamos a nos relacionar, conversamos sobre esse cansaço que tínhamos em ficarmos nos repetindo nas explicações”.



Mais tarde, o casal decidiu criar o projeto Transceda, que consiste em uma iniciativa sociocultural de apoio à comunidade LGBT+, voltado para o suporte às pessoas trans com eventos e palestras. “Ser uma pessoa não binária é um processo muito único. Eu encontrei a minha liberdade assim”. Com o sucesso do projeto, os seguidores da página começaram a se interessar pelo dia a dia de Vênus como pessoa trans e não-binária. “As pessoas não tinham esse conhecimento, então eu comecei a falar um pouco sobre isso. Mas também fiz pela vontade de trazer mais representatividade”, explica.

Para Vênus, poder transmitir essas informações via Internet é uma forma de fazer as pessoas entenderem a temática com uma linguagem fácil e simples, porém, sem que se coloque em um lugar de especialista no assunto. “No meu perfil, falo sobre isso de um jeito que chegue na ‘quebrada’, que é onde nós [Vênus e Rafaela] moramos”.

Vênus Capel nasceu em São Vicente (SP) é não-binário e explica a sua vivência trans através da Internet. — Foto: LEASI

Na mesma época em que a página começou, Vênus também passou a se entender como uma pessoa não-binária. Por ter começado a “transicionar” ainda bem jovem, Vênus acredita ter se adaptado de forma rápida e que o próprio tipo de expressão, por meio da Internet, faz parte da sua identidade. “Meus momentos de tristeza com relação a mim mesma vêm da falta de informação das pessoas. É um incômodo como a sociedade não está preparada para lidar com meu corpo, como as pessoas ainda não estão prontas para me entender”.

No dia a dia, Vênus afirma que, atualmente, não precisa se explicar diversas vezes sobre o que é e como se identifica, justamente porque vive em uma “bolha”. “Nesse grupo de pessoas há respeito, elas entendem o pronome neutro e os falam naturalmente”.

Porém, como trabalha com produção de conteúdo digital, e, apesar de viver com pessoas que entendem a situação, por muitas vezes é necessário Vênus saia dessa zona de conforto e encare a realidade em que as demais pessoas podem não ter o acesso à informação necessária. “Eu explico e sempre busco levar referências, indicar pessoas nas redes sociais para elas seguirem, indicar gente para estar no círculo delas”.

Segundo Vênus, tudo depende de quem fala e como essa pessoa se expressa. “Nós, pessoas trans, costumamos dizer que nós sentimos principalmente quando a pessoa está sendo preconceituosa por falta de informação ou porque realmente não se importa”. Mas, Vênus ressalta que não repete por muito tempo a explicação para a mesma pessoa já que, quando não há vontade de mudar, a situação pode acabar machucando. “O quanto você está realmente disposto a mudar o seu comportamento?”, ressalta.

Com formação em pedagogia e doutorado em Filosofia da Educação, Cin Falchi explica que a sigla LGBTQIA+ inclui uma variação muito grande de existências e “modos de existir”. No entanto, de acordo com Cin, a dificuldade ocorre quando as pessoas acham que podem definir como chamar alguém somente pelo aspecto que ela aparenta ser.

Para Falchi, a simples pergunta: “Como eu posso me referir a ti?”, diminuiria drasticamente os conflitos existentes que ocorrem quando se trata do uso de pronomes com alguém da comunidade LGBTQIA+. O pedagogo, porém, ressalta que a maior dificuldade é o respeito com as pessoas não-binárias. “O x da questão não está na neutralidade, mas sim na falta de inclusão”.

Cin explica que para algumas pessoas o grande conflito está na linguagem, já que por diversas vezes, nem para as pessoas que fazem parte do grupo LGBTQIA+ essa discussão sobre pronomes é algo acessível e fácil. “Temos uma variedade muito grande de pessoas que compõem essa sigla. Toda vêm de uma mesma base de linguagem escolar, que precisa dessa inclusão não-binária”.

Entretanto, Falchi ainda ressalta que também é necessário se colocar no lugar do outro e estra aberto para aprender a linguagem a que uma pessoa LGBTQIA+ gostaria que seja utilizada com ela. “Há tantas linguagens distintas que já existem no mundo. Devemos levar em consideração que podemos sim nos reorganizar a essa forma de se comunicar com as pessoas. É também sobre respeito e dignidade.”

VÍDEOS: Mais assistidos do g1 nos últimos 7 dias




Todos os créditos desta notícia pertecem a G1 Santos.

Por: G1

Esta notícia é de propriedade do autor (citado na fonte), publicada em caráter informativo. O artigo 46, inciso I, visando a propagação da informação, faculta a reprodução na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos.

Avalie

Post anterior

homem-e-executado-em-frente-a-barbearia-no-litoral-de-sp

G1 Santos

Homem é executado em frente à barbearia no litoral de SP

Um homem de 37 anos foi executado no meio da rua, no bairro Catiapoã, em São Vicente, no litoral de São Paulo. Segundo apurado pelo g1, ele foi alvejado por mais de 10 tiros por um criminoso que passou de carro pelo local. Uma mulher, de 40, que pedalava uma bicicleta na região foi atingida de raspão pelos disparos e socorrida à Unidade de Pronto Atendimento da Zona Noroeste de […]

today4 de março de 2023 22

Publicar comentários (0)

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado. Os campos obrigatórios estão marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.


0%